24 de agosto de 2025

O Diabo Mesquinho

 

Editora Kalinka

Quando comecei a ler esse livro, achei interessante, um humor quixotesco, com um personagem absurdo: um professor de um vilarejo russo que resolve que precisa casar para ser promovido a inspetor em sua carreira pública.

Ao longo da história, ele vai enlouquecendo, tendo alucinações, achando que está sendo perseguido - pela polícia, pelo gato, por pessoas escondidas atrás do papel de parede... é muito bizarro. As pessoas ao redor não se alarmam - ou melhor, consideram tudo um motivo para dar risada e provoca-lo mais. Lá pelo meio do livro, surge uma história paralela entre uma mulher adulta e um garoto que deve ter uns 13 anos, muito estranha e desconfortável também. Tudo parece ter um tom de humor, mas aí eu já não estava achando nada divertido.

Pode ser uma crítica a vida russa do começo do século XX, ou a estrutura de cargos do governo, ou às expectativas de carreira de um funcionário público, mas fiquei perdida, e só restou um ódio de todos os personagens - com exceção do Sacha, de quem tive dó.



17 de agosto de 2025

Teologia Pastoral

 

Editora Thomas Nelson

Martin Bucer publicou esse livro em 1538 - quase 500 anos atrás - e praticamente tudo o que ele diz aqui é bastante pertinente para os tempos atuais - com exceção, talvez, da discussão com a igreja católica romana que é bem característica do período da Reforma.

O autor realmente foca no que o subtítulo diz: sobre o verdadeiro cuidado das almas, e baseado em Ezequiel 34, define o serviço do pastor, como selecionar e formar pessoas para exercer esse serviço, e também classifica os tipos de ovelhas, e como podem ser cuidadas em cada caso. É lindo de se ver. 

Ele também fala do argumento dos pastores casarem: para alguém cuidar da vida deles enquanto eles se dedicam ao trabalho ministerial - e enquanto é um serviço por deveras nobre e respeitável, não menciona nada sobre mulheres também trabalharem para o serviço de Deus (parece que as freiras e outras mulheres de vocação ao serviço ministerial foram esquecidas nesse momento).

Recomendo fortemente. Está no kindle unlimited e no aplicativo Pilgrim.

16 de agosto de 2025

The Exception to the rule

 

Editora Amazon Original Stories

Ah, às vezes, só precisamos de uma história para descansar a cabeça, não é? Esse livro - quase um conto - da dupla Christina Lauren faz isso com maestria: quase toda em troca de e-mails, sem complicar muito (com direito a uns: ah, vá! no meio), e com o final feliz que queremos. 

Menção honrosa a um título que funciona bem desde o começo: "the exception to the rule" começa com o mocinha falando que garotas só escrevem com muitos pontos de exclamação - e ela é a exceção a regra. 

Recomendo. 


12 de agosto de 2025

James

 

Editora Todavia

James foi um estrondoso sucesso nos Estados Unidos, e muito merecido. Percival Everett pegou um personagem secundário do clássico Huckelberry Finn de Mark Twain e deu a ele uma "aventura" própria. Além de recontar a história, ele traz pontos muito originais sobre o uso da linguagem e é impressionante como ele faz isso, causando um desconforto e assombramento ao leitor ao mesmo tempo.

Também há uma discussão sobre colorimetria - sempre pertinente, e sempre relevante culturalmente.

Recomendo muito.


7 de agosto de 2025

A Geração Ansiosa

 

Editora Companhia das Letras

Logo no início do livro A Geração Ansiosa, dá para perceber que é um ótimo livro, de uma tema importantíssimo para as pessoas que estão criando filhos hoje (e diria para toda a sociedade, porque sim, se algo afeta toda uma geração, com certeza vai afetar como o mundo funciona).

Jonathan Haidt é um psicólogo social e fez uma pesquisa muito bem fundamentada para escrever esse livro (nota-se pelas dezenas de páginas de notas e bibliografia). Além de analisar a situação, ele propõe soluções práticas para lidar com a questão da infância hiperconectada. Há muitas dicas para quem é dos Estados Unidos, mas é possível aplica-las aqui também. Proibir celulares nas escolas é uma proposta desse livro, e espero que outras possam ser implementadas aqui.

Há recomendações simples para as famílias também, independente de governos ou instituições escolares, então sugiro não deixar para depois (mesmo se o seu filho tiver 3 anos e você ainda nem sonhar em dar um celular para ele ainda).


6 de agosto de 2025

O Milagre

 

Editora Venus

Emma Donoghue ficou muito famosa com seu livro "Quarto", que virou filme, e "O Milagre" não é tão impactante no mesmo nível, mas interessa ao trazer uma história ficcional sobre pessoas reais: garotas que jejuavam por motivos religiosos. É todo um fenômeno que eu não conhecia e traz pontos importantes sobre religião, parentalidade e cuidado médico. Vale a leitura.

4 de agosto de 2025

A Consciência de Zeno

 

Editora Nova Fronteira

"A Consciência de Zeno" começa com um psicanalista dizendo que resolveu publicar sim os textos que um de seus pacientes escreveu quando convidado a refletir sobre sua vida - lembrar do que aconteceu para "se curar". Curar-se do quê? Do hábito de fumar, o qual ele passou a vida toda sempre a ponto de parar, mas nunca parando.

Italo Svevo cria um personagem chato - o Zeno - mas muito interessante, porque ele mesmo sendo o narrador da sua vida, dá para perceber o quanto ele se engana (aparentemente) ao contar o que acontece, e o tanto que dá para presumir da realidade ou das pessoas ao seu redor.

A ideia é ser engraçado, eu suponho, mas dá raiva também de como pode ser tão besta um homem sem necessidade de trabalhar e sem muita inteligência (o próprio pai deixa um testamento dizendo que ele não pode administrar os próprios bens recebidos em herança).

É uma boa leitura e rendeu ótimas discussões no clube do livro desse mês.

Sem Despedidas

Editora Todavia

Este é o terceiro livro da Han Kang que eu leio e definitivamente o que eu mais gostei.

Já tinha gostado do título em inglês: "we do not part", algo como "nós não nos separamos" (eu adoro essas declarações impossíveis com verbos no presente, como "never let me go"). Na entrevista logo depois de ganhar o Nobel, ela diz que é um ótimo ponto de partida para sua obra, e fala de outras possíveis traduções para ele em inglês como "Eu não me despeço" ou "Despedidas impossíveis". Assim, é bom saber que o título em português, Sem Despedidas", significa que não há separação e não que não houve o "tchau", mas as pessoas se afastaram.

É muito sensível a descrição da conexão entre duas mulheres, a amizade, e como pode ser delicado e complexo esse relacionamento. Belíssimo.

A trajetória da personagem através do país, as descrições de paisagens, céu, mar, árvores, e neve - muita neve - são muito bonitas, é como se estivéssemos lá (de uma forma não óbvia).

Por fim, a descrição de um outro massacre na história da Coreia do Sul (além daquele de Atos Humanos) é algo que realmente me impressionou e me doeu.

Han Kang merece com toda certeza seu Nobel de Literatura, e agora é certo: vou ler tudo o que ela publicar.




 

27 de julho de 2025

Jantar Secreto

 

Editora Companhia das Letras

Eu gostei da história de Jantar Secreto, do Raphael Montes - impressiona, choca, faz pensar, entretém - mas não é um livro impressionantemente bom. Tem pontas da história de suspense que parecem soltas, não há uma preocupação em deixar tudo redondo - ou, talvez, por ser uma trama de dimensões ousadas - o autor resolveu deixar assim mesmo, pela impressão geral.

Dá para entender que pode ser um filme bom (e talvez lembrar de outros filmes de mistério / terror por aí), e acho muito legal que é um autor brasileiro nessa temática, em histórias contemporâneas, mas acho que a minha dose de violência explícita já deu.

26 de julho de 2025

Amanhã Tardará

 

Editora Planeta

No livro "Amanhã Tardará, de Pedro Jucá",  temos um narrador em primeira pessoa, Marcelo, falando em primeira pessoa numa linguagem muito artificial - um suplício em capítulos curtos. Dá para perceber que alguns trechos são mais formais e trechos menos, mas não dá para entender se isso está alinhado com a história ou não.

No goodreads, alguns leitores disseram que "o livro melhora", mas atenção, não é a forma de escrita, e sim acredito que o interesse na história "distrai" do formato. 

O livro me lembrou "tudo é rio", uma história forte e com cenas explícitas, que pode acabar ganhando o leitor pelo assombro - mas sem a linguagem poética de Carla Madeira, dificilmente vai fazer tanto sucesso assim. 

25 de julho de 2025

Duna

 

Editora Alelph

Duna é um livro tão interessante, que eu passei as últimas semanas (e espero continuar por um tempo) perguntando por aí: você já leu Duna? você já leu Duna? Só para poder assuntar sobre a história um pouco.

Por ser um livro de 1965, até que tem bastante gente que já leu ou conhece, é realmente um clássico da ficção científica e uma construção de mundo MUITO boa - história, sociedade, ecologia, ciência, espiritualidade. 

Ainda não assisti os filmes (nem o antigo, nem os mais recentes), mas vou chegar lá. 

O passo seguinte foi ver a lista de livros, e já são 22! Mas a maioria não foi escrita pelo autor original, Frank Hebert, que escreveu seis. Ainda não sei se vou ler todos - há opiniões que a qualidade dos livros vai decaindo ao longo do tempo... 

O que vocês acham???


24 de julho de 2025

O Perigo de estar lúcida

 

Editora Todavia


No segundo livro que eu leio da Rosa Montero, posso já dizer que eu sou fã da escritora? Gosto da maneira que ela mistura não ficção, ensaio, crônica, ficção e vai conversando com a gente sobre diversos assuntos. 

"O perigo de estar lúcida" é de 2022, e de maneira bem coerente com o mundo pós pandemia, discute loucura, lucidez, saúde mental e as relações humanas, claro.

Adorei.

21 de julho de 2025

Hora Zero

Editora Nova Fronteira

Recentemente, a BBC fez uma série sobre esse livro da Agatha Christie, Hora Zero (Towards Zero), que não tem Miss Marple nem Hercule Poirot, mas tem o Superintendente Battle usando o que aprendeu com o nosso amado detetive belga.

O plot twist supreende, e a leitura flui - foi o livro que eu escolhi para ler em um dia de férias. Sucesso!

17 de julho de 2025

Por que amamos a igreja

 

Editora Cultura Cristã

Este livro foi publicado há 16 anos e, senhores, como o mundo já mudou nesse período! Temos agora smartphones, pós pandemia e todo um mundo virtual para viver. Além disso, o livro é direcionado muito especificamente para um movimento nos Estados Unidos de pessoas que querem ser cristãos sem participar de uma igreja - há sempre referências a livros publicados aos quais eles refutam os argumentos (por exemplo, A Cabana).

Os capítulos são alternados entre o pastor Kevin DeYoung e o líder de louvor (pelo que eu entendi) Ted Kluck, sendo que a proposta do primeiro é ser mais técnico e do segundo é trazer mais "cultura" e "humor", mas que me pareceu muito mais com deboche. 

Há alguns pontos interessantes, alguns argumentos bem fundamentados na Bíblia sobre ser igreja / fazer parte de uma igreja local, mas muito do livro é datado e específico demais para eu recomendar para esse momento (2025) aqui no Brasil. 

Queria muito ler um livro sobre igreja atual escrito por brasileiros. Alguém indica um?







8 de julho de 2025

Sobrevidas

 

Editora Companhia das Letras

Abdulrazak Gurnah ganhou o prêmio Nobel em 2021, e esse foi o último livro que ele lançou antes de ser premiado. Em Sobrevidas, estamos no começo do século XX, na costa oeste da África, na interação entre tantos povos: os nativos, indianos, alemães e ingleses, e religiões diferentes também: local, muçulmana, evangélica. Lendo a história, ficcional, entre citações de eventos reais (como a I Guerra Mundial), tudo o que eu pensava era: como eu desconheço tanto da África!

Demora um pouco para nos envolvermos com os personagens, e o final é tão apressado que parece que estava acabando o papel do mundo, mas o livro é ótimo para abrir uma cortina sobre eventos recentes do mundo.  


2 de julho de 2025

Depois do Trovão

 

Editora Companhia das Letras

Logo no começo de Depois do Trovão, eu me peguei emocionada lembrando de Grande Sertão Veredas, um livro que eu amo. Era as reminiscências ao contar a história, um narrador mais velho, a linguagem, o sertão... 

Mas o livro de Micheliny Versunschk traz outras camadas: o foco da narrativa é indígena, assim como seus outros livros. Estamos no século XVII, no meio das guerras entre os colonizadores e a população indígena nativa, algo que não se vê nas aulas de história do Brasil. A linguagem também oscila, variando com o que está sendo narrado: às vezes temos uma proximidade maior com o português padrão (há até uma carta em escrita formal) e às vezes temos tantas palavras de idiomas nativos, que fica um pouco confuso (mas, como é dito no final do livro, é possível achar o significado das palavras na internet, e por isso que não há notas - e temos aí outra semelhança com o livro de Guimarães Rosa: o melhor é se entregar a história e ao estranhamento e a releitura, até ao encantamento).

A capa do livro é linda e totalmente pertinente: estamos sim falando da identidade do nosso país.

Agradeço a editora por me disponibilizar esse livro pelo NetGalley.

1 de julho de 2025

A Mulher Enjaulada

 

Editora Record

Aconteceu, gente.

Venho aqui comunicar a todos que achei uma série melhor que o livro. No caso, a série Dept. Q da Netflix, que se baseia no livro A mulher enjaulada do autor dinamarquês Jussi Adler-Olsen.

Eu assisti primeiro a série, e gostei tanto dos personagens, principalmente, que acabei querendo mais.  Quando eu vi que tinham 10 - DEZ - livros na série, queria ler todos. Mas aproveitei que o primeiro, em português, estava no kindle unlimited, baixei e comecei a ler (só tem os dois primeiros traduzidos, pelo que eu vi). 

Só que, como sempre, tem diferenças entre o livro e a série, e TODAS as diferenças melhoraram a trama do livro. Há mais personagens femininos e eles não são descritos apenas pela sua beleza ou utilidade para o personagem principal (que é mais chato no livro), o personagem sírio é menos caricato e traz uma outra camada de mistério para a história, e até a justificativa do crime é melhor. 

Então é isso, assistam a série, e torçam comigo por uma segunda temporada!


29 de junho de 2025

A ordem do Ipê Branco

 

Publicação Diogo Carneiro

A proposta desse livro de Digo Carneiro é escrever uma aventura épica em ecossistema brasileiro, e ele consegue ter um produto ótimo: A ordem do Ipê-Branco é o primeiro volume das tais Crônicas de Pantaikan.

Na edição de capa dura que eu li, as ilustrações são lindíssimas - e é o maior trunfo do livro. Os personagens da fauna brasileiras são interessantíssimos - temos uma capivara antes de capivara virar esse animal famoso. Mas a narração tropeça um pouco, e poderia ser melhor editada, sendo confusa em algumas partes.

23 de junho de 2025

The Wedding People

 

Editora Henry Holt and Co.

A premissa do livro é interessante: uma pessoa resolve se suicidar depois de curtir os seus últimos momentos num hotel maravilhoso, mas a noiva que vai ter seu casamento ali nos próximos dias pede que ela mude de ideia para não estragar a semana perfeita que ela planejou - e que não envolvia alguém morrendo em um dos quartos. A personagem principal então resolve aguentar mais uns dias (que envolvem ficar no quarto de graça, já que ela mesma só tinha dinheiro para uma noite). Aí que a história vai tomando um rumo cada vez mais bizarro, e encaminha-se para um romance padrão (previsível sobre quem vai ficar com quem, e todos felizes no final).

O que cansa, realmente, é o tanto que o narrador explica o que os personagens estão sentido, como se fosse uma contínua sessão de terapia. Dá para entender o apelo, e o que é discutido muitas vezes é muito pertinente para as situações dos personagens, mas, mesmo assim, fica tudo parecendo forçado.


17 de junho de 2025

Se eu fechar os olhos agora

 

Editora Record

Ao contrário do primeiro livro que eu li do Edney Silvestre, A felicidade é fácil, esse eu não gostei tanto. Até fui ver que eu achei umas partes cansativas - e esse livro "se eu fechar os olhos agora" é quase todo cansativo. Eu geralmente gosto de personagens idosos, mas o idoso da trama e os dois garotos são muito autoconscientes, esclarecidos até demais, numa época que não condiz com o discurso. As partes violentas são muito gráficas - principalmente sexuais, então é um sofrimento grande.

Além disso, o prefácio é de algum diretor da globo que adaptou o livro para uma minissérie (que eu não assisti), e logo de cara ele já fala das alterações que fez na história - então realmente parece que o livro está aí publicado para quem primeiro viu na TV (e, olha, pela quantidade de diálogo, parece que o autor já estava focando essa adaptação).

Realmente, não sei como ganhou um Jabuti.

10 de junho de 2025

Daisy Jones & The Six

 

Editora Paralela

Cheguei um pouco tarde para essa festa (o livro é de 2019, a série é de 2023), mas estava precisando de uma leitura mais leve e o livro Daisy Jones & The Six caiu muito bem. Não que a história seja totalmente leve em si - há drogas e rock n'roll - mas Taylor Jenkins Reid escreve de maneira fluida, e entrega um ótimo romance de entretenimento.

A estrutura do livro também é muito interessante: a narrativa é só feita através de trechos de entrevistas das pessoas que fizeram parte da banda ou que conviveram com ela, como se fosse uma história real.

A descrição dos personagens e de algumas cenas é tão boa, que chegou a decepcionar quando eu busquei na internet como foram feitas as imagens da minissérie - PUXA! a capa do disco parecia perfeita mesmo - sem o rosto de Daisy e Billy - e a foto da piscina também. 

A Daisy talvez exista por aí, a Camilla também, e o Billy definitivamente não - alguém sabe de onde estão saindo esses caras de livros de romance?

E sim, eu recomendo para férias, distrair e entreter.


6 de junho de 2025

A Polícia da Memória

 

Editora Companhia das Letras

Yoko Ogawa escreveu uma distopia delicada sobre memória e identidade, um livro muito bonito, para pensar sobre.

Adultos

 

Editora Bertrand

Eu adoro os livros da Marian Keyes - mas esse realmente deixou bastante a desejar... Não simpatizei com nenhum personagem, e o livro foi se arrastando por semanas até eu finalmente encarar as últimas 2 horas que faltavam (num total de 600 páginas)

Os temas sérios da vez são bulimia, gestão de negócios, imigração na Europa, pobreza menstrual e fidelidade conjugal. E sim, muitos temas sérios e muitos personagens, e a parte do humor foi muito pouca. 

E, para coroar, aparece um brasileiro filho de banqueiros chamado Tristão!


3 de junho de 2025

O Grande Mentecapto

 

Editora Record

Mentecapto é definitivamente uma palavra que não se usa mais, assim como todo o mundo d'O Grande Mentecapto de Fernando Sabino. Publicado em 1979, temos um louco "de carteirinha" passeando pelo estado de Minas Gerais numa viagem nonsense digna de D. Quixote. 

O livro tem aquele humor pastelão, inocente e violento, que é engraçado, mas me deu um nervoso também (tadinho do Geraldo Viramundo!)

Certamente faria sucesso com adolescentes, e boas discussões sobre humor, bullying, respeito e preconceito.





Caderno de Ossos

 

Editora Companhia das Letras


O livro de Julia Codo, Caderno de Ossos, pode ser sobre a ditadura no Brasil, sobre a busca dos desaparecidos da ditadura, sobre o fim de um casamento, sobre crises de família, sobre envelhecimento, sobre luto, mas é muito sobre memória e lembrança. 

O que sobra de alguém?

Seus ossos, seus registros num caderno, suas fotos, suas histórias contadas por outras pessoas. 

O que vai sobrar de nós?

Nessa narrativa reflexiva, acompanhamos um presente muito recente e um passado muito doloroso, tudo muito realista - parece mas não é auto ficção - sem cair em clichês ou pieguice, sem ser muito violento ou cru, mas deixando aquele desconforto de temas difíceis.

Literatura brasileira contemporânea de qualidade.

Agradeço a editora pela cópia pré-lançamento.

31 de maio de 2025

Um rio preso nas mãos

 

Editora Kapulana

"Um rio preso nas mãos" é um título claramente poético, e o livro todo é assim - tanto que estranhei muito a classificação de "crônicas" para os textos reunidos. Ana Paula Tavares é de Angola, então o nosso idioma é o mesmo, português, mas o vocabulário é bem diferente (e o glossário no final não está indexado ao longo do texto), e tanto na cultura é diferente, que ficou difícil acompanhar.



28 de maio de 2025

Toda mulher trabalha

 

Editora Fiel

Em algumas esferas cristãs, há todo um debate entre mulher que trabalha e mulher que não trabalha, ou que se dedica a família em tempo integral, mas Naná Castillo e Cláudia Iotti trazem "Sabedoria aplicada aos dilemas modernos", que é o subtítulo da declaração de verdade que é: "Toda mulher trabalha".

Toda mulher trabalha, hoje ou antigamente, e o que importa é se esse trabalho é feito em obediência a Deus, para servir a Ele e a outras pessoas. Essa é a tese principal do livro, e com certeza o capítulo em que isso é discutido é o melhor, até porque os princípios apresentados ali são aplicáveis para bastante coisa na nossa vida, não só a decisão de trabalhar ou não.

Depois de ler tanto sobre esse assunto (com viés cristão ou não), eu fico imaginando que realmente espantoso seria um livro como "Todo homem se dedica a família", "Todo homem cuida", "Todo homem é um ser humano integral e funcional". 



21 de maio de 2025

Apologética da Mamãe Ursa

 

Editora Pilgrim

Este livro é um conjunto de textos escritos por amigas (voluntárias?) do ministério Apologética da Mamãe Ursa, nos Estados Unidos, a respeito de movimentos ou ideologias que atacam a fé cristã.

Eu até achei o título interessante "Empoderando seus filhos para enfrentarem as mentiras da nossa cultura", mas a premissa principal da obra é que as ideologias podem fazer os filhos perderem a fé, saírem da igreja ou perderem a salvação. Aí que isso vai totalmente de encontro com a minha doutrina reformada, ou seja, a salvação vem pela graça, e é dom de Deus, não há nada que possamos fazer - como mães, como filhos, estudando, deixando de estudar - para receber a salvação. 

Então é para jogar o livro fora? 

Ainda não - porque eu realmente o li inteiro.

A ideia é boa: reconhecer que há nas ideologias não cristãs pontos válidos e pertinentes para a nossa vida (o que chamamos de graça comum), mas entender também o que não é condizente com a nossa fé. Mas as autoras fazem isso de uma maneira meio zombeteira e superficial,  para não tornar o livro muito denso (afinal as mães são muito ocupadas para estudar algo, ao que parece). Então eu fiquei bem incomodada com o tom do livro também.

Não gostei do tom, não gostei da premissa, mas, logo no final, a parte do feminismo me surpreendeu, então deu para perceber que essa história de várias pessoas escreverem o mesmo livro o deixa realmente heterogêneo demais. 



18 de maio de 2025

Uma Livraria com Aroma de Canela

 

Editora Intrínseca


Laurie Gilmore entrega um livro de romance de entretenimento romântico padrão - todo mundo lindo, problemas bem encaminhados para soluções, dificuldades de comunicação que tornam a paixão mais forte.

Promete uma "grande aventura", mas não entrega: é só um passeio de barco e enfrentar um pequeno trauma (medo de altura), sem maiores consequências.

Tem essa capa com vibe de outono - que, pelo que eu entendi do Goodreads, é quase um sub-gênero - mas a história se passa no verão de algum lugar meio frio - com mosquitos. 

Para passar o tempo.



17 de maio de 2025

No fundo do poço

 

Editora Dublinense

A personagem principal do livro mora literalmente "no fundo do poço", ou é assim que chama o condomínio que ela vive com seus 5 filhos, num aluguel social em Londres por volta de 1970. Em capítulos curtos, episódios isolados vão construindo a vida dessa personagem e dos outros ao seu redor, com uma humanidade tamanha, que cria uma conexão conosco, os leitores, mesmo estando tão longe - cultural, temporal e geograficamente.

Buchi Emecheta é uma autora como Guimarães Rosa, através do local e específico traz o que é de mais humano em nós.

14 de maio de 2025

Ei, Deus, está aí? Sou eu, a Margaret

 

Editora Rocco

O livro de Judy Blume acompanha uma pré-adolescente, a Margaret, numa casa nova, escola nova e falando sobre assuntos novos: sutiã, menstruação e garotos. A pitada extra foi coloca-la como filha de um judeu e uma cristã, que resolvem "não ter religião" e deixa-la escolher quando adulta. Com 11 para 12 anos, ela decide fazer sua própria pesquisa sobre diferentes religiões, enquanto tem conversas com Deus quase diárias...

O engraçado mesmo é esse livro de 1970 que poderia ser usado para muitas conversas entre pais e filhos estar nas listas de livros "contestados" dos Estados Unidos...

10 de maio de 2025

Corpos Secos: Um romance

 

Editora Alfaguara


Não gosto muito de livros de terror, e não assisto filmes de terror NUNCA - realmente acho desconfortável sentir medo, mas resolvi dar uma chance para Corpos Secos, afinal, um livro de zumbis brasileiros poderia ser realmente bom, a ponto de ganhar prêmio?

E sim, pode ser sim. 

Os autores construíram uma história verossímil, não só pela origem toxicológica da pandemia, mas pelo que acontece com os personagens - as pessoas com medo, as pessoas fugindo, as pessoas negando, as pessoas criando alternativas, as pessoas se aproveitando da situação. Há de tudo, e tudo parece assustadoramente possível. 

Daria um ótimo filme também, e tenho certeza que faria sucesso em qualquer lugar do mundo.

8 de maio de 2025

A Consulta

 

Editora Fósforo

Lá pelas tantas nesse livro, A Consulta, de Katharina Volckmer, eu comecei a pensar: não gosto do narrador personagem ou não gosto do livro? E, se chegamos a esse ponto, senhoras e senhores, é porque o livro é bom - não importa quão incômodo ele seja (menos de 100 páginas, e eu resolvi lê-lo aos pouquinhos).

Porque é realmente incômodo, então não vou sair por aí recomendando para todo mundo, ou para qualquer um, ou para ninguém. 

4 de maio de 2025

O parque das irmãs magníficas

 

Editora Tusquets

Um livro triste, tristíssimo.

3 de maio de 2025

O Caderno de um ausente

 

Editora Alfaguara

João Anzanello Carrascoza é o autor desse livro que o narrador já se coloca na ausência: porque é um privilégio de pai já olhar para a criança pensando em não estar e isso não ser automaticamente condenado. O narrador, cheio de lirismo e imagens poéticas, sofre por ser mais velho e, por isso, mais perto da morte, quando sua filha nasce. Não é uma ausência planejada (como do primeiro filho, cuja mãe ele traiu e se divorciou e não está mais presente), mas, mesmo assim é a ausência de uma pessoa de 50 anos que pode viver até os 80, mas já avisa que não estará.

Olha, o livro tem passagens bonitas e é meloso de ser um risco para diabéticos, bem escrito, mas não gostei desse narrador, não gosto dessa paternidade que já se desculpa antes mesmo de ir embora, e acha tudo lindo maravilhoso de longe. (Não parece que é isso que ocorre, pela sinopse dos outros 2 livros da Trilogia do Adeus, mas realmente ainda não sei se vou dar uma chance para eles).

2 de maio de 2025

Uma família feliz

 

Editora Companhia das Letras

No último mês, esse é o terceiro livro que eu leio que fala de família: tivemos a família de margarina de O que é uma família?, uma história real de uma família disfuncional de A Menina da montanha, e este ficcional, Uma família feliz.

Raphael Montes escreve histórias de mistério e terror, e este não é diferente. Aliás, é diferente pois veio depois do filme de mesmo nome, que foi lançado em 2024, e parece mesmo que tem algumas pontas soltas, ou, na verdade, pontos mal explicados mesmo, do que foi feito na pressa (apesar das 350 páginas).

Mas o que eu achei interessante, nesse meu período particular de leitura, é pensar sobre o que é ser uma família feliz atualmente - o que mostra nas redes sociais, o que aparece pelo whatsapp, o convívio em escolas e condomínios, é como tudo isso é um recorte da realidade - embora também real - mesmo se você não fizer parte de um thriller psicológico como esse livro.


27 de abril de 2025

A menina da montanha

 

Editora Rocco

Foi muito interessante ler as memórias de Tara Westover - "A Menina da Montanha", na mesma semana que eu li "O que é uma família?". Há paralelos óbvios: viver numa área rural, ter muitos filhos, a fé cristã (na verdade, a igreja mórmon no caso da família de Tara Westover - o que eu considero heresia), os limites claros entre quem é "família" e os de fora, e o que deve ser feito para se preservar, mas também o que pode ser feito para "evangelizar" os de fora.

Mas enquanto um livro é o tradicional comercial de margarina, o outro é praticamente um livro de terror - violência, abuso psicológico, trabalho infantil, doenças mentais não diagnosticadas e não tratadas.

Em certos momentos, fiquei chocada pelos paralelos com eventos mundiais muito recentes como a virada do ano 2000 e o ataque às torres gêmeas, pois às vezes realmente parecia algo descolado da realidade. Há também a fé irracional em óleos medicinais, um fenômeno que chegou ao Brasil e tomou a comunidade evangélica também (mas não na escala da família Westover).

Eu acredito que a pergunta O que é uma família? é extremamente pertinente para a atualidade, e sei que há respostas cada vez mais diferentes, mas é impossível não concluir que isso também depende da vivência que cada um teve.

Afinal, todas as famílias felizes se parecem, mas as famílias infelizes são infelizes cada uma a seu modo (citação que eu não verifiquei a acurácia - Anna Karenina, Leon Tolstói).

26 de abril de 2025

Latim em pó

 

Editora Companhia das Letras

Latim em pó é um livro delicioso de ler do Caetano W. Galindo - um passeio (mesmo) pela formação do nosso português. Nosso português mesmo, porque atravessamos o Atlântico e chegamos aqui nessa mistura - e, vou falar, acabei a leitura com muito mais orgulho do que falamos e escrevemos por aqui.

É muito interessante ver um livro assim de divulgação científica desse campo, e já vi que saiu um livro dele sobre etimologia que já entrou na minha lista a adquirir e a ler.



22 de abril de 2025

Leme

 

Editora Todavia

Madalena Sá Fernandes, em capítulos curtos, nos conta suas lembranças de infância, principalmente da relação abusiva de um homem com sua mãe e com ela mesma - era abuso físico e emocional, sofrido, longo, contemporâneo.

Passei metade do livro pensando: "por que elas não vão embora?????" ao mesmo tempo entendendo o que prendia a mãe, a dependência emocional, a insegurança - mesmo que a autora não tente explicar a mãe, mas sim mostrar o seu amadurecimento ao longo dos anos em que morou com esse canalha.

É um livro muito bonito - e essa edição disponível no Biblion é a de Portugal, com suas pequenas diferenças que deixam o texto levemente não familiar, causando também esse desconforto e um tanto de encantamento. 

20 de abril de 2025

O que é uma família?

 

Editora Monergismo

Ao ler o começo do livro "O que é uma família?" da Edith Schaeffer, comecei a me sentir num manual para esposas se tornarem dignas da trend #tradwife. É algo bem incômodo para mim, principalmente ao considerar que o livro foi escrito 50 anos atrás por alguém que vivia no bucólico interior da Suiça - o que é essa idealização do passado, gente? Cadê o equilíbrio?

 Aí começou um exercício de separar o que é bom e o que não serve para mim - há muito da experiência de uma mãe de 4 crianças, avó de muitas outras, fundadora do L'Abri que é um ministério de hospitalidade e estudo de teologia que eu admiro demais (já fui aqui no Brasil!).

É um livro inspirador que ajuda a refletir sobre o que é importante numa família, mesmo que eu não concorde com todos os métodos dela (assim como não acho que participar do L'Abri é para todo perfil de pessoas). 

O livro está baseado em princípios cristãos, e há citações de versículos - mas em certo momento coloca o "morar numa fazenda e ser quase autossustentável" como ideal - sendo que estamos caminhando para viver com Deus numa cidade (ver Apocalipse) e não voltar para o Jardim do Éden... Cadê o equilíbrio?

Edith Schaeffer trouxe o melhor da experiência e sabedoria dela para esse livro, e é bom nos aproximarmos dele também com a nossa experiência e sabedoria.

19 de abril de 2025

10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho

 

Editora Harper Collins

Neste livro de Elif Shafak, acompanhamos os últimos 10 minutos e 38 segundos da vida de Leila Tequila, uma mulher em Istambul - lembrando de vários eventos de sua vida, e apresentando seus 5 amigos. Na metade seguinte do livro, os amigos lideram a narrativa nos desdobramentos após a descoberta da morte dela.

Rico em detalhes - cores, aromas, sensações - este mundo estranho nos é apresentado, um retrato contemporâneo da Turquia, e também sobre as amizades que são feitas pelo caminho. Tem umas partes bem pesadas - tive até que ler outro livro mais leve no meio - mas é muito bom.


13 de abril de 2025

Teto para dois

 

Editora Intrínseca

Nada como um livro de chick lit para uma leitura leve - embora esse "Teto para dois" tenha um relacionamento abusivo (da personagem principal com o ex-namorado) - eu li praticamente em 24h, o típico livro com capítulos curtos e leitura fluida super difícil de parar de ler.

Eu fiquei com vontade de ler outros livros da Beth O'Leary, bobo, mas bem construído e você não fica com vontade de matar o autor enrolando a história, mas também não fica insatisfeito de ser um livro muito curto. Entrega o que promete!




11 de abril de 2025

A Construção da Feminilidade Bíblica

 

Editora Thomas Nelson 

O livro de Beth Allison Barr fala a que veio no subtítulo: "como a submissão das mulheres se tornou a verdade do Evangelho", e é um dos livros mais esclarecedores que eu li nos últimos anos sobre o tema. 

A autora é historiadora (com mestrado e doutorado) em história medieval, mas também é cristã, e foi construindo sua caminhada alimentando esses "dois lados", o que sabemos por todos os momentos em que ela é vulnerável e se coloca nesse livro. 

Assim, vamos vendo como o papel da mulher em relação a igreja cristã mudou ao longo dos séculos, considerando tanto  os fatores internos como externos a religião, e como o que conhecemos no contexto reformado de igreja ocidental hoje é muito mais recente e não algo normal aos fiéis desde a época de Cristo.

Numa mistura de experiência pessoal, pesquisa histórica e teologia, o livro poderia ser um pouco mais claro nos pontos que faz, mas chegamos ao final sabendo que há algo estranho sim nessa construção da feminilidade bíblica e que precisamos de respostas melhores sobre alguns textos bíblicos... Meu estudo sobre esse assunto vai continuar.


9 de abril de 2025

Feliz Ano Novo

 

Editora Companhia das Letras

O livro "Feliz Ano Novo" de Rubem Fonseca foi censurado logo após seu lançamento, na época da ditadura militar - e não por ser contra o governo, mas por conta da moral e dos bons costumes. A maior parte dos contos inclui homens assassinando mulheres por diversos motivos, inclusive hobby e loucura. Mesmo mais de 40 anos depois, não parece longe do que sai como notícias de feminicídio no Brasil. 

São histórias chocantes e cruas, incômodas, e infelizmente muito perto da realidade.

8 de abril de 2025

O Castelo Branco

 

Editora Companhia das Letras

Eu não gostei tanto do livro "Neve" de Orhan Pamuk, mas gostei muito de "O castelo branco", um livro mais curto e ágil, com uma trama mais resolvida. Nessa história que se passa no século XVI, um veneziano é escravizado por turcos e torna-se servo de Hoja, um estudioso que, de maneira muito curiosa, é muito parecido com ele. 

Tem-se o choque entre as diferentes culturas - oriental e ocidental - e o estranhamento entre os dois vai nos levando junto para esse estranhamento de cultura separada por tantos séculos. Há uma pandemia! E agora que passamos por uma, fico chocada como é um evento tão comum ao longo dos séculos para a humanidade.

Esse livro foi tema do clube do livro da livaria da Travessa em Alphaville e foi muito boa a discussão também. Recomendo!


6 de abril de 2025

As coisas que perdemos no fogo

 

Editora Intrínseca

"As coisas que perdemos no fogo" não é um título maravilhoso?

Mariana Enriquez escreve contos de terror - algo de sobrenatural, algo de violência urbana, um retrato peculiar e não turístico da Argentina moderna.

São histórias interessantes, mas não tão horripilantes assim... O pior momento está relacionado a uma aflição imensa que eu tenho de unhas, hahahaha. Então fica aí esse alerta de gatilho.



5 de abril de 2025

A sala de espera da Europa

 

Editora Conrad

"A Sala de espera da Europa" é uma mistura de jornalismo e quadrinhos: Aiméé de Jongh foi conhecer os assentamentos de refugiados na Europa e contou o que viu e as histórias que ouviu em ilustrações.

É impossível não se impressionar com o que aconteceu - e continua acontecendo - esse fenômeno humano que se arrisca ao desconhecido, ao proibido, motivado pelo medo e pela esperança. 



3 de abril de 2025

Crônica de uma morte anunciada

 

Editora Record

"Crônica de uma morte anunciada" do Gabriel García Márquez é um livro curto, que cumpre o que diz: conta a história da morte de um homem de um vilarejo, a qual, particularmente, foi anunciada aos brados pelos assassinos. O narrador é um amigo do morto que investiga e relata fatos que levaram até a morte e o que aconteceu com os envolvidos anos depois. 

Eu me impressionei com a descrição precisa das cenas, parecia que eu estava assistindo um filme. Fazia um bom tempo que eu não lia nada desse autor que era o favorito da minha mãe (e por ter muitos livros dele em casa, eu li muitos na adolescência). Não há muito de realismo fantástico, fora alguns pequenos detalhes, mas dá para entender porque ele ganhou o Nobel, é um primor em poucas páginas.

No clube do livro, a discussão foi boa também: os personagens são complexos, e cada um pode trazer sua interpretação para as atitudes deles, principalmente da noiva. Vale muito a leitura!

18 de março de 2025

Quando a alegria não vem pela manhã

 

Editora Ultimato

Ricardo Barbosa de Sousa, pastor, escreveu esse livro depois da morte do seu filho devido a um câncer agressivo. Apesar de muita oração e fé, ele não recebeu a resposta desejada - a cura - e após passar pelo luto mais intenso, escreveu esse livro sobre as parábolas de Jesus sobre oração, dando uma outra dimensão para elas.

É um livro que serve de consolo e também mostra um caminho de esperança e amor com Jesus, não importa o que aconteça. Recomendo fortemente para quem duvida ou se sente inseguro com relação às orações, em qualquer fase da vida.

13 de março de 2025

Yellowface

 

Editora William Morrow

Esse livro faz parte da nova safra de literatura com perspectiva asiática na américa, que é muito interessante - diferente da perspectiva dos negros, mas também marcada pela história e por uma grande diferença cultural e um preconceito latente.

Assim, o título do livro já remete ao "blackface", brancos que pintavam o rosto de preto para apresentações de zombaria. No caso de "Yellowface", temos uma mulher que rouba o manuscrito da amiga que morre, publica, fica famosa, e aí começa a dar a entender que é de descendência chinesa, a fim de corroborar mais a autoria do livro que trata de um evento específico relacionado ao país.

A história de R.F. Kuang é direta na discussão sobre "lugar de fala" que acometeu alguns círculos literários. Eu não tenho dúvidas que alguém que cresceu numa cultura tem mais informações e vivência sobre ela, para poder escrever com mais densidade uma história que se passa na mesma cultura - e isso vale para características como ser mulher, ser brasileira, ser cristã, etc. 

No entanto, literatura é ficção: importa bastante a imaginação do escritor ou escritora, sua habilidade de escrita, e sua pesquisa sobre o assunto. Assim, é totalmente válido um escritor fazer personagens de outro gênero, de outra cultura, de outra posição social, ou mesmo de outra época (passado ou futuro). (Por favor, não confundam o escritor com o narrador!)

O problema do livro é justamente a personagem - levada por seus editores - tentar criar uma identidade que não é real. 

Eu gostei muito da leitura, mas achei que, no final, o livro se perde, então não é 5 estrelas, mas merece o sucesso.