29 de janeiro de 2017

Estação das Chuvas

Editora Língua Geral Livros  - Capa Rico Lins
José Eduardo Agualusa é um autor angolano de renome internacional - um dos seus livros traduzidos foi indicado ao Man Booker Prize International ano passado. Eu já tinha ouvido falar sobre ele antes, e por isso comprei "Estação das Chuvas" num sebo ano passado, sem nem ver sinopse nem nada. O livro é sobre uma escritora angolana, Lídia do Carmo Ferreira - sua história e suas opiniões, dadas em entrevista ao narrador. Mas mais do que isso é um panorama da história da Angola no século XX, principalmente os movimentos políticos de independência e lutas pelo poder.

No entanto, a história é não linear, e são capítulos curtos que vão trazendo um episódio ou outro da Lídia, além de fatos e pessoas da história do país, fazendo uma colcha de retalhos. Para mim, que não tenho noção nenhuma da história angolana, não tenho as referências das pessoas de lá, realmente me perdi no livro. 

Achei tão diferente de Meio Sol Amarelo que através dos personagens ficcionais nos aproxima do conflito - aqui, há tantas siglas e lutas e mudanças de lado, que foi depois de procurar informações sobre o livro que eu descobri que ele é sobre a escritora - que realmente existiu - e não sobre os conflitos do país.

Outro agravante é a quantidade imensa de palavras locais, algumas notas - outras não, e mesmo quando "traduzidas", a falta de contexto prejudica o entendimento. Talvez uma edição com mais notas e comentários seja mais fácil de ler e compreender do que essa, que dificultou até apreciar o autor.

28 de janeiro de 2017

Enclausurado

Editora Companhia das Letras - Capa Cláudia Espínola de Carvalho

Nós já conhecemos narradores mortos - mas certamente Enclausurado é o primeiro livro de projeção internacional em que o narrador é um feto. Isso mesmo. Uma criança, antes de nascer. Inteligentíssima. Transtornada por saber que sua mãe, a quem já ama, claro, está planejando assassinar seu pai, junto com o amante.

Ian McEwan escreve uma obra incrível - incrível, literal e figurativamente - em torno de um tema bem banal, o crime passional. O narrador traz o inusitado e subverte aquela perspectiva do bebê que não pensa, só sente, e é tão inocente e tão ignorante do mundo. Esse feto, enclausurado, gosta de vinho e conhece os diferentes sabores. Sabe de política internacional, a crise europeia, novos empreendimentos, etc - baseado em diversos podcasts que a mãe gosta de ouvir.

Eu me surpreendo como a informação está tão mais disponível para a geração atual, que a um clique via google ou youtube pode ser tornar especialista em assuntos tão diversificados como vinho, bicho-preguiça, viagens rodoviárias no Alasca, ou o sistema prisional dinamarquês. Eu sou da última geração que estudava em enciclopédia e se quisesse saber mais detalhe, procurava livros sobre o tema (ou recortes de jornais que a minha mãe colecionava, com as perspectivas atuais sobre assuntos importantes). 

Pode ser surpreendente, mas a carga de informação que um feto pode ter acesso só ao ouvir esse tipo de conteúdo que chega via podcast, vídeo, TED, não é nada inconcebível. Com trocadilho intencional.

22 de janeiro de 2017

Mundo sem Fim

Editora Arqueiro - Capa Fiction

Em "Mundo sem Fim", Ken Follet começa com 4 personagens crianças, e os acompanha até a velhice, numa pequena cidade da Inglaterra que gira em torno do Priorado, onde vivem monges e freiras. Há um casal principal, Caris e Merthin, e várias reviravoltas sociais e políticas que o impedem de ficar juntos, e a gente vai torcendo por eles, mas o que mais vale a pena é o retrato histórico da época.

Há o clero, há a burguesia emergente, há a nobreza, e os conflitos e cooperação entre eles. Merthin e Caris são particularmente inteligentes, mas há uns burros e astutos, que conseguem chegar tão longe que dá até raiva.

No meio da história, estoura a Peste Negra, e é impressionante o efeito na população e na vida diária. São milhares de mortes, com um impacto econômico incrível. Difícil se colocar na mesma situação, ou trazer para os dias atuais. Quero crer que uma doença que mata em 3-5 dias e se alastra naquela velocidade não pode acontecer novamente.

Por fim, é interessante ver muitas mulheres em posição de liderança, não só como Madre Superiora, mas dirigindo comércio e a cidade. Pensei que poderia ser um exagero, uma pitada moderna demais, mas depois lembrei que é o país que teve uma rainha no século XVI. Parece que as mulheres só quiseram independência e respeito nos últimos 50 anos, mas aposto que muitas foram pioneiras em todos os lugares do mundo, nessas centenas de anos de história. E não poucas, mas realmente mais do que imaginamos (e menos do que gostaríamos).