31 de julho de 2012

Diário da Queda

Editora Companhia das Letras - Capa warrakloureiro
O fato é que eu quis ler "Diário da Queda" porque foi um dos livros mais premiados do ano passado e não errei na escolha. Michel Laub escreve primorosamente, usando o recurso de fluxo de pensamento mas sem deixar confuso e sem parecer que está nos manipulando - embora ele esteja fazendo isso sim. Para usar uma imagem, é como se estivéssemos num redemoinho, primeiro dando voltas mais lentas e largas, depois aumentando a velocidade - a emoção - a medida em que nos aproximamos do meio, no caso, o final do livro, e o momento em que conhecemos por inteiro o autor e seus conflitos.

Logo no começo, percebe-se que o tema do livro não é simples: preconceito entre judeu e gói em Porto Alegre, e o narrador, judeu, é descendente de um sobrevivente de Auschwitz. Mas há tantos fatores envolvidos, os personagens são tão complexos e humanos, que fica difícil reduzir o tema a esse ponto, como aparenta ser. 

O livro não é longo, não é apelativo, não é complicado, mas é surpreendente, emocionante e denso. Tenho um aperto no coração toda vez que lembro da história, e mesmo não sabendo julgar literatura como aquelas pessoas que premiaram esse livro, sei que essa capacidade de emocionar já é um bom motivo para ganhar prêmio (e muitos leitores, eu espero).

27 de julho de 2012

A Divina Comédia

Editora 34

Há muitas referências na cultura ocidental atual ao livro "A Divina Comédia". Muitas pessoas podem falar do que se trata, entendem o adjetivo "dantesco", ou podem até citar cenas - mas a maioria delas não leu e nem tem intenção de ler a obra original, mesmo que traduzida. Afinal, literatura em poesia não é lá uma leitura muito amigável, ainda mais quando foi escrita em outra língua, em outra linguagem, 700 anos atrás.

Eu li na minha adolescência, uma edição antiga (mas não secular, é claro), com o texto original em italiano em paralelo e belamente ilustrada. Não foi uma leitura fácil, mas foi muito bom ter esse contato com o clássico de Dante Alighieri e ver as descrições impressionantes dos castigos no inferno, o que o povo fazia no purgatório e como era o céu, na viagem que o personagem faz até a sua Beatriz (e perceber claramente que a história não condiz com o nosso entendimento atual sobre "comédia").

(Vale a menção que a Beatrice de As Desventuras em Série é uma clara referência a essa Beatriz, na ironia que é costumaz a Lemony Snicket).

Se eu releria hoje? Tem tanto livro no mundo... Mas para aproveitar melhor a história, eu procuraria uma versão, organizada em parágrafos, com boas notas, para fluir mais suavamente. Quem sabe um dia?

23 de julho de 2012

Uma nova visão do amor

MG Editores - Capa Alberto Mateus
Flávio Gikovate é um psiquiatra que direcionou sua carreira para relacionamentos amorosos, elaborando teorias sobre o amor, sexo e afins e ajudando na prática milhares de pessoas através do que ele chama de terapia breve. Além de ter um programa de rádio semanal chamado "No divã com Gikovate", ele tem muitos  artigos e livros publicados, então é muito difícil você não ter esbarrado num texto dele por aí - ou mesmo numa novela que ele participou - mas talvez não ligue a pessoa a esse nome que eu cito aqui.

Interessada como sou pelo tema, escolhi começar a ler sua obra através do livro "Uma nova visão do amor", do começo da década de 90, mas revisado recentemente. É engenhoso ver como ele racionaliza o que nós acostumamos a chamar de sentimento, " que não dá para explicar e não faz sentido", de maneira lógica que nos faz pensar: "mas será que não é isso mesmo?" ao lembrarmos de amigos e amigas que encaixam direitinho no que ele está dizendo, ou mesmo até a gente...

Como teoria, Gikovate já deixa claro que o livro é a sua proposta do que melhor encaixa ao que ele vê acontecendo nos relacionamentos humanos. Talvez por isso que o "amor ideal" ou "+amor" que ele apresenta no final me parece o que é mais utópico e desconectado da realidade.

Ele diferencia bem um amor saudável de um problemático, que levará quase que certamente ao fracasso / divórcio, mas não apresenta soluções para esses problemas. De qualquer forma, o auto-conhecimento sempre pode ser um primeiro passo para se desenroscar de uma relação complicada e procurar mares mais tranquilos. 

17 de julho de 2012

Great House

Editora W. W. Norton & Company
A primeira impressão sobre esse livro foi um estranhamento com relação ao título em inglês, Great House (Casa Grande) e o título em português: "A Memória de Nossas Memórias". Por que, oh!, por que a tradução foi tão criativa?

Aí que se começa a ler o livro, e então tudo fica mais confuso, você não sabe quem está falando, há parágrafos de outras histórias sendo intercalados no discurso principal, e há evidências de pulos no tempo além de no espaço... O que aparentemente conecta tudo é uma escrivaninha monstruosa (no tamanho), com diversas gavetas pequenas e grandes, que alguns personagens possuem por um tempo e passam para outra pessoa. Organizar linearmente o trajeto da escrivaninha é um desafio, e só no clube do livro, em que outras pessoas tomaram notas e nós trocamos ideias, conseguimos chegar a um esquema que talvez resolva o mistério, mas é definitivamente um livro aberto.

Mas tirando esse ponto que, dependendo do seu ponto de vista, pode ser frustrante ou intrigante, a autora Nicole Krauss apresenta relatos de relacionamentos humanos muito tocantes, como o marido que descobre o segredo da esposa depois de sua morte, o pai que não sabe se comunicar com o filho, a mulher que não se conecta com o marido, a mãe que dá o filho para adoção. Por esses pontos, vale a pena.

Quanto ao título, quando ele é explicado (lá pelo final do livro), entende-se o nome em inglês e em português... Mas não, claro, porque não colocar o nome que a autora escolheu.

9 de julho de 2012

A jangada de pedra

Editora Record / Altaya

O ponto de partida de "A Jangada de Pedra" é algo bem surreal: a península ibérica se desconecta da Europa e sai navegando, na falta de termo melhor, pelo Atlântico. Assim, sem aviso prévio ou explicações científicas, o fato é que a fronteira com a França rachou e o que era uma península se transformou numa ilha - eppur si muove, como diria Galileu.

No meio disso, Saramago junta 5 pessoas, cada uma com sua própria dose de fantástico:  um homem que sente o solo tremer, uma mulher que fez um risco no chão que não se apaga, outra que desfaz um meia de lã azul num fio que não se acaba, um homem perseguido por uma revoada de passarinhos e um homem que jogou uma pedra pesada no mar e ela quicou sem ele ter força para isso. Ah, e um cão que parece bem esperto.

A história não se apresenta de maneira direta assim, mas ela vai se construindo e cada vez mais envolvendo você nessa realidade tão surreal - em que a geografia faz sentido, a sociedade faz sentido, mas meia dúzia de fatos, não. No entanto, Saramago não é um autor de ficção fantástica por si só, ele é um autor de relacionamentos humanos durante crises e é isso que ele apresenta magistralmente nesse livro. Não é um livro difícil, mas se você gosta de respostas, vale lembrar que Saramago adora perguntas.

4 de julho de 2012

Nick and Norah's Infinite Playlist

Editora Random House Children's Book
Eis que eu adorei esse livro: Nick and Norah`s Infinite Playlist. Adorei de ficar muito triste quando acabou, simplesmente porque eu não ia mais acompanhar os dois personagens principais depois de uma noite muito louca em Nova York, em que eles descobrem a paixão, quiçá, o amor.

Eu também pensei na hora que o livro seria um filme fantástico, mas aí eu errei. O filme existe e chama-se "Um noite de amor e música", e tem a atriz morena de 2 Broke Girls e o garoto nerdinho de Juno, e não é NADA do que eu imaginei. Eles incluíram detalhes nojentos e aumentaram a participação de personagens secundários provavelmente para dinamizar e atrair a juventude, mas eu achei o filme bem forçado, no geral. Perdeu o encanto, principalmente porque não traduziram na tela a sucessão de capítulos escritos do ponto de vista do Nick e da Norah, em que a gente mais sabe o que eles estão pensando e sentindo do que simplesmente fazendo (talvez os dois autores também tenham se intercalado, Rachel Cohn e David Levithan).

Vale o aviso que a história é fofinha, mas há alguns trechos levemente desconfortáveis para os mais tradicionais, nada que realmente tire o encanto desse livro (típica história adolescente, mas com detalhes picantes para agradar os jovens adultos). Recomendo, recomendo!