13 de agosto de 2017

Mulheres Visíveis, Mães Invisíveis

Editora Best Seller - Capa Marianne Lépine

O livro mais famoso da "Laura Gutman" é "A Maternidade e o encontro com a própria sombra" que, convenhamos, é algo que parece um pouco esotérico e muito alternativo. Eu sou mais pé no chão, praticidade e objetivo. No entanto, já ouvi mais de uma pessoa falando bem desse livro, então entrou na lista de interesses.

Contudo, o que cruzou o meu caminho primeiro - por estar no unlimited da amazon - foi "Mulheres visíveis, mães invisíveis", que é um coletânea de textos da mesma autora. Li tudo, fiquei encantada, fiquei admirada, estou recomendando por aí.

Não é um tratado sobre maternidade, mas a Laura Gutman vai abordando cada aspecto desse assunto, principalmente na época de bebês e crianças pequenas. Ela é radical - no sentido de pregar uma maternidade que praticamente não existe mais e pode parecer um tanto irreal nesse mundo moderno de mãe que trabalha fora, mas é uma maternidade que já existiu em algumas comunidades. 

Ela defende que a mãe dá conta do bebê. Ela carrega ele para cima e para baixo, amamenta quando precisa, faz dormir quando precisa, dorme junto, dá carinho, dedica-se totalmente a ele. O bebê irá se desenvolver saudável e seguro.

O que a mãe não dá conta - de fazer comida para ela mesma, lavar roupa, limpar a casa - tem "a comunidade de apoio": as avós, as irmãs, as vizinhas, outras mães, que vão assumir essas tarefas para que a mãe se dedique ao bebê, amparada. 

A mãe também precisa de um suporte emocional para lidar com as mudanças que estão acontecendo na sua vida, e no fato de ter uma pessoinha que a suga física e emocionalmente. Essa comunidade feminina originalmente também vai ajudar nesse sentido, por meio de conversas, presença e carinho.

Essa abordagem é na contra mão da independência e auto-suficiência feminina / materna. Parece que pedir ajuda é admitir-se imperfeita, quando todo mundo por aí apregoa um papel de super mãe / super mulher. Eu acho que a mulher dá conta de ser mãe - mas pela minha experiência, é uma mãe muito melhor se pode contar com a ajuda tanto para o básico de sobrevivência e manutenção da ordem doméstica (sem esquecer de licença maternidade real do trabalho) - e eu sou grata pelo apoio incondicional da minha mãe nesse aspecto.

A Laura Gutman também fala um pouco sobre paternidade, ressaltando como o papel do pai mudou e tem mudado. Com a diminuição da unidade familiar - sem essa comunidade feminina de apoio - caiu tudo nas costas do pai / marido (quando presente): a cobrança para ajudar com o bebê, com a casa, com o sustento financeiro, e com o apoio emocional para a mãe, que pode estar a ponto de surtar com essa nova situação de vida. É muita coisa para o pai moderno, assim como tudo isso também é muita coisa para a mãe moderna (e solo). 

Nós - mulheres e homens modernos - precisamos caminhar para uma situação familiar e comunitária em que todo mundo participe e que fique equilibrado e confortável - tanto do ponto de vista físico como emocional. Para isso, não existe uma receita de bolo - porque cada situação de adultos com filhos é diferente - mas cada um deve mesmo refletir sobre o seu papel nesse círculo de relacionamentos e agir para chegar juntos numa harmonia, que não é pesada para ninguém.

1 de agosto de 2017

Intérprete de Males

Editora Globo - Capa Adriana Bertolla

O livro "Intérprete de Males" de Jhumpa Lahiri, é um livro incrível de contos disponível no Kindle Unlimited (nem só de bast seller e literatura de banca vive esse programa, ufa) e ganhou o prêmio Pulitzer de 2000.

Com esse nome diferente, estranha-se um pouco ela ter ganhado um prêmio para autores dos Estados Unidos - mas estamos falando do país onde os sonhos se tornam realidade: a família dela emigrou da Índia para o Reino Unido, ela nasceu em Londres e com dois anos eles mudaram para lá, e ela se considera americana, afinal viveu praticamente toda sua vida lá.

O livro, no entanto, reflete essa pluralidade cultural, as histórias são sobre indianos - na Índia, na América - uma comunidade diferente, interessante não tão presente aqui no Brasil (como outros imigrantes, por exemplo, europeus e japoneses). Embora as histórias sejam bem corriqueiras (referem-se a pessoas comuns), há um pouco de pano de fundo histórico aqui e acolá, o que é uma ótima oportunidade para aprender sobre a história desse país do outro lado do mundo. 

Em cada conto, transborda-se humanidade. Relacionamentos amorosos, amizades, paternidade, religião, imigração, sanidade estão ali trazendo uma riqueza para a história graças ao olhar cuidadoso da Lahiri. É de se encantar.