29 de janeiro de 2011

The memoirs of Sherlock Holmes

Esse é o 2o livro da minha trilogia de contos do detetive Sherlock Holmes, cujo primeiro está resenhado aqui (composta por "Adventures of...", "Memoirs of..." e "Return of..." - recomendo fortemente ler na ordem!!!!). Estou lendo com intervalos para durar mais...
Para fazer jus ao nome do livro, há algumas narrativas que Holmes conta a Watson de quando ele era jovem e estava na faculdade - as memórias de Sherlock Holmes, sem a presença do elementar-meu-caro-Watson (adoro essa expressão mesmo!).

Em um dos contos, aparece o irmão de Sherlock, Mycroft (ô mãe criativa!), que segundo o querido detetive é mais talentoso para observações e deduções. "E por que então ele não é famoso? Não aparece nos jornais? Não está ajudando a desvender crimes por aí também?", pergunta Watson. A resposta é simples:

"Ele não tem ambição e energia. Ele não sai da sua rotina para verificar suas próprias soluções e prefere ser considerado errado do que se dar ao trabalho de se provar certo. Várias vezes eu levei um problema a ele e recebi uma explicação que depois se provou correta. E mesmo assim ele é absolutamente incapaz de trabalhar nos pontos práticos que devem ser resolvidos antes de um caso ser apresentado para um júri ou juiz."

Interessante, não? Acho que isso acontece mais vezes do que imaginamos, no nosso próprio círculo de amigos e conhecidos. Pessoas talentosas que não sabem o que fazer com seu dom, ou não aproveitam para obter resultados que podem ser bons para ela ou para outras pessoas, e pessoas nem-tão-talentosas assim que chegam muito mais longe. Vejam bem, é claro que Sherlock também é muito talentoso - mas ele próprio reconhece seu irmão como seu superior nas qualidades que lhe são fonte de renda e fama. Mas é aquela história: tem tanta gente com a faca e o queijo na mão e não faz nada com isso! Falta a vontade de cortar!

Depois dessa rápida reflexão a partir de um livro que é bem leve e gostoso de ler, quero colocar aqui outra citação que eu achei muito bonita mesmo - é o próprio Holmes que diz:

"Não há nada em que a dedução seja tão necessária quanto na religião. Pode ser construída como uma exata ciência pelo pensador. Nossa mais alta garantia da bondade da Providência parece para mim vir das flores. Todas as outras coisas, nossos poderes, nossos desejos, nossa comida, são todas realmente necessárias para a nossa existência em primeira instância. Mas essa rosa é um extra. Seu aroma e sua cor são um embelezamento da vida, não uma condição dela. É somente a bondade que dá extras, e por isso eu digo novamente que temos muita esperança por causa das flores."

20 de janeiro de 2011

Criança 44

Esse livro é um suspense daquele tipo best seller: fácil de ler, envolvente e tem tudo para virar filme. A única questão é que a censura do mesmo pode ser meio alta, pelo tanto de violência explícita que tem ao longo do livro. Daquele tipo que você sente na pele, arrepia, dói mesmo. Por isso, é um livro meio sofrido, não dá para ler quando você está triste ou deprimido.
A trama ocorre na antiga União Soviética, década de 50, pouco antes da morte de Stálin. Como pano de fundo temos o regime comunista / socialista (alguém que sabe o certo, por favor, comente) e eu realmente não sei o quanto disso podemos considerar histórico ou liberalidade do autor Tom Rob Smith, que é inglês. (Se for verdade, é um corroboração da explicação que meu pai fez sobre o comunismo quando eu era criança: é quando o governo manda outras pessoas morarem na sua casa, se tem quartos sobrando. No livro, os "privilegiados", funcionários do governo, moravam em apartamentos exclusivos tão grandes quanto altos fossem seus cargos. Os "pobres" se acumulavam, e cada família, de 4-6 pessoas ficava em um cômodo).
Além das mazelas sociais, mostra todo o problema político de uma ditadura e o modo de pensar do "Partido": tudo é uma ameaça ao governo, não é possível discordar do que ele diz, o ocidente é mau e o sistema judiciário é baseado na tortura e na delatação.
Gostei de ler esse livro do mesmo jeito que eu gosto de ler livros sobre a China, que assim como a Rússia - URSS teve uma história moderna bem diferente da nossa principalmente pela ideologia do governo (ditadura e supressão da liberdade nós tivemos aqui também, eu sei, mas a escala lá é de outro nível). Por mais que a literatura me torne mais sensível e me marque mais do que uma simples aula de história a realidade do que aconteceu, é difícil saber se tudo é realidade (já que eu não costumo consultar outras fontes).
Para não dizer que eu não falei das flores, ou melhor, da história realmente do livro, aí vai: o personagem principal é Liev, um investigador do alto escalão da polícia soviética. Ele fica sabendo que uma das pessoas da sua equipe acredita que o filho pequeno morreu assassinado. Mas não existem assassinatos na comunidade perfeita comunista, então, ele é quem vai falar para a família que o garoto foi atropelado por um trem como diz o relatório (por mais estranho que isso possa acontecer, dadas as circustâncias em que o garoto foi encontrado). Ocorrem várias reviravoltas na vida de Liev e ele encontra outra criança morta em circustâncias parecidas... Aí que ele começa a desconfiar que há um serial killer livremente atuando no país.
Ah, vale dizer que o Tom Rob Smith usa do mesmo recurso do Markus Zusak, da Menina que roubava livros, o texto vai indo, fluindo e de repente abre espaço para

uma pausa dramática

e o interessante é que o recurso funciona, chama a atenção, parece que dá outra ênfase ao texto... Será que essa moda pega?

18 de janeiro de 2011

Código Penal Celeste

Código Penal Celeste é o segundo livro que eu leio do Nilton Bonder (talvez algumas pessoas o conheçam pela obra A Alma Imoral, que já foi até adaptada para o teatro). Com isso, estou "aumentando" meu conhecimento sobre o judaísmo. Digo aumentando entre aspas, porque realmente não dá para estudar uma religião dessa forma, através de obras isoladas sobre elas. Então, o que eu tenho agora é uma visão bem parcial do Judaísmo por Nilton Bonder, esse rabino carioca, que não é muito convencional e aceito dentro de sua própria comunidade.
Considerando essa ressalva, posso comentar que o judaísmo é mais esotérico do que eu imaginava. Segundo a wikipedia, "esoterismo é o nome genérico que designa um conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões que buscam desvendar seu sentido supostamente oculto." O que mais pode ser dito a respeito de um livro que interpreta os 10 mandamentos dando a eles um significado totalmente diferente e figurado?
Ele afirma ao longo do livro que Deus (ou D'us, já que o nome do Senhor não pode ser usado assim a toa)não se interessa entre o que é feito entre as pessoas, mas só entre a pessoa e Ele. Por exemplo, "não assassinarás":

"Os tribunais celestes não penalizam os assassinos por tirarem a vida da vítima. A violência, as lesões ou mesmo o homicídio são prerrogativas do livre arbítrio. Toda morte é parte do jogo da vida. (...) Os assassinatos acolhidos como infrações do fórum celeste serão sempre qualificados. A qualificação não é pela maldade ou malícia ao outro, porque responde por escolhas não-feitas ou por assassinatos de possibilidades. Todo assassino ou mesmo toda violência se origina na ilusão da falta de outra opção. É na inexorabilidade de seu ato que o assassino demonstra a sua incapacidade de perceber escolhas a ele disponíveis. Sua ausência é crime por algo não-feito - uma livre escolha. Todo assassinato se inicia numa morte interna através da negação de aspectos de si que constituem pequenos suicídios. Na verdade, todo assassino é um suicida. Matar o outro é escapar de perceber-se matando a sim mesmo."

Fui só eu ou vocês também se perderam no que é sentido figurado e o que é sentido literal? Todo assassinato literal é um suicídio figurado por não escolha? Ou toda não escolha literal é um assassinato figurado?
Bom, por aí vocês vêem o grau que eu não entendi o livro. Alguns pontos são interessantes sim, mas acho que é necessário muita boa vontade para pegar uma parte assim da Bíblia e expandir para tantos sentidos ocultos. (É interessante que várias referências, historinhas de exemplos, vem da tradição judaica - caso você não saiba, a tradição vale tanto quanto a Bíblia, ou quase, o que é bem diferente do cristianismo pós reforma).
Agradeço a Ania pelo empréstimo, e aguardo o livro A Alma Imoral! Outros livros dele, só se já forem validados (recomendados) mesmo. 

12 de janeiro de 2011

The Carrie Diaries

Editora Balzer + Bray - Capa Holden Designs

Lembram da Carrie de Sex and the City? Esse livro é a história dela aos 17 anos, último ano de high school. E tecnicamente não é nem um diário, porque ela ainda nem escreve um. Mas é uma história em 1a pessoa, em que a gente vai acompanhando a adolescente com seus típicos problemas americanos de panelinhas, entrar na faculdade, beber, fumar e, claro, garotos.
É realmente engraçado tentar casar a imagem da Carrie do seriado, Sarah Jessica Parker, com a Carrie do livro, 17 anos, mergulhadora da equipe de natação, com duas irmãs mais novas, um pai viúvo que adora teorizar (realmente meu personagem preferido do livro) e amigas preocupadas com o baile de formatura.
Uma coisa não mudou, ela ainda tem o dom de gostar dos caras errados, mesmo tendo opções melhores, o que eu realmente não entendo.
Um dos pontos interessantes do livro é a discussão sobre feminismo, passando pela mãe dona de casa tradicional da Carrie que muda a sua vida depois de ler um livro ultra-feminista e as indagações dela  própria. Em um certo momnto, a Carrie lembra quando tinha 10 anos de idade e lia os livros de "mulherzinha" da avó e pensou isso:

"Se uma mulher pudesse tomar conta de si mesma, ela ainda precisaria de um homem? Ou ela ia mesmo querer um? E se ela não quisesse um homem, que tipo de mulher ela seria? Ela ainda seria uma mulher? Porque parecia que, se você fosse uma mulher, a única coisa que você supostamente deve querer é um homem."

É claro que a vida não é dualista assim, ou você é independente e não precisa de homens, ou você só quer um homem e todos os seus problemas estão resolvidos. No entanto, acredito que muitas adolescentes acreditam que a coisa mais importante e urgente do mundo é arranjar um namorado e não ficar sozinha. Algumas mulheres nunca saem dessa fase...
Quanto ao livro de Candance Bushnell, é entretenimento leve, e a minha amiga Ju estava certa quando me emprestou falando que é muito melhor do que o livro Sex and the City, em que os personagens não estavam desenvolvidos e só fala-se de sexo e drogas (e para quem não conhece, é uma coletânea das crônicas que deu origem a série, ou seja, nem é uma história propriamente dita). Chick lit para adolescentes (pela idade dos personagens) e para fãs do seriado

6 de janeiro de 2011

Uma outra chance para a felicidade

Para começar o ano bem, resolvi atender o pedido da minha amiga Ania e ler esse livro que ela me emprestou. O título não ajuda muito, porque como outra amiga que me vi lendo disse, parece título de auto-ajuda. Mas é um problema de tradução realmente, porque no original em francês ele chama "La Consolante", ou A Consoladora. Com esse título, você veria que o foco da história não é que o personagem principal fique feliz no final, mas esmiuçar as características da Consoladora em questão.
O livro é francês, então tende a ser mais profundo, discutir a existência, o sentido da vida e tal. (Bom, para mim, isso é o que praticamente define a literatura francesa). Mas depois que você se acostuma com a narrativa um pouco diferente, ele é bem legal.
Digo que a narrativa é diferente, para não dizer estranha, porque o texto se alterna com a visão do personagem principal, Charles Balanda, como se estivesse dentro da cabeça dele, lendo seus pensamentos e a narração em 3a pessoa onisciente e um pouco intrometida (o que eu adoro. Não é ótimo ler um livro que o narrador de repente comenta que "vamos deixar essa personagem aí porque ela não vai aparecer mais"??? hahahaha).
Outro ponto interessante é o jeito de narrar o nada - sabe quando não tem diálogo e passa um tempão? Ao invés de resumir, a autora cita com várias orações curtas "tudo" que está acontecendo: o passarinho que passa, o barulho do ônibus, o levantar de Charles, ele titubeia, ele vira o pescoço, vê a mulher, a mulher anda, ele sente o cheiro, ele decide ir até ela. Como se fosse uma descrição sem adjetivos. É ótimo porque você vê a cena, tudo que está acontecendo, o cenário fica rico, como num filme ao invés de num teatro em que tudo é cenário e o pano preto ao fundo.
Eu gostei muito de ler esse livro, e recomendo. Francês, mas simples e envolvente, hahahaha. (Fér, pode xingar).

Pessoal, gostei muito do retorno no último post, 20-30 livros é bastante coisa! Espero que vocês me ajudem com recomendações também em 2011. Obrigada!