30 de agosto de 2011

Juliet, naked

Riverhead Books - Capa: Claire Nayon Vaccaro

Nick Hornby é um autor inglês cujos livros se encaixariam num categoria "guys lit" em oposição a chick lit. Um dos seus livros mais famosos é High Fidelity, ou Alta-Fidelidade, que também virou um filme, ainda que a ação tenha sido transferida de Londres para os Estados Unidos.

Assim como os outros livros que exploram o universo cultural masculino, esse gira em torno de um artista de rock da década de 80, que depois de um disco fantástico sumiu da vida artítistica, deixando somente uma pequena legião de fãs obcecados tanto por suas músicas como por ele. Na história, um desses fãs ardorosos mantém um relacionamento com uma mulher há 15 anos (algo que nem ele chama de casamento nem namoro), e, numa viagem pelos Estados Unidos para ver pessoalmente cada lugar que remete a episódios da vida do ídolo, ela começa a questionar o seu papel secundário na vida dele. Já de volta para a cidade minúscula em que eles vivem na Inglaterra, eles recebem uma versão "não trabalhada" do último e mais famoso álbum do carinha, que chamava-se "Juliet" - ou seja "Juliet, naked"(Juliet, nua) e as opiniões divergentes tornam-se o gatilho da ruptura - mas quem ia imaginar que o antigo astro em si entraria pessoalmente na vida desses dois?

O livro é bem gostoso e rápido de ler, mas talvez o ponto mais interessante é ele ter sido escrito por um homem, e ser um livro atual, de cultura pop, que não é meloso. Ou seja, tanto para garotas como para garotos...

26 de agosto de 2011

The Chamber

Island Books
Muitos de vocês devem conhecer Jonh Grisham, o maior autor de ficção "jurídica" dos Estados Unidos, se não pelo seus livros, pelo menos pelas várias adaptações para o cinema como A Firma, O Cliente, Dossiê Pelicano e inclusive deste que eu comento agora - "A Câmara" ou "The Chamber".

Não que eu seja especialista na área, e para isso eu tenho as rodantes para me corrigirem, mas todo o sistema judiciário nos EUA parecem muito mais emocionantes que aqui. Julgamento concorridos, escolha de júris, proteção de testemunhas, brigas homéricas, conspirações e a pena de morte. É como se tivesse um caso Nardoni por mês. Se não for essa a diferença, o Jonh Grisham realmente sabe escrever bem sobre o assunto para atrair a atenção de alguém em qualquer lugar do mundo.

Esse livro especificamente é sobre um homem que está no corredor da morte, nas últimas 4 semanas antes da execução da sentença: morte na câmara de gás. O seu crime foi a explosão de uma bomba que matou os gêmeos de cincos anos de um advogado judeu no Mississipi que defendia negros, no auge da disputa racial. Ele é identificado como participante do Ku Klux Klan, um grupo que defendia a total segregação dos negros, muitas vezes atuando violentamente contra seus opositores (ou aquela galerinha que se vestia de branco e tinha aqueles chapéus cônicos esquisitos).

O neto do réu, que descobre quem é o avô, já preso, na adolescência (seu pai tinha mudado de estado e identidade pouco após o crime), resolve fazer direito e tentar salvá-lo, assim aos 15 min da prorrogação - para descobrir mais sobre suas origens, por uma questão de sangue, por uma razão que nem ele mesmo sabe definir.

O livro prende o leitor, seja pelo ritmo ou pelo conteúdo mesmo da narrativa. Passa por temas polêmicos como a questão racial no sul dos Estados Unidos, alcoolismo, a ética da pena de morte, justiça de homens e justiça de Deus, podendo ser um bom ponto de partida para debates sobre esse assuntos - numa mesa de bar com os amigos, nada muito profundo, afinal, se trata de um livro de entretenimento. Não propriamente leve, todavia ainda sim, de entretenimento.

20 de agosto de 2011

Um ônibus do tamanho do mundo

Editora Nova Fronteira - Capa: Ulrik Schramm

Esse livro eu encontrei na casa de um amigo e não resisti pegar para um momento nostálgico da minha infância. Tudo bem, ele não vai sentir falta... Além de estar em Altamira, ele tem bem mais de 20 anos.

Na capa do livro diz "Mais uma comovente história de jovens para os jovens, do mesmo autor de É proibido chorar." Por partes: os jovens aqui são bem jovens - 9 anos, no máximo. A história sobre um ônibus com 20 crianças indo para uma temporada de férias que tem o seu caminho interrompido por uma avalanche e não podem nem ir para frente ou para trás, embora queira trazer conceitos de convivência social típica do mundo dos adultos, não impressionaria os adolescentes de hoje. O autor em questão, o austríaco J.M. Simmel, pode não ser mais conhecido hoje, mas foi muito famoso nas décadas de 50 e 60, escrevendo para adultos também. Tenho certeza que também li o citado É proibido chorar, mas realmente não me lembro de detalhes.

O que eu mais gostei nesse livro foi a simplicidade com que foi escrito, com direitos a comentários do autor: "É um estranho começo para uma história, não acham? Mas a história em si também é estranha e por isso talvez deva ter um começo estranho." Eu acho muito simpático quando o autor se manifesta dessa maneira, numa história em 3a pessoa, parece realmente que ele procura um interlocutor pessoalmente.

Também é interessante por se tratar de outra época, e isso é notado por pequenos detalhes: uma mãe que pede para que leve o carneiro de estimação no ônibus porque alguém da família estará esperando na cidade de chegada, então ir com as crianças seria o mais prático, ou o fato do lanche ser composto por sanduíches, chocolates e ovos cozidos, ou ainda por uma delas ter difteria - uma doença tão rara hoje em dia, com tanta vacinação, que eu mal sabia que os sintomas iniciais parecem de uma gripe muito forte (e só no final do livro que todo mundo que entrou em contato com o garotinho também é vacinado).

Gostei de entrar no túnel do tempo e ter um momento nostalgia com esse livro... E vocês? Quais livros lhe transportam para a sua infância?

17 de agosto de 2011

O último teorema de Fermat

Google

Don't we all love Google's doodles?

Nós simplesmente amamos os doodles!

O Google desenvolveu uma marca tão forte nos últimos anos, que ele se permite eventualmente mudar o logo, para remeter a datas comemorativas e eventos ao redor do mundo, que são chamados de doodles. Pura criatividade online!

O doodle de hoje, 17 de agosto, não foi diferente: celebração do 410o ano do matemático Fermat, com direito a piada interna ao passar o mouse sobre o desenho, quando aparece a frase: "Tenho uma demonstração realmente maravilhosa para esta proposição, mas este doodle é muito pequeno para contê-la". Para entender, vamos ao livro que irei comentar hoje...

Editora Record
Fermat foi um grande matemático do século XVII que desenvolveu muita teoria matemática ensinada em escolas do mundo inteiro até hoje. Depois que ele morreu, no rodapé de um dos seus livros, foi encontrada uma nota sua dizendo que não existe um conjunto de números inteiros x, y e z que satisfaça a equação que está no doodle para n>2 e completou com a frase espertinha: "Encontrei uma demonstração verdadeiramente maravilhosa disto, mas esta margem é estreita demais para contê-la."

Por mais de 350 anos, matemáticos profissionais e amadores procuraram então a demonstração para este que é chamado de último teorema de Fermat, e o livro de Simon Singh é sobre essa busca e quem se envolveu nela. Um romance matemático, por assim dizer. O final é feliz, já que Andrew Wiles demonstrou que isso é verdade em 1994, com uma matemática que nem se sonhava em existir na época de Fermat. Resta a dúvida se ele realmente sabia a tal demonstração maravilhosa ou simplesmente fez uma das maiores pegadinhas do mundo matemático...


13 de agosto de 2011

A máquina de fazer espanhóis

Editora Cosac Naify - Capa Lourenço Mutarelli 

Tem gente que escolhe o livro pela capa, tem gente que escolhe o livro pelo título, tem gente que escolhe o livro pela crítica que leu no jornal ou na revista. Nesse caso, eu escolhi pelo autor - victor hugo mãe - assim, em minúsculas, misturando uma sumidade da literatura mundial com um substantivo tão comum (que todo mundo tem). Para quem não conhece, valter hugo mãe é angolano e causou sensação na última Flip - recebendo declarações apaixonadas de quem o ouviu falar português de Portugal. Ele já foi premiado pela Fundação Saramago, sendo que o próprio o elogiou muito enfaticamente. Assim, não perdi a oportunidade de comprar esse livro, com um título tão inusitado, numa promoção na internet (elas não são maravilhosas?).

Embora até tenha a sinopse na orelha do livro, resolvi ler A máquina de fazer espanhóis sem saber nada sobre a história antes, e foi muito bom. É claro que o resumo do livro ajuda na hora de decidir se vamos o ler ou não, mas também é mágico poder ser levado pelo autor, como numa peça, em que cada momento traz um novo personagem, uma nova situação. Então, realmente, não contarei nada da história para vocês - é uma motivação para que vocês leiam o livro e sejam surpreendidos e seduzidos por ele.

Incrivelmente, eu estava quase às lágrimas no primeiro capítulo.

A história nos leva numa montanha russa de sentimentos, o que causa um estranhamento muito grande - gosto ou não gosto? entendo ou não entendo? dou risada ou me ofendo? como nos posicionamentos frente ao que o autor propõe? Não é um enredo simples, é uma jornada a alma humana.

valter hugo mãe escreve só em minúsculas, diálogos no meio do parágrafo, sem indicação de quando o personagem está pensando, está falando, ou mesmo quem é que fala - lembra alguém? Demoraram algumas páginas até eu notar que os únicos sinais de pontuação eram vírgulas e ponto finais - as exclamações e interrogações são totalmente implícitas, e eu adoro esse tipo de autor que brinca com a linguagem, ela não é só o meio da história, mas também arte em si.

Acabo por aqui antes de revelar algum detalhe - mas termino ressaltando que recomendo e empresto, é claro.

9 de agosto de 2011

Wishlist

Telemachus Press

John Locke foi o primeiro autor a vender 1 milhão de livros para o Kindle. Pelo feito, resolvi pegar uma amostra de um livro aleatoriamente escolhido pelo título. A leitura do primeiro capítulo fluiu bem, e ao ver o preço, entendi um dos motivos de ele vender tanto até agora: US$ 0.99 (menos de 2 reais).

A história é contemporânea, com referências a cultura pop atual - nesse caso, a contextualização da história começa com o Oscar da Sandra Bullock e a divulgação da traição do seu marido na época praticamente em seguida.

Não vou me dar ao trabalho de explicar a história para vocês, mas ela é pontuada por sexo e violência, contando com personagens totalmente amorais - e sim, eu pulei o capítulo inteiro que descrevia uma luta de boxe que só ia terminar quando um dos lutadores morresse.

O personagem principal, Donovan Creed, é um assassino sacana e milionário que aparece em outros livros do autor também, com o qual eu não simpatizei nem um pouco.

Li até o final do livro, é verdade, para saber do que se tratava, se era o tipo de livro-com-final-feliz apesar de tudo (não mesmo), mas não gostei e nem recomendo... O preço, nesse caso, afinal, mostra qual é o valor da obra.

3 de agosto de 2011

Deu no New York Times

Editora Objetiva - Capa Tita Nigrí
Quem lembra daquele jornalista americano que quase foi expulso do Brasil porque escreveu numa reportagem que Lula bebia, hum, muito? Esse livro é do próprio, Larry Rohter, que tem uma história bem maior com o Brasil, a começar pela esposa que ele conheceu nos Estados Unidos na década de 70.

Sendo correspondente do New York Times aqui no Brasil por anos (mas não só aqui), ele acompanhou muito da história recente do país, não só na política, mas na cultura e sociedade também. Este livro é dividido em seções temáticas - economia e ciência, política, amazônia, cultura e até uma "lula e eu" - em que ele introduz sua opinião sobre o assunto, contextualiza e depois tem os artigos publicados nos últimos anos.

É interessante ver o olhar de alguém de fora, que nasceu em outro "mundo" e ficou curioso para conhecer o país, mas isso não quer dizer que ele seja um apaixonado ou romântico, muito pelo contrário, ele foi bem crítico. Não tem como não concordar com ele em alguns sentidos, e é impressionante como ele cita brasileiros que endossam sua opinião do calibre de Nelson Rodrigues e Tom Jobim, mas também pode ser um pouco irritante alguém com opiniões tão fortes e negativas, defendendo os Estados Unidos. Mas é essa pessoa que admiravelmente, faz reportagens sobre a população de jumentos no nordeste que foi substituída por tratores e carros por causa da melhora da economia, ou a literatura de cordel, ou a xilografia que já chegou no Louvre e a gente nem tem conhecimento. O que a gente não conhece do Brasil enche livros e livros...

Agradeço a Fér o empréstimo desse livro, que morou por meses aqui em casa, mas vai reencontrá-la em breve na sua visita ao Brasil...