30 de julho de 2011

A mulher que escreveu a Bíblia


Editora Planeta DeAgostini
Quando o Moacyr Scliar morreu, eu nunca tinha lido um livro dele... Isso não é mais verdade, com este "A mulher que escreveu a Bíblia".

Para contextualizar, o autor começa com um personagem, ex-professor de história que se torna terapeuta de vidas passadas, ajudando as pessoas a fazer regressão. Embora a picaretagem não seja deixada explícita, ele explica que as pessoas vão se lembrando do que aconteceu, por exemplo, "estou vendo um castelo que parece francês", e ele ajuda descrevendo Versailles e contando a história do Rei Sol, como era a vida na época e a pessoa vai confirmando...

Num determinado momento, ele conhece uma mulher e se apaixona por ela, criada em colégio católico, ela volta para a época de Salomão em Israel para entender porque não deu certo um relacionamento agora, o tempo passa - tudo isso é praticamente a introdução, bem rápida - o amor da vida dela vem buscá-la para fugirem juntos e ela deixa para o terapeuta um manuscrito do que aconteceu na vida passada dela, como esposa de Salomão.

A tal da mulher é a filha mais velha do chefe de uma aldeia, que é muito muito feia de rosto, mas boa de corpo, e por ser rejeitada acaba recebendo as atenções do escriba da vila que a ensina a ler e escrever. Quando ela é enviada para casar-se com Salomão por política, ele acaba por descobrir que ela não só escreve como faz isso muito bem e a coloca para contar a história do seu povo até os dias correntes, sendo direcionada por anciãos.

Na contra-capa do livro, fala que a história se trata da "busca da dignidade da mulher", mas o que realmente se Vê no livro é a busca por amor, ou mais especificamente, por sexo. A personagem principal passa o livro inteiro querendo transar - primeiro com um pastorzinho da aldeia (aí ela se satisfaz com - momento para o choque - uma pedra de formato especial), depois com o Salomão (que é lindo-tipo-galã-de-novela) que a recusa por ser muito feia (ou melhor, brocha). Tudo que ela faz é visando chamar a atenção do rei para ele vir se deitar com ela... Em qual contexto isso pode ser chamado de busca por dignidade?

Vale o comentário: o livro cita muito "Cântico dos Cânticos", um livro curto da Bíblia que relata o, vamos dizer, namoro entre um homem e uma mulher. É um poema, em que os atributos físicos mútuos são elogiados com muitas figuras de linguagem, sendo bem romântico e sensual. No livro, a personagem escuta trechos das conversas de Salomão e a rainha de Sabá, e isso que se torna o livro bíbilico depois.
Scliar faz uma narração despretensiosa e usando termos contemporâneos que não existiriam naquela época. A leitura flui muito bem, mas o tanto que se fala de sexo é constragedor - censura 18 anos...

25 de julho de 2011

Dracula

Editora Penguin Books

Clássico é mais ou menos assim: você acha que conhece só porque já ouviu falar, viu na TV, viu no cinema, assistiu paródia, programa de huor sobre ele, mas na real, nunca viu o original, então não conhece.

Eu estava cheia de preconceitos para ler Drácula, o original do Bram Stoker, porque eu nem gosto muito de terror. Mas sou totalmente partidária de conhecer a história original, para comparar com o que o está disseminado no consciente coletivo.

A história se passa em no final do século XIX e é narrada por meio de diários dos personagens (um inclusive é feito num "fonógrafo", super moderno) e algumas cartas. Jonathan Harker, um inglês meio corretor de imóveis, viaja até a Transilvânia, porque um Conde ricaço pediu que ele fosse lá pessoalmente para discutir a casa que ele quer comprar na Inglaterra. Mas o Conde Dracula (ninguém associava esse nome a nada na época, claro) estudou inglês, toda a cultura da Inglaterra e quer aprender mais ainda com o moço, que começa a desconfiar de algo estranho... Não há empregados, o conde só aparece a noite, não come nada, e a imagem dele não aparece no espelho que ele trouxe
(porque não tem espelhos no lugar)... O caso é que ele consegue voltar para a Inglaterra e para sua noiva, que, coincidentemente, passou por um episódio muito peculiar com sua melhor amiga que era sonâmbula e uma noite é encontrada num cemitério de uma maneira muito estranha, com dois furinhos no pescoço. A garota mordida tinha 3 pretendentes, mas já tinha se decidido casar só com um, o Lorde (os outros eram um médico e um americano).

Ela começa a ficar doente, fraca, mas quando ela recebia transfusão de sangue, ela melhorava (mesmo sem hemorragia, o que era um mistério). A questão é que ela morre, mas nesse meio tempo aparece um professor (amigo médico do médico apaixonada pela vampirinha) que tenta ajudar nessa misteriosa "doença". A seguir, os 3 pretendentes, o médico professor, a amiga e o noivo, agora marido, se juntam para perseguir o Conde Drácula que só eles conhecem, e só eles podem destruir. (Vale um comentário, quando a trupe vai perseguir o conde Drácula fora da Inglaterra, o americano acompanha a Madame Mina por não ser útil para conversar com pessoas, descobrir pistas e organizar a empreitada: ele não sabia falar outras línguas, hahahaha!)

Os homens são muito cavalheiros, cheios de elogios e respeitosos com as mulheres da trama. Existe um componente religioso muito forte também, relacionado com a tradição que os vampiros são maus e separados de Deus, com destino certo para o inferno. Há semelhanças e diferenças com os vampiros pops do momento (Crépusculo, bem entendido), listando algumas das caracteristicas do original: eles são realmente bonitos e sensuais, dormem durante o dia porque não podem suportar a luz do sol, não podem com alho ou água benta, só morrem como estaca no coração, não conseguem passar em cima da água, se transformam em morcegos. Eles mordem, mas não necessariamente matam. Mas quando a pessoa morrer, mesmo se por outra causa, elas se transformarão em vampiros. Agora, se o vampiro que a mordeu morrer antes dela, o efeito é quebrado.

O começo da narração é bem chatinho, mas depois começa a ação e o livro flui melhor. Mas daquele jeito, a linguagem toda pomposa, não é um livro muito rápido e fácil de ler não, tem que prestar atenção para entender o que as pessoas estão dizendo, mas não deixa de ser uma leitura interessante...

21 de julho de 2011

Assassinos sem rosto


Editora Companhia das Letras - Capa João Baptista da Costa Aguiar 

No meu vasto conhecimento da literatura sueca, que inclui este livro, a série Millenium e a Pippi Meia-Longa (sendo que vou desconsiderar esta última para a conclusão que eu farei, prometendo um post  sobre ela nos próximos meses), posso concluir que suecos "apreciam" uma violência explícita. Sim, os dois são livros policiais, de suspense, ou detetive (classifique como quiser), mas o grau de detalhe da narrativa é grande, ou você tem um estômago forte ou você os lê transversalmente sem nem tentar imaginar a cena (como eu).

Nessa história, dois velhinhos da zona rural da Suécia são brutalmente assassinados sem motivo aparente e os inspetores locais vão tentar desvendar o crime. A velhinha sobrevive ao ataque e vai para o hospital, e sua última palavra é "estrangeiro". Essa informação vaza para a imprensa, e dispara ataques xenófobos pela região, que a mesma equipe tem que resolver em paralelo - meio que eles ameaçam matar mais gente se não encontrarem os culpados. O contexto, começo da década de 90, é a presença de vários refugiados do Leste Europeu e da África em "campos" aguardando o visto de permanência ou a deportação.

Interessante ver o que é o interior da Suécia cerca de vinte anos atrás, cidades pequenas, pacatas, ligadas por rodovias, com a questão econômica e política de receber imigrantes. Henning Mankell, o autor, também tem uma preocupação em "humanizar" os personagens, eles são complexos, com problemas pessoais, interação com família e amigos. Não fica aquela narração focada em um só conflito, como se ninguém mais tivesse vida, os personagens são realmente humanos.

Também é interessante acompanhar a rotina dos policiais: um crime super sério para desvendar, mas eles trabalham das 9h às 18h, horas extras precisam ser permitidas, e isso só vai acontecer quando o bicho estiver pegando mesmo mais para frente. Fico imaginando você no lugar da família das vítimas: quer uma solução rápida, justiça e tal, mas policial é trabalhador-funcionário como toda gente, tem família, tem que voltar para casa...

Por fim, em determinado ponto do livro (não é spoiler), começam a procurar por um tal de Erik Magnusson e chegam no prédio principal da prefeitura da pequena Malmo, onde uma mocinha simpática explica que existem pelo menos 3 Erik Magnusson trabalhando ali. Ora, quem diria que José Santos na Suécia é Erik Magnusson??
Agradeço ao meu amigo que curte um livro policial, por continuar expandindo meu conhecimento sobre essa categoria...

17 de julho de 2011

Harry Potter

Editora Rocco - Capa Warner Bros. Ent. Inc.
Livros para crianças e adolescentes não existiram desde sempre, mas alguns autores fizeram fama escrevendo para esse público e também conquistando os adultos mais crescidinhos. Livros que hoje são clássicos como A ilha do tesouro e O Jardim Secreto com certeza já encantaram milhares por aí, atravessando gerações, mesmo que em suas versões adaptadas ou resumidas.

Os livros do Harry Potter já fizeram história na literatura infanto-juvenil. Nessa geração, que outros livros acompanharam 10 anos da vida de crianças e adolescentes (e até adultos) mantendo a mesma atração e interesse? (E estou falando exclusivamente dos livros, embora os filmes possam ter sua parcela nisso.)

Escrever sobre um universo paralelo de magia, tão tangível e consistente, foi um mérito da J. K. Rowling para atrair tantos leitores, alguns que se fossem deixados nas mãos da escola, nunca teriam lido 7 tijolinhos por livre e espontânea vontade.

Nas últimas semanas, empolgada com o lançamento do último livro, eu decidi reler todos os 7 livros, direto. Embora eu já tivesse relido vários (eu realmente gosto deles!), eu nunca tinho lido num espaço tão curto de tempo. Vou deixar aqui a minha impressão sobre a experiência, em itens, porque é mais fácil...

- A história é incrivelmente consistente. Sirius Black, personagem super importante que aparece no 3o livro, já é citado na 2a página do 1o livro, e no 5o livro é mecionado o irmão de Alvo Dumbledore que foi envolvido num escândalo com bodes. A autora já disse que viu a história toda pronta, quando estava viajando de trem, e aí foi começar a escrever e dá para perceber que isso é verdade, pelo menos para o grosso do enredo.

- O modo que ela escreve é mesmo de prender a atenção. Eu conhecia a história, conhecia o fim, e não conseguia parar de ler. Viciante!

-  Os livros cresceram com a gente e isso faz toda a diferença. O primeiro livro é bem infantil, simples, mas o último já é mais denso e com um conflito psicológico mais intenso (por exemplo, a amizade entre os 3 e a relação com Dumbledore que não é explorada no filme).

- O fato do ponto de vista da narração ser acompanhando o que Harry está fazendo e pensando e, em algumas vezes, sendo enganado e nos enganando na percepção de alguns fatos e de pessoas, é um dos pontos mais interessantes. A gente se leva pela emoção dele, só aumentando a empatia.

- Todos os livros tem uma história particular, mesmo que o fio que as une seja a briga com Voldemort, que só será resolvida bem no final. É muita coisa para acontecer com uma pessoa só? Tem alguns momentos que só estão ali para que a históra continue? Sim, mas e daí?  O importante é a jornada.

- Para constar, o meu preferido é o 6o livro, Enigma do Príncipe, porque é o mais romântico de todos, com certeza!

- A maioria dos conflitos existentes no livro é por causa da falta de comunicação. Harry que não consegue falar com Sirius, Dumbledore que não conta tudo para Harry, Neville e Harry que não conversam. Eu ficava pensando: nossa, nada disso aconteceria se pelo menos eles ouvissem um ao outro! Mas será que na nossa vida também não acontece isso direto? Diferentes expectativas e conversas que não acontecem criam uns conflitos totalmente desnecessários...

- Por fim, ver Harry, Hermione e Rony crescerem juntos é emocionante, e o fato de existirem os filmes torna tudo mais real. Relendo, eu vejo as cenas na minha cabeça com Daniel Radcliffe, Emma Watson e Ruppert Grint - não consigo imaginar de outra forma, o que não perde a graça ao meu ver por que se o primeiro filme é o pior, eles realmente foram melhorando ao longo do tempo e o 7o filme é muito bonito e bem feito (mas ler o livro é essencial, já aviso, porque ele é bem resumido e os "pulos" só fazem sentido se você conhece a história).

Eu poderia falar e escrever horas sobre esses livros, sendo totalmente parcial, porque fui encantada por eles... Mesmo assim, acredito que vale mesmo a pena ler, se você não tem problemas de encarar um mundo em que a magia é possível, por mais irreal que isso seja.

13 de julho de 2011

Love Wins

Editora Harper Collins
Rob Bell é um pastor americano, que não tem lá muita cara de pastor. Primeiro, eu vi uns vídeos dele no youtube, sempre no mesmo formato - falando e andando. Para quem tiver a curiosidade, recomendo esse sobre amor - Flame e esse sobre tempestades na nossa vida  - Rain (legendados em português).

Depois, fiquei sabendo que ele escrevia e um amigo recomendou esse livro, que só pelo título e subtítulo diz a que veio: "Love Wins - A book about heaven, hell, and the fate of every person who ever lived" algo como "Amor Vence - Um livro sobre o céu (paraíso), inferno, e o destino de toda pessoa que já viveu".

O autor escreve como se tivesse falando mesmo, frases curtas, simples, às vezes uma palavra em cada linha como se para dar o ritmo da leitura. (Mas eu não tenho certeza se o vocabulário ou os conceitos discutidos sejam tão claros para quem não tem uma familiaridade com as ideias cristãs). Para ter uma ideia: o "trailer" é um trecho do livro.

Rob Bell discute no livro sobre salvação e o que acontecerá depois da nossa morte, e qual é o papel de Deus nisso tudo. Há duas linhas para cada um dos assuntos: alguns vão para o céu e alguns vão para o inferno ou todos vão para o céu no final; Deus é soberano e define quem irá para o céu aceitando a salvação ou então Deus oferece a salvação e as pessoas podem recusar sua vontade. (Ok, estou tentando deixar isso simples, então levem isso em conta).

A doutrina presbiteriana é calvinista e defende a predestinação e a soberania de Deus, ou seja, Deus escolhe algumas pessoas, que receberão a fé para crer na salvação por meio de Jesus Cristo, que é irrecusável. O que o autor apresenta é quase o oposto disso: Deus quer que todas as pessoas sejam salvas, ou vão para o céu, mas a pessoa tem que aceitar. Se ela não quiser, então ela irá para o inferno, independente de qualquer coisa que Ele possa fazer.

Mesmo com entendimentos diferentes da Escritura, há um ponto em comum: a graça. Não há nada que alguém possa fazer para ir para o paraíso. Deus fez todo o trabalho: por meio da morte e ressurreição de Cristo, ele garantiu uma maneira das pessoas "irem para o céu", ou serem salvas, ou qualquer que seja o termo que você queira usar. Não existe mérito. Existe somente graça, algo que a gente recebe.

Mas mais que isso, o livro deixa claro dois pontos que eu acredito deveras importantes: Não dá para julgar quem vai para o céu e quem vai para o inferno. Não estamos aqui para isso. Não é trabalho nosso. Quem diz que sabe, está viajando. O segundo ponto é que, mais do que nos preocuparmos com o que vem depois, devemos viver nossa vida se preocupando e agindo para termos o Reino de Deus aqui e agora. Ou seja, trabalharmos pela justiça social, para que todos tenham comida e abrigo, para que o Amor de Deus seja algo real entre as pessoas, entre todas as pessoas.

Eu li este livro no kindle, então não posso emprestar para ninguém... Que droga que não seja permitido emprestar livros digitais!

10 de julho de 2011

Roots: The Saga of an American Family

Editora Vanguard Press
Lembrei-me desse livro conversando com um amigo, que eu li emprestado há alguns anos, numa edição bem velhinha, em inglês mesmo. "Roots: The Saga of an American Family", traduzido aqui por "Negras Raízes: a saga de uma família americana", foi publicado na década de 70 nos Estados Unidos e foi seguido por uma adaptação para TV, de grande sucesso.

Alex Haley, o autor, começa a história com a família Kunta Kinte, um jovem na África que é capturado e vendido como escravo nos Estados Unidos no século XVIII. A narração continua acompanhando sua descendência na América "até os dias de hoje" com as mudanças na história - escravidão, guerra, liberdade, miséria, dreitos civis...

A história foca na tradição oral do povo africano, de contar para as crianças o que aconteceu com os pais, os avós, os bisavós, e repetir e repetir até que esteja registrado no cérebro e no coração, para que não se esqueçam... Nós que estamos tão acostumados com a riqueza da informação escrita - salve o google - esquecemos do poder das estórias para passar informação, de manter a tradição viva nas famílias. Acho que estas estórias aproximam gerações e conectam os membros da família de uma forma que vemos pouco hoje em dia. Não é muito impressionate descobrir como somos parte de uma perspectiva muito maior, uma história que começou centenas de anos atrás?

Outro fato do livro que me marcou foi a tradição de nomear a criança na tribo africana em questão. O pai escolhe o nome e, depois que a criança nasce, ele primeiro conta para ela, em seu ouvido, e depois anuncia para a tribo. A criança é digna de ser a primeira saber como ela será chamada... Muito bonito isso, não?

Para quem gosta de sagas, recomendo fortemente. Para estimular a descobrir sua própria saga também. Todo mundo tem uma.

4 de julho de 2011

Heart of Darkness & The Secret Sharer

Editora Signet Classics
Quando me apresentaram esse livro, o nome do autor, Joseph Conrad me pareceu familiar... Uma breve pesquisa me esclareceu: é dele também Lord Jim, um livro que sempre cruzou meu caminho, mas eu nunca li.

Joseph Conrad foi marinheiro, e nascido na Polônia viajou muito e aprendeu muitas línguas. Estima-se que o inglês foi seu sexto ou sétimo idioma e mesmo assim, foi com essa língua que ele escreveu suas obras e ganhou o prêmio Nobel.

A primeira história ao contrário do que o título dá a entender, The Secret Sharer  (algo como O compartilhador do segredo), já mostra o requinte de linguagem e descrição que Conrad pode atingir. O início é uma descrição do ambiente em que o navio do narrador está ancorado com muitas metáforas, como se fosse uma pintura mental, bem difícil de acompanhar. Dada sua vida náutica, a história tem vários termos referentes a essa cultura, e para quem não é familiar com ela, é mais complexo. Mas a história tem um forte cunho psicológico, trata-se do novo capitão de um navio, que ainda busca reforçar sua autoridade com a tripulação, encontrando um homem nadando nu no meio da noite, e ele o acolhe e o esconde em sua cabine mesmo quando descobre que ele fugiu de um navio onde estava preso por matar um companheiro de trabalho. Pela narrativa, às vezes há impressão de que o capitão está imaginando esse amigo (?), que só ele vê...

A segunda história, Heart of Darkness (Coração das trevas) é mais, como eu diria, popular. Ela inspirou o filme do Scorsese Apocalypse Now - e elas informações do próprio prefácio e pósfacio dessa edição - só realmente inspirou, já que o filme, que eu não assisti e não posso dizer, muita muitos dos detalhes da história (como o fato de essa se passar na África e o filme no Vietnã).

A narrativa é feita na perspectiva de um personagem, reunido a um grupo de homens sentados ao lado de um navio aguardando a noite passar, ouvindo um deles, Charles Marlow, contar sua incursão pela África. Ele foi contratado por uma empresa, para buscar Kurtz, um outro fucionário que traz muito marfim para os chefes através de um relacionamento muito forte com as tribos locais. (Este livro é terrivelmente dificil de resumir, então se você quiser saber a história toda, vá até a wikipedia ou outra fonte de sua preferência).

O que mais me impressionou foi como é gostoso de ler esse relato de Marlow, é extremamente musical, como se você o estivesse ouvindo falar, contar essa história na calada da noite. Por isso, eu recomendo mesmo você ler o original ao invés de ler um resumo. Além disso, há toda a discussão moral e psicológica do abuso e exploração da África pelos europeus no século XIX, que vale a pena ver - acostumados como estamos com a colonização brasileira, esquecemos como tudo pode ser bem mais terrível.

E interessante ver a anedota histórica - que pode ou não ser verdadeira. Contratado na Bélgica, antes de ser enviado para o continente africano, o médico da companhia o examina e mede seu crânio. Na conversa, Marlow descobre que praticamente todos enviados para lá enlouquecem, e muitos não conseguem voltar...

Embora eu tenha gostado muito, ressalto que não é uma leitura fácil, mas vale a pena. Eu gostaria de agradecer muito ao casal querido que me apresentou o desafio, ops, me emprestou a obra!