2 de maio de 2024

Virgínia Mordida

 

Editora Companhia das Letras

Uma vez, eu ouvi que precisamos de mais livros em que os personagens são pretos, mas a história não é sobre ser preto - e eu acredito que "Virgínia Mordida" caia nessa definição. Obviamente, não dá para uma história com personagens pretos não ser trespassada pelo racismo estrutural ou por questões sociais gravíssimas, e no livro de Jeovanna Vieira vemos isso, mas há também outras dimensões.

É uma história contemporânea, urbana, de mulheres - e no começo da narrativa parece quase forçado demais o posicionamento da personagem principal, Virgínia, como bem sucedida, uma família bem estabelecida, que a bisavó (ou tataravó?) era uma parteira renomada, e a mãe é engenheira - não estamos na periferia do Rio de Janeiro (de onde é a família) ou de São Paulo (onde Virgínia vai morar e conhece o namorado, Henrí).

Depois, quando já nos posicionamos bem com os personagens - Virgínia, o ex-marido, as amigas, o namorado novo, a família, etc - a trama flui melhor, e a mordida do título acaba por doer também em nós.

A trama é sobre abuso, e quais são os mecanismos que permitem que ele ocorra - e que não há formação, educação ou amizades bem intencionadas que possam salvar alguém. 

*Eu agradeço a editora Companhia das Letras pela cópia em troca da publicação de uma resenha.