31 de dezembro de 2021

Top 2021

 Ficção

Sight - Jesse Greengrass

O Filho Eterno - Cristóvão Tezza

A Estrada - Cormac McCarthy

Precisamos falar sobre Kevin - Lionel Shriver


Não ficção

Saúde mental, gênero e dispositivos - Valeska Zanello

Deixe-me ser mulher - Elisabeth Elliot


Infantil

O B.G.A. - Roal Dahl

Peter Pan - J. M. Barrie

As Aventuras de Pinóquio - Carlo Collodi

Estatísticas 2021

2021 foi um ano de pandemia e vacina, ficar em casa e voltar aos compromissos sociais, de escola indo e voltando, de trabalho só cobrando, e muitos livros e séries.

Com relação a minha leitura:

- 73 livros lidos (igual ano passado)

- 19437 páginas (em média, são 53 páginas por dia, e livros de 266 páginas - isso caiu significativamente)

- 50 livros digitais - li muitos livros físicos que estavam aqui na fila

- 20 livros brasileiros, um record desde que começou o blog e estou feliz em ler mais livros de autores nacionais, principalmente contemporâneos

- 34 livros lidos no idioma original (português e inglês)

- 56 livros em português, 17 livros em inglês

- 41 livros escritos por mulheres

- 48 livros do presente século

Em gráfico:


Embora seja a mesma quantidade de livros, o número de páginas pode ser mais significativo de como esse ano eu li menos do que antes:


Consegui ser mais consistente em adquirir e ler livros relacionados às minhas metas (quase todas):


Embora esteja longe de completar qualquer uma delas, elas continuam sendo formas de procurar e ler bons livros, o que eu sempre recomendo a todos.

Um feliz ano novo cheio de leituras para vocês!






Amsterdam

 

Editora Companhia das Letras

Ian McEwan é um autor ótimo, que consegue criar um clima e construir uma história consistente e envolvente como poucos.

No caso de Amsterdam, temos o retrato de uma amizade entre dois homens. Há um pouco sobre política, jornalismo, composição e música, amantes e relações sociais, mas a história é mesmo sobre essa amizade cheia de ressalvas, que a princípio não parece nem amizade, mas não deixa de ser. Enquanto eles vão vivendo suas vidas, a princípio tão diferentes, o final mostra como eles são parecidos num aspecto crucial. 

Não é meu livro preferido do autor, mas é claro o motivo de ter ganhado o Booker Prize. 


30 de dezembro de 2021

Como manter a mente sã

 

Editora Objetiva

Depois de uma pandemia de quase 2 anos, "Como Manter a Mente Sã" parece um desafio prático para muita gente. Philippa Perry publicou esse livro em 2012 e, na linha dos outros do "The School of Life", é um livro que aborda temas complexos de forma honesta e simples, e continua atual e prático.

Embora seja explicada a importância e utilidade da terapia, são dadas bases claras na forma de teoria e exercícios para que a pessoa exercite um cuidado com sua saúde mental de maneira individual.  

São auxílios pontuais que podem ajudar no dia a dia, mas nada que resolverá uma crise ou um problema mais intenso. Mas não deixa de ser interessante disponibilizar o básico para tantas pessoas através de um livro.

27 de dezembro de 2021

Garden Party and Other Stories

 

Edição de Domínio Público

Katherine Mansfield é uma escritora da Nova Zelândia do começo do século passado e ela retrata o cotidiano e as relações sociais das mulheres do seu tempo em breves contos. Eles são bem escritos, e a visão feminina sobre as mulheres é relativamente inédito para a época, mas são bem comuns para os dias de hoje. O interessante é a visão da época mesmo.

19 de dezembro de 2021

Os Últimos de Nossos Pais

 

Editora Intrínseca

Mais um livro sobre a II Guerra Mundial, com um ângulo diferente: franceses são recrutados pelo Serviço Secreto Britânico para serem agentes secretos - eles passam por treinamentos intensos, tornam-se muitos amigos, quase uma família, e são encaminhados para missões separadas. 

É guerra, então obviamente não vai ser um livro feliz - embora eu realmente tenha torcido pelo contrário. Ainda por cima, lá pela metade, diferentes linhas da história se cruzam de uma forma que parece um pouco forçada - mas pode ser por causa do estilo rebuscado que o autor Joël Dicker usa de vez em quando.

Para quem gosta do tema, pode ser interessante - e é uma leitura rápida.

17 de dezembro de 2021

Jeito de Matar Lagartas

 

Editora Companhia das Letras

"Jeito de matar lagartas" é um livro de contos curtos, escrito por Antônio Carlos Viana, em sua maioria contemporâneos - homens, mulheres, jovens, idosos. Eu gostei particularmente de uma história de um senhorzinho fazendo aniversário e criticando tudo em sua cabeça. Levou-me a concordar que cantar parabéns depois de uma certa idade é algo realmente estranho.

No entanto, fiquei incomodada com alguns contos do ponto de vista feminino, como se fosse uma versão estereotipada de mulheres envelhecendo. Talvez elas estejam por aí, talvez a ideia era trazer luz para esse tipo de personagem, mas fiquei pensando se não é uma visão masculina, e precisamos de mais visões femininas do assunto. 


12 de dezembro de 2021

The Yellow Wallpaper

Kindle Edition

"O papel de Parede Amarelo", de Charlotte Perkins Gilman é um conto que acompanha uma mulher convalescendo de alguma doença num quarto - tcharanran - com um papel de parede amarelo. Estamos falando do final do século XIX, e aos poucos vamos vendo que é uma doença mental, mas a narrativa é criada para duvidarmos de que ela já estava doente antes, ou vai ficando louca com o isolamento.

É muito bem escrita e por isso que se trata de um clássico, além de claro, levar ao centro das atenções uma personagem feminina e seu sofrimento.


 

Nada me faltará

 

Editora Companhia das Letras

O livro de Lourenço Mutarelli - Nada me faltará - é escrito num estilo peculiar: só há o que os personagens falam, sem descrições, sem identificação de personagens, sem informações extras além do que você pode ouvir. 

A premissa da história também é muito interessante - um homem volta um ano depois de ter desaparecido da face da terra com a mulher e a filha, mas simplesmente não sabe o que aconteceu com elas - ou melhor - nem se importa com o que aconteceu com elas.

Dá para discutir tantas implicações a partir do que acontece, mas eu fiquei um pouco decepcionada com o final, mas acho que isso faz parte do fato de ter várias interpretações possíveis.

Life

 

Kindle Editions

Life, de Lu Yao, fala sobre um homem no interior da China e sua trajetória como jovem adulto - a perda de emprego para o filho de alguém mais influente, a volta para o trabalho braçal, e mais para frente duas possíveis candidatas ao seu coração, e o que o amor representa numa sociedade tão regulamentada ou controlada a fim de funcionar bem.

Escrito por um chinês, é uma forma de conhecer pequenos mecanismos da sociedade, que nem sendo turista seria fácil de observar. 



31 de outubro de 2021

O BGA

 

Editora 34

Roald Dahl é incrivelmente criativo para contar histórias infantis sem menosprezar a inteligência delas, e com "O BGA - O Bom Gigante Amigo" não é diferente. Ainda mais com a presença da Rainha da Inglaterra! 

Ainda não conseguimos assistir o filme, mas o livro é ótimo para se ter, ler e reler.

17 de setembro de 2021

Babbit

 

Editora Bibliolife

Babbit é uma sátira, ou seja, uma história contada com muita ironia para criticar os costumes da sociedade ou de uma parcela da mesma. Escrito por Sinclair Lewis na década de 1920, retrata a vida de um homem classe média no interior dos Estados Unidos - que venceu na vida por trabalho e motivos escusos, e seu relacionamento com a sociedade, a política, a igreja, o casamento e os filhos.

É interessante como estudo humano e cultural da época, mas - e é um grande mas - o personagem principal, que dá título ao livro é um grandíssimo chato.

Até entendo que era essa a intenção do autor, levar ao ridículo o homem comum norte-americano, mas foi bem difícil engatar no livro e fiquei imaginando que, se eu estivesse um pouco mais próxima do objeto do livro - geográfica ou temporalmente - teria aproveitado melhor.


23 de agosto de 2021

Identidade

 

Editora Harper Collins


Identidade é um livro da primeira metade do século XX sobre duas amigas negras com trajetórias diferentes na sociedade dos Estados Unidos - uma delas se passa por branca e está no meio de brancos profundamente racistas.

É uma história curta, mas muito intensa e profunda pelos temas de raça, amizade e família. A autora, Nella Larsen, escreveu sobre sua época e dizem que parte do livro é autobiográfica.

Um ponto interessante é que um dos personagens quer mudar para o Brasil, por ser uma sociedade menos opressora do ponto de vista racial. 


15 de agosto de 2021

Precisamos falar sobre Kevin

 

Editora Intrínseca

Lionel Shriver é uma ótima escritora para abordar temas complexos em ficções muito bem construídas. No caso desse livro, Precisamos falar sobre o Kevin, eu sabia que ia ser algo difícil, mas com certeza não imaginei que tanto.

Na página do livro na plataforma Goodreadas, há quem diga que é um livro de horror e, de certa forma, é mesmo. Incrivelmente perturbador. Assustador. Mas é um livro para se pensar bastante nas relações humanas.

Mais do que um livro sobre um jovem atirador - materializando tantos que existiram nos Estados Unidos nas últimas décadas - esse livro é sobre maternidade. A maternidade no extremo, é claro, pois não há tantas crianças que crescem para fazer barbáries como essa, graças a Deus, entretanto não há como não fazer paralelos até situações corriqueiras.

É um livro muito, muito bom mesmo. Mas a leitura não é simples, e se estiver despertando sentimentos complicados, não leia. Eu não pretendo ver o filme também.



13 de agosto de 2021

A volta às aulas do Pequeno Nicolau

 

Editora Rocco

O Pequeno Nicolau (Petit Nicolas) é um personagem infantil famoso na França. Há dezenas de histórias curtas com esse garoto típico da década de 50, que ia para a escola, aprontava, circulava na rua com os amigos, do alto dos seus 8 ou 9 anos. É leve e bem humorado, e embora agora exista TV, video game e celular, algumas atitudes das crianças são as mesmas, e essa identificação que é muito simpática.

As minhas filhas já tinham assistido ao filme mais recente (disponível no netflix), e então elas tinham uma ideia mental do ambiente e das crianças, mas elas se divertiram com as histórias "novas" desse livro. Como elas são curtas, é uma leitura boa para antes de dormir. 

Em tempo, o autor René Goscinny também é criador de outro personagem famoso francês: Asterix. 

7 de agosto de 2021

Saúde Mental, Gênero e Dispositivos

 

Editora Appris

"Saúde mental, gênero e dispositivos - Cultura e processos de subjetivação" é um livro técnico, como é possível perceber pelo título. Valeska Zanello é formada em psicologia e filosofia, professora da UnB com pós doutorado. 

Com exceção do primeiro capítulo, que eu achei difícil, os outros são acessíveis e interessantes, trazendo uma teoria completa sobre como a cultura afeta gênero e a saúde mental, não só do ponto de vista dos sintomas que as pessoas tem assim como o próprio diagnóstico e tratamento.

Esse livro abre perspectivas para analisar os próprios comportamentos assim como a sociedade ao redor, mesmo que não seja convencido por todas as afirmações da autora. Muitas das quais, é claro, estão relacionadas com suas próprias pesquisas e de outros estudiosos, identificadas claramente.

Se você não encarar a leitura do livro, mas tiver interesse, o canal da Valeska Zanello no YouTube possui vários vídeos, incluindo "lives" em julho de 2020 sobre o conteúdo do livro. 



25 de julho de 2021

Lições de Vida

 

Editora Novo Conceito

O primeiro ponto do meu comentário sobre esse livro de Anne Tyler é que tanto o título em português como essa capa estão redondamente equivocadas.

O título original é "Breathing Lessons", algo como "Aulas de Respiração" e há uma cena muito bem feita que faz alusão a esse termo, e não acho que nem a ideia traduz como "Lições de Vida".

A personagem principal é a Maggie, uma mulher lá pelos seus 40 anos (quando se já era avó aos 40 anos e nem se sentia mais jovem), e no único dia em que se passa a história ela faz uma viagem bem tensa de carro com seu marido. Nada que remeta a essa garota nessa paisagem idílica pensando sobre as tais lições de vida.

Isso posto, é um livro espetacular. Ganhador do Pulitzer, retrata muito bem a dinâmica familiar do casal, os filhos, a nora, a neta - e como alguém bem intencionado pode meter os pés pelas mãos recorrentemente.

Recomendo, com certeza.


11 de julho de 2021

As Aventuras de Pinóquio

 

Editora Companhia das Letrinhas

Todo mundo conhece o Pinóquio - o boneco de madeira que contava mentiras e crescia o nariz, graças a Disney. Mas quem teve essa ideia genial foi Carlo Collodi, um italiano, há 140 anos atrás. 

O livro "As Aventuras de Pinóquio" foi publicado por capítulos, numa revista para crianças, e imagino que a história foi se construindo também com o retorno do público. A história vai ficando cada vez mais fantástica - tem personagem que morre e volta - sem perder o humor, e também a "moral da história": se não for para a escola e obedecer aos pais, tudo vai dar errado e você pode virar um burro, literalmente.

Eu li esse livro para as minhas filhas ao longo de algumas semanas, e foi ótimo ver elas se divertindo com a história, envolvidas com o Pinóquio - diferente da minha experiência de leitura como adulta há alguns anos, em que eu só fiquei admirada com o nonsense e não gostei muito.

O comentário pertinente da Lia, minha mais nova de 6 anos, foi perceber que não tinham meninas no livro - fora a personagem da Fada, só há garotos e homens. Quando eu expliquei que o autor era um homem de outra época e por isso deve ter preferido só falar de garotos, ela me perguntou: e onde estavam as autoras meninas?

Além disso, a versão açucarada da Disney não representa o humor - muitas vezes pastelão - que o autor coloca no texto e também faz sucesso com a criançada. Não assisti o filme mais recente (com gente de verdade), mas já me disseram que é mais fiel a história original.

Assim, minha recomendação sobre esse livro é: leiam para as crianças.


6 de julho de 2021

Mrs Palfrey at the Claremont

 

Editora Virago

Mrs Palfrey é uma senhorinha inglesa que, para não morar sozinha e cuidar da casa e de si, pega todas as economias e vai morar em um hotel em Londres. A filha mora na Escócia e tem suas preocupações. O neto trabalha no Museu Britânico e não tem tempo de visita-la. 

Mas no hotel, há outros idosos que vivem ali na mesma situação - entre alguns turistas que são a população flutuante, eles são os residentes, tornam-se uma comunidade, e o livro de Elizabeth Taylor vai acompanhar essa dinâmica.

O livro "Mrs Palfrey at the Claremont" é de 1971, então fala sobre um mundo que não existe mais - mas o que eu mais gostei é de ser uma história sobre uma idosa, sem ser depressivo - e os personagens mais jovens são secundários. 


3 de julho de 2021

De Eva a Ester: Um Relato sobre Grandes Mulheres da Bíblia

 

Editora Thomas Nelson Brasil

Débora Otoni e 12 amigas escreveram breves histórias baseadas em mulheres - muito conhecidas ou pouco conhecidas - do Antigo Testamento da Bíblia, que formam esse livro "De Eva a Ester". 

O projeto gráfico é lindo, no mesmo tom dessa ilustração linda da capa. Ou seja: não compre o livro digital, esse livro é para apreciar o texto e as ilustrações encherem as páginas. 

É um livro de ficção - ou seja, a partir do que está escrito na Bíblia, são desenvolvidas curtas narrativas - em primeira ou terceira pessoa, em prosa ou poesia, mais ou menos atualizadas. 

Por serem muitas autoras, a qualidade do texto é irregular, há claramente uns melhores que os outros. Mas o principal mérito do livro é justamente trazer luz para mulheres da Bíblia que são citadas, mas não são foco de pregações ou aulas. Mesmo para quem lê a Bíblia regularmente, pode não ter notado algumas dessas mulheres, e voltar ao texto original para re-conhecê-las é muito gostoso.

16 de junho de 2021

É Fácil Matar

 

Editora L&PM Pocket

Agatha Christie, nossa rainha do crime, nos dá suspense, amizade e romance em "É Fácil Matar", e nós, seus leitores, sabemos que ela faz parecer fácil mesmo. 

16 de maio de 2021

Eugênia e os Robôs

 

Editora Rocco

Eugênia é uma garota genial, como o nome diz, mas não é boa em se relacionar com outras pessoas, o que a deixa sem amigos. Então ela cria três robôs (com referências a Asimov!), e numa jogada do ensino fica só com eles no mundo. Há uma moral aí, já que se trata de um livro infanto-juvenil, mas acredito que o melhor é colocar uma personagem feminina nessa posição de cientista e engenheira.

"Eugênia e os robôs" é um bom livro de Janaina Tokitaka, que eu recomendo para crianças a partir de 8 anos, embora a minha filha de 6 anos acompanhou bem. 

3 de maio de 2021

Peter Pan

 

Editora Martin Claret

Quem não conhece Peter Pan?

Mas aí a pergunta pertinente: você conhece o Peter Pan da Disney ou do J. M. Barrie?

Peter Pan faz parte da cultura da nossa sociedade, em filmes, outros livros, referências psicológicas ou conversas entre amigos. Então eu achava que eu realmente conhecia Peter Pan, mas só agora que eu li o livro original mesmo.

Não que o Peter Pan seja muito diferente do que conhecemos, mas conhecer o J.M. Barrie foi uma grata surpresa. Eu adoro narradores que fazem comentários e conversam com os leitores e ele é assim - ainda com uma dose de sarcasmo bem pertinente.

É interessante como ele lida com o papel da mãe e do pai, do homem e da mulher, então dá boas discussões. Também é ótima toda a realidade que ele inventa - um meio caminho entre brincadeira de faz de conta e mundo real.

Por fim, eu li alto para as minhas filhas de 6 e 8 anos, e elas curtiram, mas o vocabulário é bem requintado - então precisava parar com uma certa frequência para explicar o que é "ficar a mercê", "olhar cobiçoso", "letargia", "convicção", "desejo soturno", ou então porque Peter esqueceu dos amigos depois de algum tempo, ou porque algumas mães fecham as janelas...


1 de maio de 2021

A Falência

 

Editora Companhia das Letras

Como é diferente um livro escrito por mulher!

Depois de ler várias obras de José de Alencar e Machado de Assis, é possível ter um retrato da sociedade urbana carioca do final do século XIX, mas aí vem Júlia Lopes de Almeida e descortina todo um panorama: a rotina da casa, os servos, a educação das crianças, o simples andar na rua de um bairro pobre. Um olhar para as personagens femininas menos idealista e mais humano.

A falência vai falar de Teodoro, o dono da empresa que vai falir, mas as mulheres brilham ao logo de toda trajetória: a esposa, a filha adolescente, as filhas pequenas, a babá / ama / serva, a sobrinha, as tias velhas solteironas, a serva das tias velhas.

Há também algumas situações e observações que resistem ao teste do tempo e fazem sentido até hoje, como essa frase que soou fundo para mim:

"A pulsação do seu sangue alvoroçado dava-lhe a percepção fantástica de que o Brasil seria arrastado vertiginosamente pela maldade de uns, a ignorância de outros e a ambição de todos, em voragens abertas pela política amaldiçoada."

Até quando?

23 de abril de 2021

Queenie

 

Editora Orion Publishing

Na plataforma Goodreads, é dito que Queenie é uma encontro entre o Diário de Bridget Jones e Americanah, e esta pode ser uma boa dica do tom do livro, mas não dá para resumir nisso.

Queenie, nossa personagem principal na casa dos 20 anos, descobre que sofreu um aborto (apesar do DIU). O seu namorado está pedindo um tempo para pensar na vida - que inclui ela sair da casa em que eles moram juntos. Inicia-se uma crise de proporções épicas, e começam a sair todos os monstros da caixa - problemas no emprego, de identidade, relacionamentos com a família, com as amigas, com os homens - que poderia acontecer com qualquer mulher o mundo, mas, colocando a questão racial e todos os seus desdobramentos por cima, é de arregalar os olhos e sofrer junto.

É mais denso que a literatura chick lit normal - está mais na linha da Marian Keyes - mas é bom ter histórias assim que mostram o que as mulheres de diferentes tons tem de igual, e o que tem de diferente e o como a balança pesa para as mulheres negras, de qualquer condição social. 


9 de abril de 2021

The Vanishing Act of Esme Lennox

Eu sou fã de carteirinha da Maggie O'Farrell, então estou nessa jornada de ler todos os livros que ela escreveu e, entre eles, O ato de sumiço de Esme Lennox, que não tem disponível em português. O estilo da autora está lá, histórias começando em paralelo, que se cruzam e entre o passado e o presente a trama vai se desenrolando, segredos são revelados e você passa a entender mais os personagens. Há passagens chocantes (principalmente do ponto de vista psicológico), e uma visão interessante da psiquiatria no meio do século passado. Recomendo para quem gosta de tramas com boa densidade de personagens.

3 de abril de 2021

Neve

Eu comecei a ler "Neve" ano passado, tentei um pouco, parei. Comecei a ler de novo esse ano, e fui me forçando a ler durante mais de um mês. Realmente a leitura de Orhan Pamuk fluiu para mim. Eu entendo o peso desse livro, o retrato de época e de sociedade, a forma organizada e lapidada da escrita - que o levou ao prêmio Nobel (sendo que esse é considerado uma de suas principais obras), mas não me envolvi com os personagens ou mesmo com o narrador, que também é um personagem distante da trama principal. Talvez tenha sido o meu distanciamento da história turca e da sua cultura também, que só me causou estranhamento. Há uma parte de bom conteúdo humano, mas considerei complicado me familiarizar com eles para criar a tão necessária empatia. Assim, a leitura desse livro foi só um check na meta de ler os livros de autores laureados com o Nobel - e os meus próprios livros que eu já comprei e ainda não li.

31 de março de 2021

A noite da espera

 

Editora Companhia das Letras

Milton Hatoum é um grande autor brasileiro contemporâneo cujos livros fogem do eixo Rio-São Paulo e isso os torna tão interessantes. Em "A noite de Espera", acompanhamos alguns anos da vida de um adolescente - e então jovem universitário - em Brasília, na década de 60.

Temos ali a família que se rompe, com o pai querendo se afastar fisicamente da mãe que iniciou um novo relacionamento, as novas amizades e namoros, a cena cultural, o relacionamento com a política turbulenta e o movimento estudantil da época. É um retrato incrível, muito tangível, desse momento na vida de Martim.

Senti uma grande inquietação, um desconforto com esse jovem tão distante da mãe (que não consegue ir visita-lo) e do pai que transfere a raiva pelo fim do casamento para o filho. Ele é amparado por alguns amigos, surgem mentores, mas a quebra da estrutura familiar é uma dor real para ele.

Planejada como uma trilogia, o segundo volume da série "O Lugar mais sombrio" já foi lançado - Pontos de Fuga.



29 de março de 2021

Last Things

 

Editora Delta

O livro de Jenny Offill, Últimas Coisas, é mais uma história contada do ponto de vista de uma criança (que sempre é mais precoce e/ou observadora que as crianças "comuns"), num momento particular em que o casamento dos seus pais está passando por uma crise. 

A mãe é toda peculiar e é o foco dessa narrativa - seu jeito diferente de viver, suas crenças fora do comum (como o monstros marinhos desconhecidos), e como ela impacta sua filha. 

É interessante do ponto de vista psicológico, mas apesar do começo interessante, acabei por não simpatizar por ninguém ali, e o livro passou sem me prender.


27 de março de 2021

Os livros de Sayuri

 

Editora SM

Um livro sobre livros... não é uma deleite?

Lúcia Hiratsuka escreveu esse livro a partir da sua história familiar, de imigrantes japoneses morando no Brasil na época da II Guerra Mundial. Ela traz a visão de uma criança, que não entende bem a problemática política mas sofre seus efeitos.

Quando os japoneses são declarados inimigos, há uma proibição para que a escola comunitária funcione e os livros são banidos. Sayuri, que iria começar as aulas para aprender a ler, se vê desolada por perder essa oportunidade de finalmente entender os livros que tem na sua casa - daí o título Os Livros de Sayuri.

É interessante também ter um vislumbre dessa cultura e dessa época em que crianças ajudavam na roça, faziam o almoço, varriam a casa e também iam brincar lá fora, liam livros, sonhavam como crianças...

Por ser um livro infantil - com desenhos, letras grandes - também pode ser um ponto de partida para esses assuntos tão sensíveis - guerra, acesso a livros, trabalho familiar. Aqui, a Anna de 8 anos está lendo sozinha esse livro, e nós conversamos sobre ele.

21 de março de 2021

O Poder do Hábito

 

Editora Objetiva

Por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios?

Nada como um subtítulo claro para indicar o propósito do livro de Charles Duhigg que é justamente mostrar O Poder do Hábito. Está ali: como fomos programados para estabelecer hábitos nas reentrâncias do nosso cérebro, como eles afetam o nosso desempenho e como podemos reprograma-los de maneira para nos beneficiar conscientemente (por exemplo, trocar o impulso de comer por outra atividade durante a dieta e manter esse novo comportamento pelo resto da vida sem muito custo).

É um livro de auto-ajuda, com bastante ciência objetiva envolvida, mas escrito por um jornalista, então há ali um tanto de abertura de ganchos - começa-se uma história, pára num momento crucial, vai para outro assunto relacionado, volta para fechar a história. Mas é tanto gancho, que lá pelas tantas fiquei cansada. 

Mas apresenta uma fórmula bem fundamentada aplicada para várias situações (e até em discussões éticas), que pode ser bem usada na vida de cada um, então recomendo.


3 de março de 2021

O Ano em que Te Conheci

 

Editora Nova Conceito


Em princípio, é interessante ler uma história dessas de chicklit com o tema principal de amizade entre dois adultos, que é a proposta do livro da Cecelia Ahern, O Ano em que Te Conheci, ainda mais um homem e uma mulher. É um mote não convencional, e eu estava animada.

No entanto, o enredo da mulher já cai para toda a ladainha convencional que já sabemos - vai dar tudo certo, pois ela é mais bonita do que acha, apesar de querer o controle sobre tudo, vai ser bom abrir mão para o inesperado, vai achar um emprego melhor - ou que lhe dê mais qualidade de vida - e ainda vai ficar com um cara bonitão e perfeito para ela no final. 

Eu realmente canso de tanta previsibilidade. 

23 de fevereiro de 2021

The Blue Fairy Book

 

Edição de Domínio Público

Andrew Lang foi o responsável por tornar acessíveis diversos contos de fadas para o público dos Estados Unidos, em vários volumes de livros com fadas de cores diferentes. Contos de Fadas é um registro muito importante da nossa cultura, como a sociedade era percebida e, mais que isso, como os sentimentos básicos dos humanos ultrapassam fronteiras culturais e temporais.


21 de fevereiro de 2021

At Fault

 

Edição de Domínio Público

Eu não gostei tanto desse livro de Kate Chopin, At Fault, como o seu de maior sucesso, The Awakening, mas é interessante pelo retrato da cultura colonial do sul dos Estados Unidos na época, e as relações sociais. Há uma história de amor muito triste e sofrida também, ou mais de uma, dependendo do ponto de vista. É um livro bem melancólico.

16 de fevereiro de 2021

Três Mulheres

 

Editora Harper Collins

É particularmente difícil escrever sobre a sexualidade das mulheres sem cair para uma super sexualização, sensacionalização ou  vitimismo, mas a Lisa Taddeo escreveu um livro muito bom abordando o tema, sem perder de vista a essência humana e a complexidade dessas Três Mulheres. 

Há o desejo de cada uma, mas também seus sentimentos, a sua criação, seus relacionamentos passados e o potencial de relacionamento futuro - amor e sexo ligados profundamente.

Esse é um livro bom para clube do livro ou para conversar com as amigas, pois as situações se desdobram em muitas possibilidades e paralelos com a vida real. 


9 de fevereiro de 2021

Por que eu não converso mais com pessoas brancas sobre raça

 

Editora Companhia das Letras

A autora Reni Eddo-Lodge fez um post na internet começando com "Por que eu não converso mais com pessoas brancas sobre raça" e criou o maior burburinho - viralizou, como dizem os jovens. Assim, ela começou a ser uma interlocutora com as pessoas brancas que querem sim conversar e entender o que é raça, racismo e ser antirracista.

Eu gostei muito desse livro, achei bem didático (sobre a história do racismo na Inglaterra, com paralelos aqui no Brasil) e também muito sensibilizante (para entender o que os negros passam ao sofrer o racismo e também por serem coagidos a não falar sobre isso).

Acredito que essa leitura é essencial para todos.


27 de janeiro de 2021

Coisas escuras procurando a luz com dedos finos cheios de ervas: Uma história de amor e cinzas

 


Eu procurei um livro de Vicente Franz Cecim por indicação da Anita Deak do Podcast Litterae (que é maravilhoso!) e esse está disponível no unlimited da Amazon.

É um livro poético, para ir pensando e descobrindo significados. É bonito, mas não me encantou. Bem rápido de ler, pois são poucas frases e os espaçamentos fazem parte da narrativa.


25 de janeiro de 2021

The Girl in the Tree

Editora Amazon Crossing

Foi realmente difícil ler "A Garota na Árvore" inteiro. A narrativa é em primeira pessoa e a garota fica pulando do presente para diferentes episódios do passado, tornando a história confusa e cansativa.

O começo é interessante - principalmente por mostrar a vida contemporânea da Turquia, que não estamos acostumados a ler aqui no Brasil - mas o meio se arrasta e, no final, parece que a autora Sebnem Isigüzel cansa e acelera a quantidade de informações jogadas para dar um fechamento, para terminar o livro logo.

A garota fica choramingando a história toda que a professora de literatura falou mal do jeito que ela escreve, que ela merecia mais, mas realmente ela usa mal esse recurso de criar tensão por interrupção e fragmentos do passado.

A avó da garota, as tias, a mãe e as duas amigas são bem mais interessantes que ela, e olha que ela foi morar em cima de uma árvore.

24 de janeiro de 2021

O óbvio ululante

 

Editora Companhia das Letras

Esse é o primeiro livro de crônicas do Nelson Rodrigues que eu li - e amei! Não que eu realmente concorde com tudo o que ele diz, mas gostei muito da acidez da sua escrita, para criticar as pessoas, a sociedade, a cultura, e também elogiar. 

A expressão "O óbvio ululante" ficou famosa por conta dele, mas com certeza ele não escreve sobre o óbvio, embora depois de um certo tempo, é possível perceber os assuntos que mais lhe agradam (não necessariamente de forma positiva) e que se tornam repetitivo, já que as crônicas estão apresentadas de maneira sucessiva.

Eu realmente ri alto do que ele diz, ainda mais pensando que algumas opiniões ainda são possíveis e declaradas ainda hoje, 50 anos depois.


14 de janeiro de 2021

A cidade dos cinco ciprestes

 

Editora Global

O livro "A cidade dos cinco ciprestes" de Mariana Colasanti reúne cinco histórias curtas, que começam com o mesmo mote (parecido com conto de fadas), mas tem finais inesperados e bem diferentes em cada caso.

É muito bem escrito e interessante, mas pela descrição da editora, eu esperava algo mais elaborado e não tão curto.

7 de janeiro de 2021

Em um bosque muito escuro

Editora Rocco

"Em um bosque muito escuro", de Ruth Ware, temos mais um livro de uma narradora pouco confiável, e mortes num contexto com os personagens isolados. Deve ter uma fórmula publicada por aí, mas achei esse livro fraco e forçado. Saudades da Agatha Christie que construía a trama de forma a nos enganar e nos deliciar. Para quem gosta de livro de entretenimento de suspense, é uma boa.

 

6 de janeiro de 2021

A primeira dama da Reforma

 



Um livro muito muito muito ruim. Todo feito de conjecturas, baseado em pouquíssimos dados históricos. Há alguma informação de contexto histórico da sociedade da época, mas é difícil de dizer o que é real e o que é baseado na imaginação - fértil - da autora.