Editora Companhia das Letras - Capa warrakloureiro |
Muitos conhecem o Chico Buarque compositor, mas nem tanto o Chico escritor de livros. Sobre a leva recente - Estorvo, Benjamim, Budapeste e este último, que já tem dois anos - ele foi elogiado, criticado e virou filme. Tecnicalidades a parte, eu gostei de tudo o que eu li dele e tenho um carinho muito grande por este "Leite Derramado".
No livro, um homem idoso numa cama de hospital vai lembrando da sua vida, misturando seu passado com o que está acontecendo agora, derramando um monólogo não linear que simpatiza o leitor com aquele senhorzinho. São anos de história que se passam por diferentes épocas do Brasil, e embora tenha o contexto geral, trata-se de uma narrativa familiar.
Quem tem senhores de uma certa idade na famíla - avós, tio-avós, pais - sabe como pode ser encantador ouvir histórias de antigamente, mesmo que eles se confundam, se lembrem só de uma parte, se interrompam ou esqueçam repentinamente do que estão falando. É a arte de contar estórias, que não fazem parte de livro algum, e talvez nunca farão, mas fazem parte da nossa história pessoal como filhos, netos, família.
Nisso, nos identificamos com o livro, pelo velhinho ou velhinha que temos em casa, ou pelo velhinho ou velhinha que um dia iremos ser.
E sabemos que, às vezes, adianta chorar num admirar-se e emocionar-se por um leite derramado da vida de alguém...