28 de agosto de 2012

A Bíblia Toda, o Ano Todo

Editora Ultimato - Capa Douglas Lucas
Há muitos devocionários publicados por aí, que, basicamente, são uma compilação de textos curtos sobre a Bíblia para serem lidos diariamente. As diferenças de "A Bíblia Toda, o Ano Todo" são essa proposta ousada (de passar pela bíblia inteira em um único ano) e ter sido escrita por John Stott, um dos maiores estudiosos contemporâneos da Bíblia (que morreu recentemente).

O interessante é que ao invés de começar a lê-lo em janeiro - ano novo, devocional novo - o ideal é começar a ler em setembro, porque aí os textos chegam no Natal justamente com o nascimento de Cristo (sim, a ênfase é bastante cristocêntrica até na quantidade de texto sobre o A.T.) e na Páscoa com a ressurreição.

Eu li faz alguns anos, mas a minha dica é para você arranjar esse livro agora mesmo, e começar essa jornada diária no próximo mês.

23 de agosto de 2012

O Óbvio Ululante

Editora Companhia das Letra - Capa João Baptista da Costa Aguiar

Eu demorei muito para começar a ler Nelson Rodrigues. Ele faria 100 anos hoje, e eu escolhi essa semana para ler o livro que me atraiu no sebo: uma compilação de suas crônicas , "O Óbvio Ululante". Elas foram selecionadas de 1967-68 das crônicas diárias que ele fazia para o jornal Globo. Então, eu não conheci o autor de teatro, mas - talvez - a pessoa em si.

Nelson Rodrigues é chamado de "Uma flor de obsessão" e isso fica bem aparente, porque os temas são repetitivos. Ele gosta de voltar no assunto que o intriga, às vezes repetindo frases inteiras, mas alterando o contexto ou o gancho para chegar lá. Ele é extremamente crítico a respeito de algumas pessoas - ou até instituições, como jornais e sindicatos - mas me enternece a maneira como ele valoriza os amigos, principalmente, Hélio Pellegrino, presença constante. Ou quando ele fala de amor: "Sempre escrevo que todo amor é eterno; e, se acaba, não era amor."

Ele escreve como se estivesse conversando, puxando um assunto que leva em outro, e fazendo comentários do tipo: "O que eu queria dizer mesmo era...", "abro um parênteses", o que o aproxima muito do leitor - além de ter uma variedade expressiva de assuntos (apesar de alguns se repetirem bastante) como política, cultura, teatro, futebol, sociedade, amor, trabalho e principalmente comparações entre "hoje" e quando ele era "menino" - é alguém que não se conforma pela perda da valorização do idoso em contrapartida do "Jovem", imatura e inexperiente. Ele é muito mais conservador e nostálgico do que o autor que eu imaginava para peças pornográficas ou violentas. Realmente foi uma agradável surpresa.

Depois desse início, com certeza, Nelson Rodrigues vai voltar para a minha lista de leituras... 

PS: Quem também viu primeiro a expressão: "o óbvio ululante que pulula nas mentes humanas" no gibi da Mônica?

19 de agosto de 2012

Descanse em paz, meu amor

Editora Ática
"Descanse em paz, meu amor" é um livro de suspense de Pedro Bandeira - com vários contos de terror contados pelos personagens num ambiente tenso - uma casa abandonada no meio de uma tempestade, a noite. O grupo de amigos estava fazendo uma escalada, quando foram surpreendidos pela chuva, e precisaram se abrigar.

Os pequenos contos são memoráveis e eu acredito que podem causar uma certa impressão mesmo nos pré-adolescentes de hoje, tão modernos e tão familiarizados com o terror do cinema. Mas a história principal também conta com um mistério, muito bem construído pelo autor.

Pedro Bandeira é um dos maiores autores brasileiros da literatura infanto-juvenil, e embora há muitas obras suas que provem isso, a maior delas é o fato de seus livros terem ilustrado a infância e a adolescência de tanta gente, e serem parte de suas memórias até hoje.

15 de agosto de 2012

A Cruz de Hitler

Editora Vida - Capa Marcelo Moscheta
Talvez você, como eu, já tenha lido mais sobre a II Guerra Mundial do que razoável, pois esse é um tema que realmente permeia muito da literatura ocidental recente - seja do ponto de vista dos alemães, dos judeus nos campos de concentração, dos sobreviventes, dos filhos dos sobreviventes. Talvez você, como eu, fuja um pouco desse assunto, porque é a quantidade de sofrimento gerada por ideologias racionalmente, humanamente, inexplicáveis é tão grande que pode fazer você perder a fome, o sono, ou a fé na humanidade.

No entanto, esse livro me foi recomendado e eu fiquei interessada, como cristã, pela abordagem desse pastor, Erwin Lutzer, em - tentar - explicar o papel da igreja cristã na Alemanha que se formava nazista. "A Cruz de Hitler" é a própria suástica, que, antes mesmo de começar a guerra, já era substituída - voluntariamente ou não - nas igrejas católicas e protestantes do país, segundo os registros históricos citados (e eles são vários).

Em resumo, a igreja foi "levada" a apoiar Hitler ou a se omitir frente às atrocidades cometidas, pelo mesmo motivo que influenciou todo o povo alemão (com honrosas exceções, tanto cristãs como não): as dificuldades econômicas e um discurso de valorização nacionalista toca fundo no coração das pessoas quando a realidade é de escassez e repressão. O que é óbvio, já que a igreja é formada por homens e mulheres, que podem se enganar, errar, pecar. Naquele momento, ela estava errada e ponto, principalmente porque seu comportamento não condizia com o que Deus da Bíblia esperava dos seus seguidores.

O autor também explica porque Deus permitiu que isso acontecesse com o seu povo (os judeus), ou porque, mas amplamente, Hitler existiu e agiu daquela forma, teologicamente falando, numa perspectiva do Deus que é amor. Para esse assunto, e uma explanação mais completa do que eu pincelei aqui, recomendo o livro original, claro (que pode ser controverso em algumas partes - adianto, para explicar que não concordo nem discordo de algumas posições do autor).

10 de agosto de 2012

Capitães da Areia

Editora Record
Jorge Amado faria 100 anos hoje, e embora não esteja mais vivo, ele realmente viveu bastante (até quase os 89 anos) e a sua obra é com certeza imortal. Com a fama fundamentada de ser um legítimo baiano - gostar de sossego e uma boa rede, ele soube retratar a cultura da sua sociedade de uma maneira peculiar. Muito da imagem que o resto do Brasil tem desse estado vem dos seus livros, que viraram filmes e novelas, entrando praticamente em todo lar brasileiro.

Capitães da Areia, que eu li há alguns anos, é um romance urbano, que acompanha a vida de meninos de rua, alguns bem crianças mesmo, largados, livres, sem pais, vivendo numa família improvisada de quem só tem os amigos. A história se passa na década de 1930, e muito mudou de lá para cá - as políticas sociais, os direitos humanos, a forma de governo, mas talvez não as crianças de rua.

Eu não gosto particularmente do estilo de Jorge Amado, mas acho interessante conhecer essa sociedade que ele apresentava, seja da cidade, do interior, particular da bahia, ou geral do mundo inteiro.


5 de agosto de 2012

Our Mutual Friend

Editora Wordsworth
É claro que eu acabei de ler esse livro e estou altamente impressionada, e você pode argumentar que é uma escolha precipitada, mas posso dizer que o meu personagem preferido de Charles Dickens é Jenny Wren, do livro "Nosso amigo comum"? Ela é totalmente adorável, e eu ficava alegre toda vez que ela aparecia na história, para ver seus comentários perspicazes e engraçadinhos, sua visão de mundo que traz muito do que ela é, uma história que entendemos aos poucos, através da sua relação com seu "filhinho" (na internet, descobri que há trabalhos de psicologia inteiros a partir dela). Jenny também tem uma profissão muito peculiar: é estilista de boneca - ela vê os vestidos na saída dos teatros e na entrada das festas, e reproduz com perfeição em suas pequenas clientes, que são muito apreciadas na sociedade londrina. Jenny Wren é um amor e eu me apaixonei por ela, um dos pontos altos desse enorme livro.

"Nosso amigo comum" é a última obra completa de Charles Dickens, e foi publicada em capítulos ao longo de 18 meses, e eu achei o começo bem lento - vários personagens são apresentados com detalhes, várias histórias são abertas, como sempre, sem muito explicar para o leitor como elas vão se entrelaçar lá na frente. Logo em seguida, estamos torcendo para o mocinho e a mocinha, com raiva de outros personagens, totalmente envolvidos com a vida dessas pessoas. Justamente por ter personagens muito reais, Dickens faz críticas a sociedade inglesa e uma discussão sobre a relação com o dinheiro e os valores humanos, algo extremamente atual em qualquer lugar do mundo capitalista.

Para completar, é esse mesmo que Desmond, de Lost, carrega para cima e para baixo para ser o seu último livro antes de morrer. Vou dizer, pessoal, que ele realmente precisava ser avisado com antecedência sobre a a ocasião, porque ele tem 500 páginas. Mas é para morrer feliz.

* Eu li esse livro no Kindle, em inglês, de graça. Não conheço versão em português desse livro, infelizmente.