26 de abril de 2011

Ensemble, c'est tout

Editora Le Dilettante - Capa: Atelier Civard

Sabe quando ler um livro é um verdadeiro desafio?

Pois é, esse foi. Não parece, mas, em 3D, ele é um tijolo de 600 páginas. No entanto, o desafio não foi por isso, o "problema" dá para perceber pelo título "Ensemble, c'est tout" é um livro francês. E claro que o problema na verdade é a minha falta de vocabulário nessa língua e muita teimosia para ler até o final do livro, recomendação e empréstimo da Fér, depois que eu li "Uma outra chance para a felicidade" da mesma autora, Anna Gavalda.

"Juntos, isso é tudo" (minha tradução ao pé da letra, espero que a Fér se manifeste com uma melhor) é uma história bem bonita e romântica, mas assim como o outro livro da mesma autora tem uma narrativa esmerada, em que as ações descritas, os pensamentos são importantes para você curtir o livro. Não basta só entender a história mais ou menos, o valor do livro está em como ele é escrito também. (Não é da outra categoria, em que o livro vale pela história e só).

Ou seja, a solução foi comprar um dicionário francês - inglês (que era baratinho na kindle store) e tasca ler o livro com dicionário do lado, para perceber as nuances. (Legal mesmo era quando eu não entendia em inglês, aí apelava para o dicionário inglês - inglês do kindle, era um cascateamento). Ah, e não era só isso - tinha as gírias também! E um dos personagens principais, Frank, só fala na linguagem coloquial, com várias gírias e palavrões. Para compensar, o outro personagem, Philibert só fala difícil :-). Aí foi apelar para a Fér por email e para outros amigos que moraram por lá.

De teimosia, depois de praticamente 1 mês, consegui terminar esse livro! E eu gostei sim, e recomendo, principalmente se ele estiver na sua língua materna... A história de Franck, um cozinheiro criado pela vó e Camille, uma artista que trabalha como faxineira, que se encontram por causa de Philibert, filho de nobres falidos que mora num apartamento enorme "para ocupar o lugar", que é disputado numa questão de herança.

Embora não seja um comédia romântica óbvia, sim, tem seus momentos engraçados e também faz você torcer para o casal ficar junto, e no final, você fica com uma saudadezinha, uma vontade de continuar acompanhando a vida deles para saber até onde vai... (Ou isso porque eu passei tanto tempo lendo esse livro, que já faz parte da minha vida!)

Ah, por fim, tem um filme! Com a Audreu Tatou, a eterna Amélie Poulain.

18 de abril de 2011

20000 leagues under the sea

Editora Geddes & Grosset

Depois de muito tempo sem ver a última página de um livro, hoje eu terminei Vinte mil léguas submarinas, da minha coleção de "Livros para Meninos", da qual eu também li "Sequestrado". E tanto esse como aquele são livros clássicos, antigos (séc. XIX) e difíceis de ler, seja pela linguagem seja pelo ritmo narrativo. Não sei se em francês Julio Verne é mais simples, mas numa busca rápida por capas de livros na internet, percebi que é muito mais fácil encontrar versões "condensadas" ou "adaptadas" em português do que o texto original.

Se você encarar o texto integral, vai se deparar com muitos detalhes científicos que explicam o funcionamento do submarino, navegação, a geografia submarina, a vida de diferentes espécieis embaixo da água e até um pouco de história. Se você quiser só ver a ação mesmo, a versão deve ser muito mais agradável. Ou mesmo um filme! Porque o livro é realmente cheio de aventura.

Um dos pontos interessantes é ver como a cultura mudou nesses 150 anos: existia muito mais formalidade e todo o conceito de "senhor" e "servo" era bem claro. O Prof. Aaronax, seu criado e um marinheiro são levados para dentro do submarino: o professor é honrado com cabine especial e conversas particulares, entre iguais, com o capitão do Nautilus, já o criado e o marinheiro dividem uma cabine, e embora sejam muito elogiados pelo professor, são claramente de uma classe inferior. O criado está disposto a morrer pelo professor, e este o chama de amigo, mas a situação social não muda... Agora fico imaginando: a sociedade realmente mudou, ou simplesmente somos mais politicamente corretos na superfície?

Outro ponto é a linguagem extremamente formal e polida, já que a história é narrada em 1a pessoa pelo professor, parece de uma afetação tamanha! Isso já é realmente diferente do que já estamos acostumados, com internet e twitter.

O livro é mesmo para garotos: não há nenhum - NENHUM - personagem feminino. Nada de romancezinhos, ou passagens fofas. E o trecho mais romântico do livro é esse:

"Assim os antigos, observando seus olhares suaves e expressivos, que não podem ser sobrepujados pelo olhar mais maravilhoso que uma mulher pode dar, os seus olhos claros voluptuosos, suas posições charmosas, e a poesia de seus trejeitos, os metamorfoseia, o macho em um tritão e a fêmea em uma sereia."

E ele está falando de uma foca. Pode?

Vale a nota: se você lembra do Nemo, do filme da Pixar, o capitão Nemo do livro é totalmente diferente no quesito doçura.

Por fim, eu sempre achei que as 20 mil léguas submarinas eram no sentido vertical: ou seja, eles iam até a profundidade de 20 mil léguas submarinas e encontravam vários bichos estranhos e tal. Mas não, caro leitor, admito a ignorância: essa distância (que no livro é especificado 1 légua como 4km, ou seja 80 mil km) é o que o submarino percorre durante a história nos 7 mares incluindo até o Polo Sul - a viagem ao centro da terra (outro livro!) é bem mais curta...

6 de abril de 2011

Estômago


Para não fugir do meu usual, é sobre um filme que eu não assisti, mas ouvi um amigo falando muito bem. Esse é o roteiro original, que inclui cenas que foram cortadas, além de ter um prólogo dos autores.

Estômago é sobre Raimundo Nonato que chega numa cidade "grande" e acaba morando num quartinho dos fundos de um bar, onde descobre um talento para cozinhar. Em paralelo, vemos ele na prisão, cozinhando lá também - onde é chamado de Alecrim. A história se desenvolve para você entender como um cara que parece tão inocente (que a princípio aceita um regime de quase escravidão no bar - cozinhando e trabalhando em troca de casa e comida) para a prisão.

É uma história bem crua, com bastante palavrão, sexo e até um pouco de violência, claro. Mas tem seus momentos de humor e ironia... Vale a pena, porque vai realmente rápido, é leve. Mas é claro que você não pode ter algo contra ler teatro, o tipo de texto que só tem diálogos e algumas marcações de cena.

Eu li esse livro (roteiro) no Kindle, e ele é disponibilizado pela Imprensa Oficial, junto com outras obras que são chamadas de Coleção Aplauso nesse site. Para quem procura cultura de graça e gosta de ler filmes também!

Ah, esse tem um bônus: todas as receitas feitas ao longo do filme, com comentários do Alecrim. Dá vontade de cozinhar!!!

1 de abril de 2011

O estranho caso do cachorro morto

Esse é um livro de 2003, sobre um cachorro morto.

Tudo bem, vai, na verdade é sobre Christopher, um garoto de 15 anos. A sua mãe morreu 2 anos antes, e ele vive com o pai. E então ele resolve investigar a morte do cachorro do vizinho em seu quintal. O título em inglês é mais interessante, algo como "O curioso incidente do cachorro a noite" (The curious incident of the dog in the night time).

A particularidade desse livro é que Christoph é autista, ou possui algum outro tipo de problema (limitação? politicamente corretos, perdoem-me), de comportamento e a história é contada do ponto de vista dele, e sempre é muito legal ler um livro em que a perspectiva é completamente diferente da sua.

Se bem que eu me identifiquei completamente com a cena em que ele pega um metrô em Londres, e quando as pessoas começam a deixar lotado o vagão, ele grita porque não suporta que toquem nele, e forma-se uma espaço vazio ao seu redor. Já tive muita vontade de fazer isso aqui...

Quem me emprestou esse livro do Mark Haddon foi a Fér, que inclusive ganhou um prêmio com a sua resenha sobre ele, que foi vinculada num programa de rádio de incentivo a leitura. No entanto, eu o associo a minha sogra, fisioterapeuta, que conhece muito esse mundo de crianças com características especiais. Ela tem verdadeira paixão pela sua profissão e seu trabalho, o que é muito inspirador. Para quem quiser conhecer mais sobre o assunto, recomendo o seu blog Fisioterapia e Inclusão Escolar. E ler esse e outros livros com essa temática, de quem vive no nosso mundo, mas de uma maneira totalmente diferente.

Este post é para a minha sogra querida, Nilcea, dando os parabéns pelo seu aniversário nesse domingo. Que Deus continue abençoando você em todas as áreas de sua vida, em todas suas paixões e todos os seus sonhos! 

27 de março de 2011

"Paula" e "La suma de los días"





Eu descobri esses dois livros porque sim, eu leio o livro que a pessoa do meu lado está lendo no trem. É uma leitura dinâmica, discreta, só da parte "visível" no meu ângulo, mas vale a pena: para saber do que se trata aquele best seller e para descobrir coisas novas, como esses dois livros.

Eu comecei a ler o livro da moça, e achei muito interessante, era alguém contando uma história para outra, como se fosse uma carta, com vocativos e comentários. É como se você lesse a conversa de alguém, muito íntimo. Conquistou-me na hora.

Quando a pessoa levantou para ir embora, eu fiz uma pequena ginástica e li a capa do livro: "La Suma de los Días", e bastou uma pesquisa na internet para descobrir que era escrito por Isabel Allende, e a continuação do livro "Paula". Esse, por sua vez, foi o livro que ela escreveu para a filha, quando ela estava em coma por causa de uma doença chamada porfiria (a qual, curiosamente, é associada aos mitos dos vampiros e lobisomens).

O primeiro livro foi publicado em 1995, e são as memórias de Isabel, da vida de toda sua família ao mesmo tempo que ela fala sobre a situação "atual", a doença da filha e o convívio com os médicos e o próprio tratamento. É um diário de uma saga, embora trate de 3 gerações da família, não perde o tom coloquial de uma conversa entre a mãe e a filha, talvez ali numa mesa de cozinha, ao mesmo tempo que tem a dor da Isabel por sua filha que está inconsciente (e não sabe como irá voltar, se voltar). O segundo livro, com esse título poético de A soma dos dias, foi publicado em 2007, e as memórias continuam a partir do ponto em que pararam em Paula.

Eu aproveitei e li os dois seguidos, que a minha amiga Fér trouxe de uma de suas viagens a Argentina - livros lá são bem mais baratos e o espanhol da Isabel Allende é bem fácil de ler. Fácil só de ler, porque em alguns momentos, você pode chorar...

23 de março de 2011

Casais Inteligentes Enriquecem Juntos

Atenção, casais e candidatos a casais!

Recomendo fortemente esse livro! Fiquei realmente impressionada, porque eu não esperava um livro tão bom. Parece auto-ajuda e é auto-ajuda, mas da melhor categoria: clara, focada, objetiva. O Gustavo Cerbasi tem a proposta de ensinar educação financeira para casais e ele faz isso de maneira muito simples, embora deixe claro que sabe o quanto o assunto é espinhoso.

Ele dá estratégias claras de como economizar dinheiro (não gastando, claro) mas com um foco claro. E se você espera que ele fale: ah, economizem tudo o que puder e aos 31 anos vocês terão o seu primeiro milhão - nada disso! Ele defende a ideia de que poupar e garantir o futuro é bom, mas que é preciso também ter uma "verba" para celebrações e satisfações de curto prazo.

Como o site dele, Mais Dinheiro, fala: "enriquecer é uma questão de escolha", mas isso não quer dizer que seja um escolha fácil. Ele até fala sobre técnicas para não desistir ou cair na tentação de gastos maior que a renda. Eu não me considero muito impressionável, mas fiquei admirada de como ele consegue motivar a pensar sobre esse assunto e a discutir estratégias como casal, que é o foco desse livro.

O marido já conhecia o site, e a planilha de orçamento que a gente usa a mais de 3 anos veio de lá. Eu não explorei muito (só descobri que ele dá palestras gratuitas em todo o Brasil e recomendo a leitura da seção Seu Plano), mas é um bom ponto de partida para conhecer mais do trabalho desse cara.

Eu recomendo mesmo a leitura por namorados, noivos e casados. Talvez não dê para seguir todas as dicas do Gustavo Cerbasi, mas é possível aproveitar boas ideias aplicáveis no dia a dia. O que eu li (em 2 dias!) é emprestado do meu amigo leitor de trem Vagner, mas eu vou comprar um para mim. Realmente vale a pena!

15 de março de 2011

The Screwtape letters

Em português, o título desse livro é bem mais explícito: "Cartas de um diabo ao seu aprendiz", ao invés de "As Cartas de Screwtape", que é sim o nome próprio do diabo em questão e até um verbo segundo o Wikitionary, significando exatamente: "bagunçar, corromper, ser diabólico".

Esse livro do C.S.Lewis, autor de Crônicas de Nárnia, são cartas sucessivas do tio diabo para o seu sobrinho diabinho Wormwood, instruindo-o a como melhor tentar o humano que lhe compete trazer para o inferno - chamado de "paciente". O tal paciente se torna cristão logo no começo, então as sugestões do tio são muito em oposição a vontade de Deus, que é o "Inimigo". (Toda a nomenclatura é trocada: Nosso Pai Inferior é Satanás - Our Father Below).

Cada carta leva em consideração um tema: oração, ir a igreja, amizades de fora da igreja, amizades de dentro da igreja, apaixonar-se, relações familiares, guerra, pacifismo, coragem, solidariedade (a história se passa durante a 2a guerra mundial, na Inglaterra), etc. Mas sempre do lado de lá: o diabo tentando perverter o significado de cada coisa, cada emoção, cada pensamento, para que o paciente seja levado a pecar, e, de maneira duradoura e definitiva, afastar-se de Deus.

Eu não tenho palavras para dizer como eu gostei desse livro. É incrível! Primeiro, porque é uma história de ficção, e eu admiro muito os autores que conseguem colocar profundidade em romances ficcionais. Segundo, porque é simples (embora você tenha que prestar atenção porque como o C.S.Lewis fala : "o branco do personagem é o nosso preto") e nos leva a pensar em assuntos muito importantes como cristãos e nossa sociedade atual. Em 70 anos, não mudou muita coisa do essencial. Terceiro, porque é uma forma muito boa de aprender sobre cristianismo - seus conceitos estão contextualizados na realidade.

É claro que é uma história de ficção, mas cada carta - de 3 ou 4 páginas - pode gerar grandes discussões. Como quando ele fala que uma das artimanhas é o ataque emocional a fé, brincando / deturpando com o significado da palavra "real". 

"Eles dizem um aos outros de uma grande experiência espiritual, 'Tudo que realmente aconteceu foi que você escutou uma música num espaço iluminado'; aqui 'real' significa os simples fatos físicos, separados dos outros elementos da experiência que eles tiveram. Por outro lado, eles também dizem 'É tudo muito bom discutindo aquele mergulho alto sentado aqui na sua poltrona, mas espere até que você vá lá e veja como é realmente', aqui 'real' está sendo utilizado no sentido oposto para significar, não os fatos físicos (que eles já sabem enquanto discutem em suas poltronas) mas o efeito emocional desses fatos na consciência humana.Cada aplicação da palavra pode ser defendida; mas o nosso negócio é manter as duas rolando de uma só vez para que o valor emocional da palavra "real" possa ser posicionado agora em um lado da disputa, agora no outro, como melhor nos servir. (...) Assim no nascimento o sangue e a dor são 'reais', a alegria somente um ponto de vista subjetivo; na morte, o terror e a feiúra revela o que a morte 'realmente significa'."

Eu recomendo fortemente esse livro - assim como algumas pessoas que comentaram no post sobre o outro livro do C. S. Lewis, Cartas a uma Senhora Americana - para ter, ler e reler. Essa minha edição de 2002 (que eu comprei ano passado!), comemorativa dos 60 anos da obra, possui também o texto que o autor fez sob encomenda de um jornal americano "Screwtape propõe um brinde" e trata-se do diabrete fazendo o discurso da formatura de uma nova leva de diabinhos da escola preparatória - muito interessante também, é uma análise do pecado no mundo. Com certeza, um livro para entrar na minha lista de tops!