Mostrando postagens com marcador história.. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador história.. Mostrar todas as postagens

7 de dezembro de 2017

História Bizarra da Literatura Brasileira

Editora Planeta

Eu entendo o que a editora pensou: "olha aquela coleção de livros que não para de crescer! Vamos entrar nessa onda e dar o título "História Bizarra da Literatura Brasileira" para esse livro, vai chamar atenção." Mas a verdade é que ficou estranho, e não condiz com o conteúdo. Não há tanta coisa bizarra sim na história da literatura brasileira - mas não temo como negar como é interessante ter mais informações e saber anedotas peculiares sobre nossos autores e livros mais famosos.

Marcel Verrumo condensou uma coletânea de anedotas muito interessante - e no começo da literatura brasileira (tudo antes do século XIX) - há um trabalho de pesquisa ótimo, com muitas informações que eu desconhecia, apesar de sempre gostar das aulas de literatura da escola (geralmente nessa época, ficamos na literatura de Portugal).

Os capítulos são curtos, a linguagem é simples, e o foco é sempre "humanizar" os autores, e não discutir suas obras - e mesmo assim, eu anotei algumas dicas de livros para os quais ele despertou meu interesse. Acredito ser leitura obrigatória para professores de literatura, dá para tirar material para ilustrar uma aula, despertar o interesse, e talvez por associação de ideias, firmar um conteúdo na cabeça dos adolescentes.

No entanto, para quem busca Bizarrices, é melhor procurar em outro lugar...

26 de outubro de 2017

Gone with the wind

Editora Prabhat Books

Eu lembro de pedir para a minha mãe para assistir E o vento levou na TV, numa sessão noturna de filme da globo, de tão impressionada que eu fiquei com a propaganda. No entanto, não lembro de muita coisa do filme em si - então ler o livro agora, quase 20 anos depois, foi uma experiência totalmente nova.

É um romance daqueles, escrito por Margaret Mitchell, num contexto histórico incrível que é a guerra da Secessão nos Estados Unidos (quando o Norte brigou com o Sul por conta dos escravos).

Scarlett O'Hara é a mocinha não convencional, sem papas na língua e pronta para fazer inimizades. Rhett Butler também é um galã não convencional, pronto para chocar a sociedade conservadora e se dar bem no processo (mas ouso dizer que ele ainda sim consegue ser mais ético e moral que a Scarlett).

É uma história de amor, e também de sobrevivência e prioridades na vida. É um mundo completamente diferente do nosso - e também não muito. Eu gostei de ver um livro "feminista" de quase 100 anos (não exatamente com relação a Scarlett em toda sua trajetória, mas em partes dela).

Eu realmente gostei de ter lido esse livro, e poder ver como as pessoas da época do livro (1936) viam essa época da história americana - não dá muito para afirmar que era tudo daquele jeito mesmo. E vê-se como o livro tem apelo, o filme foi lançado apenas 3 anos depois! 


23 de dezembro de 2016

O Rouxinol

Editora Arqueiro

Logo no começo, o livro O Rouxinol apresenta uma senhorinha e passa para o flash back da vida de duas irmãs francesas na II Guerra Mundial. Então é claro, e não spoiler, que uma delas está viva ainda - apesar de todos os perigos e percalços que elas passaram - mas a dúvida é: quem? E mais do que isso - porque você sempre pode chutar ou pescar evidências - como?

Eu gostei muito de ler um livro na perspectiva da França Ocupada - eu sei que Toda Luz que não podemos ver também era sobre isso, mas aqui falamos da linha de frente da Resistência. De pessoas tendo que ter alemães morando em suas casas. Do dilema diário de resistir, enfrentar, aceitar, fugir. 

Há o lado da vítima, que é perseguida, que é atacada, que é aprisionada e que é morta.

Há o lado do algoz, convicto, consciencioso.

E agora eu posso imaginar quão difícil é ser esse terceiro lado, que é impossível ser imparcial, que ser omisso já é uma decisão para um dos lados, que por vezes demonstra muito mais coragem do que aquele que ataca.

Eu admiro todos aqueles que, um dia, se meteram numa briga para defender o lado mais fraco, para protegerem alguém, para fazerem o que é certo. Ainda há pessoas assim, heróis discretos, valentes, diários. Que Deus possa proteger e ajudar vocês.



21 de dezembro de 2016

The Royal Baby Book

Editora Royal Collection Trust

Amiga que é amiga sabe que você adora a monarquia inglesa e traz um livro só sobre bebês reais desde a rainha Vitória, em 1849. São capítulos curtos que mostram pinturas e fotos, alguns objetos das crianças (tem até bilhetes escritos para os pais), mostrando um pouquinho da cultura da época. Os fatos e fotos foram compilados por Nina Chang e Sabrina Stevenson.

8 de dezembro de 2015

A Maça Envenenada

Editora Companhia das Letras - Capa Elisa von Randow 

Eu realmente gosto do estilo do Michel Laub - ele faz um romance psicológico, escancara crises existenciais, sem ser chato. No livro "A Maça envenenada", o personagem principal relembra da semana que precisava decidir entre em ficar de guarda no quartel ou ir para o show do Nirvana em São Paulo com a namorada. Suas memórias se entrelaçam com a história de uma garota que passou 90 dias presa num banheiro com outras mulheres, refugiadas do genocídio em Ruanda.

O livro trata de perdão e resiliência, arrependimento e vitimização. Sem querer doutrinar ninguém, ou mesmo tirar conclusões moralistas. 

Estou aguardando pelo próximo livro da trilogia, que deve ser mais recente ainda, década de 2000, já que o primeiro se passa primordialmente na década de 80 (e esse, na de 90).

22 de junho de 2015

Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo

Editora Leya - Ilustrações da Capa Gilmar Fraga

Continuando o sucesso da série, depois de algumas ramificações laterais como Filosofia e Futebol, esta aí a sequência natural Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo, de Leandro Narloch (tivemos Brasil e América Latina antes). 

Novamente, o autor escolhe alguns episódios da história para colocar uma perspectiva diferente do que já conhecemos, fruto das nossas aulas de história tão enraizadas no pensamento de esquerda. Com certeza deve ter muita gente que não gosta desse ponto de vista, mas que Leandro Narloch se esmera para apresentar fatos baseados em documentos e evidências, é verdade. Algumas coisas são só fofoquinhas, para tirar a aura de herói de pessoas como Gandhi (que gostava de dormir com jovens nuas para resistir a tentação) e Madre Teresa de Calcutá (cuja instituição na Índia, de acordo com alguns relatos, mantinha os pacientes em dor por motivos religiosos, mesmo tendo condições de comprar remédios e anestésicos). Nesses casos, o próprio autor afirma que não muda o que eles conseguiram de bom para muita gente, mas nos ajuda a colocar homens em seus devidos lugares - como homens.

Há também um capítulo interessante em que frases do manual ideológico sobre fascismo de Mussolini foram apresentadas para políticos brasileiros para ver se eles concordavam com elas ou não (leia sobre a experiência nesse relato do autor do livro). De acordo com o senso comum, espera-se que os deputados de "direita" sejam os mais fascistas, no entanto, os que concordaram com o maior número de afirmações são de esquerda (partidos como PT, PDT, PCdoB), com exceção do Dep. Jair Bolsonaro (Que é declaradamente de direita). O que isso mostra? Que as pessoas em geral (incluso deputados) não sabem o que é o fascismo, que foi banalizado em um mero xingamento moral, e que as ideias de esquerda encontram eco em uma das causas de uma das maiores guerras da humanidade...

Eu gostei da leitura e recomendo como curiosidade e com senso crítico. O único ponto é que eu li no kindle, como e-book, e a diagramação é confusa para esse tipo de aplicativo. Quem já viu o livro em papel, sabe que essa série possui notas de rodapé e notas laterais que escapam um pouco do ritmo normal de leitura, e isso ficou bem confuso na versão digital.


25 de novembro de 2014

Outros 500 - Uma conversa sobre a alma brasileira

Editora Senac - Capa Moema Cavalcanti

A proposta do livro "Outros 500" está explicada em seu subtítulo: uma conversa sobre a alma brasileira. Mais que isso, é uma psicanálise da tal alma do Brasil, feita por uma analista junguiano. Em um formato de conversa, a jornalista Lucy Dias dialoga com Roberto Gambini sobre temas diversos - a origem, trauma da infância, complexos, do povo e do país. Só nessa sinopse, eu acho que muita gente já ia decidir não ler esse livro. Eu dou uma chance.

Lendo esses livros de psicologia analítica é que eu me descubro mais engenheira e exata. Cada capítulo é sobre um assunto específica e, em vários momentos eu não consegui ver muito nexo entre uma resposta e a pergunta seguinte (e, às vezes, confesso, entre a pergunta e a resposta). Esse negócio de generalizar o país e o povo como uma entidade minimamente homogênea, que pode ser considerada "algo específico" e tirar conclusões psicológicas é realmente muito estranho - e muito difícil de eu aceitar também.

Algumas coisas fazem sentido (como o jeitinho brasileiro), mas outras são muito estranhas - como dizer que o professor é uma mulher frustrada que precisa ser desconstruída e se reconhecer como um ser ignorante e aprendente. E eu: hein??

Além disso, o Roberto Gambini estudou bastante os indígenas brasileiros, então ele propõe como saída um "retorno às origens" e uma maior identificação e até adesão a cultura indígena. Tipo argumentar que bebê índio não chora, porque fica amarrado no corpo da mãe o tempo todo, de cara para o peito, mamando a vontade, enquanto ela carrega ele para cima e para baixo - então a brasileira deve repensar a sua maternidade... E eu: oi??

Tem alguns pontos que eu achei interessante, e que o país deu sinais de mudança nesses últimos anos (o livro foi escrito na virada do século), como uma certa conscientização política (estou falando de sinais!), mas realmente acredito que esse livro faça sentido para o pessoal de Psicologia mesmo, ou que goste bastante desse assunto.

31 de janeiro de 2013

Guia Politicamente Incorreto da Filosofia

Editora Leya - Capa Ana Carolina Mesquita
Às vezes, modinhas chegam na literatura e se tornam irresistíveis... Se "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" fez sucesso, vamos aproveitar, pegar um tema um pouco mais espinhoso e ver se vende como "Guia Politicamente Incorreto da Filosofia"... Talvez tenha atraído um público maior, mas o título não é coerente mesmo com o livro, mas o subtítulo sim: "Ensaio de Ironia".

Luiz Felipe Pondé destila capítulos bem irônicos sobre as principais ideias correntes do politicamente correto atual - pincelando aqui e ali a origem de uma teoria filosófica ou um filósofo  Não é uma versão irônica e resumida do "Mundo de Sofia" como poderia se esperar.

Posto isso, afirmo que o livro é muito bom. Ele é incômodo, da maneira como o autor propõe que seja, porque foge do discurso que se vê muito na mídia e na boca de intelectuais por aí. O livro faz pensar e ainda serve de mote para discussões com os amigos - sobre feminismo, política, romantismo, sexualidade, riqueza, justiça social e outros aspectos comuns da vida humana. Só é preciso tomar cuidado para escolher o seu interlocutor para uma discussão dessas... Provavelmente com ninguém que se leve muito a sério... :) 

22 de setembro de 2012

The Shakespeare Guide to Italy

Editora Harper Perennial - Capa Milan Bozic
Foi absolutamente irresistível ler um livro com o título "O Guia de Shakespeare para a Itália" - imaginem que o autor, Richard Paul Roe, viajou pela Itália procurando as referências que ainda estão lá nas peças "italianas" de Shakespeare.

Muitos estudiosos acreditavam que ele nunca tinha ido para a Itália, mas escreveu sobre esse país de "ouvir falar", cometendo vários erros (como ir de barco de Verona até Milão, duas cidades não litorâneas). O que Richard Paul Roe provou, através passeios, estudos de geografia e documentos, que o autor bardo não estava errado, ele descreveu exatamente o que viu no século XVI, mostrando também um profundo conhecimento cultural da sociedade da época (e que existia sim uma via aquática entre essas duas cidades, incluindo canais artificiais próprios para a navegação, que é utlizada em Dois Cavalheiros de Verona).

Embora algumas construções e lugares não existam mais da maneira como eram antigamente (como Messina citada em "Muito barulho por nada", que foi totalmente destruída depois de um terremoto e hoje está reconstruída), muito ainda permanece, como os bosques de sicômoros onde Romeu estava em Verona, ou mesmo uma boa aposta para a casa de Bianca e Katherina de A Megera Domada.

Um ótimo livro para levar numa viagem para a Itália e se espantar com o incrível Shakespeare que, além de escrever histórias ótimas, foi atencioso com os seus mínimos detalhes.

20 de junho de 2012

The Downing Street Years

Editora HarperCollins
Que eu adoro a Inglaterra e - quase - tudo relacionado é um fato. Mas o que me levou a ler esse livro da Margaret Thatcher, "Os anos em Downing Street", foi obviamente o filme da Meryl Streep e seu retrato de uma mulher líder, que obviamente eu ainda não assisti, porque já que eu comecei a ler o livro, que eu acabe antes de ver uma versão cinematográfica, certo? E isso demorou várias semanas porque esse livro é enorme e levemente intragável dadas as altas doses de política britânica que contém.

Primeiro, vamos deixar claro que eu não entendo nada de política e tenho bem pouco interesse no assunto, ou seja, não me arrisco a dizer que eu concordo ou apoie as ideias dela, ou que possa julgar suas decisões, mas uma coisa é fato: admiro a sua integridade em seguir suas convicções. Nesse livro, ela apresenta suas ideias de conservadora aparentemente pura (no sentido capitalista da coisa) de maneira aplicada em todas as situações que enfrentou como primeira ministra: da greve dos mineiros a disputa das Falklands, das negociações bélicas com a URSS a negociações econômicas dentro da Comunidade Europeia, no trato com a dissidência na Irlanda do Norte às privatizações de praticamente tudo.

Embora ela fale muito sobre sua atuação política, o que eu gostava era quando seu lado feminino aflorava - num comentário sobre a roupa para um evento  ou a decoração da residência oficial na Downing Street. Também achei interessante o fato de ela se preocupar em dizer que a Rainha não tem uma posição de fachada somente, Thatcher fazia reuniões semanais com ela, e disse que não tem como não valorizar a experiência de alguém que esteve tão perto do poder por décadas.

Gostei de aprender um pouco sobre o panorama mundial na década de 80, sabendo que se trata de uma versão da história completamente parcial. Mas é história, que construiu com certeza esse mundo como conhecemos hoje.

22 de fevereiro de 2012

Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil

Editora Leya - Capa Ana Carolina Mesquita

Na orelha do livro, o autor Leandro Narloch já diz que este é uma provocação, "uma pequena coletânea de pesquisas históricas sérias, irritantes e desagradáveis, escolhidas com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos." E ele cumpre o objetivo com primor, porque mesmo que não se enfurece - como eu - fica bem incomodado com alguns capítulos que levam por terra muito daquilo que é nossa identidade nacional e o que a gente entende como "Brasil".

Alguns fatos reexplicados são bem fáceis de engolir: como o fato da feijoada não ter sido um prato inventado pelos escravos nas senzalas - já que parece mesmo uma adaptação de pratos de feijão e carne como o Cassoulet francês, e que os desfiles de escola de sambas foram criadas por um Getúlio Vargas facista rumo a uma criação de uma identidade nacional bem ordenada - como uma parada nazista tropicalizada. Mas o "outro lado" de histórias como a guerra do Paraguai e da invenção do avião (é, gente, não foi mesmo o Santos Dumont, e isso também vale para o relógio de pulso) são bem mais difíceis de lidar, e fica aquele amargo na boca, de quem se sente enganado por tanto tempo.

Muito mais inesperado é saber que tivemos uma monarquia tão "moderna" e quase republicana e a verdadeira história sobre o Acre (que existe mesmo, dado o tamanho prejú que incorre ao país por sua conta). Já a parte mais politicamente incorreta, num tempo de cotas, é sobre índios e escravidão que deve fazer políticos e humanitários arrancarem os cabelos da cabeça (ou quererem calar o Narloch desesperadamente).

Gostei muito desse livro, que é muito importante para reativar nossa capacidade crítica e lógica ao ver a história do Brasil - lembrando de procurar fatos e não ideologias.

17 de fevereiro de 2012

Uma breve história do mundo

Editora Penguin - Capa Cathy Larsen

Entrei finalmente na onda de ler livros de história. Não me entendam mal, eu gostava relativamente de história na escola (não como literatura ou matemática), mas sempre por causa dos professores. Eles que sabiam (ou não) fazer tudo ficar bem mais atraente. No caso de livros, novamente, está tudo na mão do autor (e obviamente não da história em si, que pode ser um fantoche mesmo).

Fui supreendida positivamente com esse livro do Geoffrey Blainey, que eu prefiro traduzir como "Uma história muito curta do mundo", já que ele mesmo disse na introdução que ao escrever seu primeiro livro ( "Uma história curta do mundo"), recebeu críticas que ainda estava muito longo, então ele fez essa versão ainda mais compacta (450 páginas da pré história a até - quase - hoje).

Seu desafio é realmente contar o que "importa" filtrando muito do que é interessante, mas não tão essencial assim. Blainey consegue isso, escrever um todo fluido e coerente, incluindo passagens sobre costumes e hábitos das pessoas comuns de cada época e região - o que é muito legal - e não deixando de citar povos e fatos fora do eixo Europa - Estados Unidos, principalmente da Oceania, já que ele é australiano.

O livro é denso, cada assunto ocupa basicamente um parágrafo, mas a leitura vai fácil e rende. Vale a pena para matar as saudades de bons professores e guardar uns fatos curiosos para jogar numa conversa entre amigos.

27 de janeiro de 2012

História do cerco de Lisboa

Editora Companhia das Letras - Capa Hélio de Almeida sobre relevo de Arthur Luiz Piza

O meu livro preferido do José Saramago é esse, uma verdadeira história de amor. Ou duas: nos dias de hoje, a tensão crescente entre Raimundo Silva e Maria Sara, e na época do ataque mouro a Lisboa, em 1147, entre Moogueime e Ourona. As histórias se entrelaçam porque Raimundo Silva, revisor de texto, resolve colocar um "não" numa frase de um livro da história de Portugal - que os cruzados NÃO ajudaram os portugueses a retomar Lisboa das mãos dos muçulmanos, e daí surge toda uma história paralela considerando que isso é verdade.

Meio contemporâneo, meio histórico, mas inteirinho Saramago, com muitos diálogos e orações curtas dentro de frases e parágrafos gigantes, a narração vai encantando e envolvendo. Esse livro tem um dos diálogos mais românticos que eu já li, e que me dá frio na barriga toda vez que eu releio. Para ver a genialidade de Saramago, o clímax da conversa é a simples frase "eu gosto de si".

Então vem um grão de sabedoria: quando a pessoa resolve falar, logo em seguida a essa primeira declaração, "Posso dizer-lhe que o/a amo?" (estou tentando não dar um spoiler muito nítido, por isso os dois possíveis gêneros), a conversa continua assim:

"Não, diga só que gosta de mim, Já o disse, Então guarde o resto para o dia emque for verdade, se esse dia chegar, Chegará, Não juremos sobre o futuro, esperemo-lo para ver se ele nos reconhece, ..."

(Fica subentendido, é claro, que a pontuação em Saramago é assim, sem ponto final ou de interrogação, as pessoas do discurso mudam na letra maiúscula, o que eu acho que dá muita agilidade ao texto - procure ler em voz alta.)

Gosto dessa abordagem de que o amor é algo que vem com o tempo, um sentimento construído em cima do relacionamento e um pouco de destino - desconfio das pessoas que saem amando assim a primeira vista (ao contrário da paixão, é claro, que geralmente é súbita). Mas ver o romance surgindo - que delícia que é! - é viver junto com os personagens, é aquecer o coração, é lembrar da nossa própria história ou sonhar com emoções futuras (repetidas ou novas). Genial, esse Saramago.  

11 de dezembro de 2011

Os miseráveis

Editora Cosac Naify
Eu já fiz um post sobre esse livro, combinando com a semana em que eu conheci Paris, 9 anos depois de ler pela primeira vez e pedindo para ganhar de presente. No mês seguinte, dia dos namorados de 2010, eu ganhei e, desde então, virou meu livro de cabeceira, para ir lendo aos pouquinhos, em alguns momentos mais intensamente, em outras semanas, quase nada.

Continuo muito impressionada por esse trabalho hercúleo de Victor Hugo, ele demorou anos para escrever "Os Miseráveis" entre estudos sobre temas específicos que seriam tratados, como o próprio enredo e a construção dos personagens. É um livro em que a história vai sendo contada, mas de repente o autor se interrompe para "explicar" algum ponto, ou para voltar alguns anos na vida de um personagem que está ali por poucas cenas, um coadjuvante totalmente secundário, só para entrelaçar uma história muito mais consistente e coerente.

A história começa no interior da França, mas a maior parte se passa em Paris, e realmente o cuidado com que Victor Hugo descreve essa cidade magnífica, quase que como um personagem da trama, é incrível. E e não pude deixar de imagina como seria fantástico, a medida que se fosse lendo essa história, ir pessoalmente às ruas e aos bairros em Paris que são citados. Uma Paris sem Torre Eiffel, mas com todo charme que existe até hoje...

Se alguém se aventurar a fazer isso, depois me conta? (Fér, que tal você???)

6 de dezembro de 2011

A Concise History of Christian Thought

Editora Baker Academy
Eu peguei esse livro (Uma história concisa do pensamento cristão) há uns 6 meses atrás, na biblioteca da minha igreja (IPAlpha) para ajudar a fazer um trabalho sobre história da teologia para  o curso de estudos teológicos a distância do Centro Presbiteriano de Pós Graduação Andrew Jumper do Mackenzie que eu estive fazendo esse ano (too much information, mas acabei de contar o que mais ocupou meu kindle este ano: textos do curso online).

Na época eu fui direto ao ponto, usando o índice, li o que precisava e pronto. Mas achei tão interessante, um resumo tão bem feito (a parte concisa), que resolvi ler inteiro - mas aos poucos, bem aos poucos, eu diria.

O autor, Tony Lane, começa ali com os Pais da Igreja, e vai seguindo com teólogos tanto da Igreja Católica Ocidental, como Oriental, passa pelos protestantes e chega até bem recentemente (essa edição revista vai até o começo do século XXI). Para cada um, poucas páginas, no máximo 4 ou 5, dando um panorama geral sobre o contexto, as ideias principais da pessoa e um trecho da sua obra principal. Não há nada de enrolação, então cada frase contém muito conteúdo mesmo, é preciso prestar bastante atenção para entender - principalmente porque se trata de discussões filosóficas e teológicas, coisa que a maioria das pessoas nem considera muito, então é todo um esquema diferente de pensar. (Sem mencionar que é em inglês, então é bom um certo conforto com a língua).

Eu gostei muito desse livro mesmo, pois me ajudou a entender bem melhor "como chegamos até aqui", a evolução do pensamento cristão, influenciado pela e influenciando a cosmovisão da humanidade. Não sei se eu teria paciência de estudar cada um dos pensamentos e cada uma das construções doutrinárias com profundidade, por isso a abordagem mais abrangente e breve deste livro me foi suficiente para aprender sobre o contexto da minha fé. Recomendo como introdução para quem tem interesse sério no assunto.