27 de janeiro de 2012

História do cerco de Lisboa

Editora Companhia das Letras - Capa Hélio de Almeida sobre relevo de Arthur Luiz Piza

O meu livro preferido do José Saramago é esse, uma verdadeira história de amor. Ou duas: nos dias de hoje, a tensão crescente entre Raimundo Silva e Maria Sara, e na época do ataque mouro a Lisboa, em 1147, entre Moogueime e Ourona. As histórias se entrelaçam porque Raimundo Silva, revisor de texto, resolve colocar um "não" numa frase de um livro da história de Portugal - que os cruzados NÃO ajudaram os portugueses a retomar Lisboa das mãos dos muçulmanos, e daí surge toda uma história paralela considerando que isso é verdade.

Meio contemporâneo, meio histórico, mas inteirinho Saramago, com muitos diálogos e orações curtas dentro de frases e parágrafos gigantes, a narração vai encantando e envolvendo. Esse livro tem um dos diálogos mais românticos que eu já li, e que me dá frio na barriga toda vez que eu releio. Para ver a genialidade de Saramago, o clímax da conversa é a simples frase "eu gosto de si".

Então vem um grão de sabedoria: quando a pessoa resolve falar, logo em seguida a essa primeira declaração, "Posso dizer-lhe que o/a amo?" (estou tentando não dar um spoiler muito nítido, por isso os dois possíveis gêneros), a conversa continua assim:

"Não, diga só que gosta de mim, Já o disse, Então guarde o resto para o dia emque for verdade, se esse dia chegar, Chegará, Não juremos sobre o futuro, esperemo-lo para ver se ele nos reconhece, ..."

(Fica subentendido, é claro, que a pontuação em Saramago é assim, sem ponto final ou de interrogação, as pessoas do discurso mudam na letra maiúscula, o que eu acho que dá muita agilidade ao texto - procure ler em voz alta.)

Gosto dessa abordagem de que o amor é algo que vem com o tempo, um sentimento construído em cima do relacionamento e um pouco de destino - desconfio das pessoas que saem amando assim a primeira vista (ao contrário da paixão, é claro, que geralmente é súbita). Mas ver o romance surgindo - que delícia que é! - é viver junto com os personagens, é aquecer o coração, é lembrar da nossa própria história ou sonhar com emoções futuras (repetidas ou novas). Genial, esse Saramago.  

2 comentários:

  1. Oi Taci!
    Eu também adoro Saramago! Este livro ainda não li, mas esta na minha fila (comprei quando fui para Portugal).
    Engraçado que hoje eu também acho que este jeito de escrever agiliza o texto, mas lembro que o primeiro Saramago que li (na oitava série, se eu não me engano), foi difiiiiiicil para pegar o jeito... Parecia muito mais pesado, frases infinitas sem fim! Mas é questão de costume, acho.

    Bjs!
    Fér

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  2. Concordo com a Fernanda, ler Saramago e uma questão de costume sim,.. E eu tbm adoro, mas esse livro ai eu nao li ainda... Vou comprar... Algum dia! Depois q eu ler tudo q tá na minha lista.... Rsrs... Bjos!
    Debo

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