19 de janeiro de 2012

Heartburn

Editora Vintage
Eu "descobri" Nora Ephron numa entrevista da revista Lola, mas se ela não é muito conhecida de nome, dificilmente você não assistiu algum filme dela, como Harry e Sally, Mensagem para você ou Julia e Julie. Eu gostei muito do papo dela e fui procurar seus livros, e escolhi Heartburn pelo título - que é intraduzível em português, já que significa "gastrite", "queimação", rementendo a comidas, mas sem o jogo de palavras do coração sendo machucado.

Sabe aquela amiga que não para de falar, vai emendando uma história na outra com muitos comentários paralelos para explicar esta ou aquela pessoa que vai surgindo, ou as emoções que ela está sentido? Esta é Rachel Samstat, que começou com uma coluna de jornal em que entrevistava pessoas e passava receitas delas, e tornou-se uma pequena "celebridade" com programa de TV e livros culinários na mesma linha, em que as receitas fazem parte de um contexto maior (neste, não é diferente, há diversas receitas no meio de parágrafos, a medida em que ela associa uma situação a um prato, como carne assada ou torta de limão).

O ponto de partida do livro é quando ela descobre que, grávida de 7 meses, o marido a está traindo desde praticamente o começo da gravidez (eles tem outro filho pequeno também). Então ela vai contando como tudo aconteceu, com flashbacks do namoro, do 1o casamento dela, de amigos, do trabalho, tudo numa linha contínua como um monólogo. Ela é engraçada e fala coisas muito inusitadas, então o livro não fica melancólico, embora a situação seja grave e ela esteja triste.

O livro é da década 80, então é interessante também ver referências a um mundo tão diferente em certos sentidos (em que grávidas tomavam drinks), mas não tão diferentes nas relações entre homem e mulher. Há muitas citações que eu gostaria de compartilhar aqui, mas eu vou colocar duas (longas, eu sei):

"Às vezes, eu acredito que o amor morre mas a esperança dura eternamente.
Às vezes, eu acredito que a esperança morre, mas o amor dura eternamente.
Às vezes, eu acredito que sexo mais culpa igual a amor,
e, às vezes, eu acredito que sexo mais culpa igual a sexo bom.
Às vezes, eu acredito que amor é tão natural como as marés,
e, às vezes, eu acredito que amor é um ato de vontade.
Às vezes, eu acredito que algumas pessoas são melhores no amor do que outras,
e, às vezes, eu acredito que todo mundo está fingindo.
Às vezes, eu acredito que amor é essencial,
e, às vezes, eu acredito que a única razão do amor ser essencial é que de outra forma você passaria toda sua vida procurando-o."

"Muito tem sido escrito recentemente sobre o fato de que homens não choram o suficiente. Chorar é tido como uma coisa desejável, um sinal de sensibilidade masculina madura, e acredita-se geralmente que quando meninos pequenos são ensinados que chorar não é coisa de homem, eles crescem incapazes de lidar com dor e angústia e desapontamento e sentimentos em geral. Eu gostaria de falar duas coisas sobre isso. A primeira é que eu sempre acreditei que chorar é uma atividade superestimada: mulheres fazem demais, e a última coisa que devemos querer é que isso se torne um excesso universal. A segunda coisa que eu quero dizer é: cuidado com homens que choram. É verdade que homens que choram são sensíveis aos e em contato com sentimentos, mas os únicos sentimentos que eles tendem a ser sensíveis a e em contato com são seus próprios."

Por fim, esse livro foi publicado recentemente no Brasil como "O Amor é Fogo", mas o filme adaptado do livro, com Meryl Streep e Jack Nicholson, chama-se "A difícil arte de amar" e é de 1986.

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