25 de abril de 2012

A língua absolvida

Editora Companhia das Letras

Elias Canetti é um ganhador do prêmio Nobel (1981) que escreveu as memórias de sua infância / juventude nesse livro, "A língua absolvida". Nós somos apresentados a um mix de cultura surpreendente: ele é judeu sefardita (de origem ibérica), que nasceu na Bulgária, morou na Inglaterra, na Áustria e na Suiça, tudo isso antes dos 16 anos, no começo do século passado (com a Grande Guerra de pano de fundo, quando não se sabia que ela era a primeira).

A língua aqui pode ser uma das várias que ele falava: o ladino (um dialeto de judeus sefardins), o búlgaro, o inglês ou o alemão, mas há maiores chances de ser esta última, que foi inculcada em sua cabeça pela sua mãe em 3 meses, de uma maneira deveras traumática. Mãe esta com a qual ele tem uma relação das mais estranhas, pois ela é claramente desequilibrada, e tem 3 filhos para criar (ele é o mais velho), depois que o marido morreu precocemente (enquanto eles moravam em Manchester, com cerca de 30 anos).

Embora psicólogos de plantão possam deitar e rolar para destrinchar essa relação complicada de mãe e filho, o que me chamou atenção mesmo é a relação dele com a literatura, como ele chegou aos clássicos tão cedo, a própria censura que sua mãe foi fazendo de umas e outras obras, e o seu processo de auto-descobrimento como escritor. Do menino que inventava histórias para as figuras do papel de parede até o primeiro livro, dedicado a mãe (sim, sempre ela!), que ele sabia que era muito ruim.

Como o conhecimento literário dele é construído com autores de língua alemã, principalmente, toda uma gama de autores não muito usuais para nós, brasileiros, é apresentada ao longo do livro. Vale a pena para os interessados no assunto.

(Ah, um comentário curioso, mesmo sabendo tantas línguas, ele declara ter escrito todos os seus livros em estenografia, a qual ele aprendeu no começo da adolescência. Que louco, não?)


Nenhum comentário:

Postar um comentário