16 de abril de 2012

Claraboia


Editora Companhia das Letras - Capa Hélio de Almeida

É muito estranho ler um livro do Saramago antes de ele ser, propriamente, Saramago. Ele escreveu "Claraboia" na década de 50 e depois de ser recusado pelas editoras, o seu próximo livro só aconteceu 20 anos depois, e nesse período, ele se transformou no escritor que conhecemos hoje. Não é que o livro seja ruim - não tinha como ser - mas não é o Saramago. Para começar, os diálogos tem travessões, e todos os personagens são claramente identificados com nomes! :)

A história é a respeito de moradores de um prédio bem simples em Lisboa - pai e mãe com a filha adolescente, pai português e mãe espanhola num casamento acabado com o filho pequeno, a mulher sustentada pelo amante, as duas velhas e as duas jovens (mãe, tia, filhas), o casal que aluga um quarto para o forasteiro... A trama é contínua no tempo, então temos manhã, tarde, noite, acompanhando um pouquinho da vida de cada núcleo e vendo como essas histórias se tocam ou cruzam, como se o espaço restrito necessariamente aproximasse as pessoas (não mais, se você vive em São Paulo).

A única discussão filosófica que ocorre, bem claramente, é a conversa entre o sapateiro, senhor de idade, e o jovem a quem ele aluga um quarto, sobre o sentido da vida, por assim dizer. O senhor de idade é um comunista "aposentado", que acredita no amor a humanidade, o jovem já é pessimista e desiludido. Engraçado pensar num Saramago jovem que possa ter projetado um pouco de si em um desses dois personagens... ou nos dois?

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