30 de setembro de 2025

Trilogia de Copenhagen

 

Editora Companhia das Letras

A trilogia de Copenhagen são três volumes autobiográficos da autora Tove Ditlevsen: Infância, Juventude e Dependência. Ela é poetisa, mas esse livro sobre sua vida que se tornou mais famoso Ele foi publicado na Dinamarca em 1967, mas ficou famoso ao redor do mundo mais recentemente, com muitas traduções.

É incrível como podemos conhecer a menina, a jovem, e depois a mulher adulta - com filhos, obras publicadas, e um vício em opioides que a levou a morte - essa obra em particular termina quando ela está tentando a desintoxicação pela segunda vez.

Ela veio de uma classe baixa, então é interessante também o cenário social - o que são pessoas pobres no pós II Guerra na Europa.

É um livro sofrido e muito bom de ler.


29 de setembro de 2025

O Bom Stálin

 

Editora Kalinka

Víktor Eroféiev escreveu essa obra na década de 2000. Parece um livro de memórias, principalmente centrado na figura do seu pai - o tal Bom Stálin - que fez carreira como funcionário público e perdeu seu prestígio na publicação do almanaque Metropól por seu filho, que também o levou a ser perseguido pelo governo da URSS.

É um bom panorama da sociedade soviética privilegiada, na segunda metade do século XX. Mas a narração é confusa, ela vai e volta, e é fácil se perder sobre quando e com quem os episódios que ele conta acontecem. 

Aprendi bastante de história recente na discussão no clube do livro, mas não recomendo, porque achei meio chato.


Igrejas que Calam Mulheres

 

Editora Mundo Cristão

Este é o primeiro livro que eu leio do Yago Martins, e um claramente conservador sobre o papel das mulheres. No entanto, considerei até que razoavelmente moderado em algumas opiniões, como o fato de admitir diaconisas nas cartas de Paulo.

No começo, fala que é um livro voltado para pastores, mas a medida que ele avança, fala diretamente com mulheres e homens membros da igreja. 

É interessante por desconstruir algumas doutrinas sobre véus, vestes e estética, mas achei um pouco fraco o capítulo sobre trabalho (não é pecado a mulher trabalhar fora de casa, mas também não é necessário). Embora, pelos relatos de seu trabalho pastoral, ele seja bem compreensivo sobre as diferentes configurações das famílias brasileiras. Mas é isso, compreensivo, como se o ideal fosse ainda a casa da mulher de provérbios 31, que inclui, é claro, servos. (Eu sempre me questiono: esses servos tem família? Eles são filhos de Deus? Essas mulheres servas também não deveriam estar em casa e não servindo a mulher virtuosa?)

De qualquer forma, ele cita extensamente as atrocidades que são faladas por outros pastores, líderes e influencers cristãos (se é que são cristãos mesmo), então esse livro é sim uma postura bem moderada e razoável. 






19 de setembro de 2025

Carta à Rainha Louca

 

Editora Alfaguara

O livro de Maria Valéria Rezende, Carta à Rainha Louca, é uma ficção histórica, no final do século XVIII, dando um panorama geral sobre a sociedade brasileira da época - o tratamento dos escravizados, as filhas de família rica, e os outros: as mulheres e homens não tão livres assim.

Apesar da linguagem antiquada, o livro é uma crítica social muito condizente com a atualidade, o que é interessante, mas realmente descaracteriza como romance histórico, na minha opinião. Mas será que é possível não ter esse viés, mesmo quando não for tão óbvio quanto o é nesse livro?

Recomendo a leitura - mas pode ser um pouco cansativo.

14 de setembro de 2025

Wolf Hall

 

Editora Todavia

Eu queria muito ter amado "Wolf Hall", da Hilary Mantel, por diversos motivos: é sobre a realeza da Inglaterra, é um romance histórico, ganhou muitos prêmios... Mas a verdade é que o livro se arrastou pela minha vida nos últimos meses (um pouco por ser um livro físico), e eu acredito que, principalmente, por eu não conhecer tão bem a história inglesa.

Acredito que os leitores locais devem já ter muitas referências sobre os personagens - a começar pelo Thomas Cromwell, e aí algumas piadas internas, ou sacadas de desenvolvimento de personagens, estão além da minha compreensão. 

Mesmo assim, é interessante ver a construção ficcional desse período tão crítico: o momento que Henrique VIII quer se casar com Ana Bolena, e como nada é tão simples como "ele queria o divórcio, então criou a Igreja da Inglaterra separada da Igreja Católica".

É um bom livro, merece seus prêmios, mas incrivelmente me parece muito regional.

12 de setembro de 2025

Mentiras em que as meninas acreditam e a verdade que as liberta

 

Editora Vida Nova

É só um livro cristão dos Estados Unidos fazer sucesso que vão surgir inúmeras variações. Aqui, a obra original é "Mentiras em que as mulheres acreditam e a verdade que as liberta", de Nancy Leigh DeMoss, do ano 2000. Vinte e cinco anos depois, já temos mentiras sobre homens, garotos, garotas, meninos, meninas...

É um bom livro: muito claro, com atividades para interação e momentos claros que falam: vai contar isso para a sua mãe! (e, adivinhem, um livro específico para as mães ajudarem as crianças a lerem esse livro). (não comprei nem um nem outro, li no kindle unlimited).

Em um dos capítulos, que fala sobre a mentira de ter mais liberdade, a autora justifica que as meninas precisam primeiro de mais responsabilidade, afinal, com 14 anos antigamente já se casava... Mas no capítulo sobre namoro, fala que não é para namorar porque se é muito novo - ou seja, o mesmo argumento não vale. (Não sou a favor de namoro para meninas de 8 a 12 anos, a quem esse livro é destinado, mas não gosto de argumentos fracos sobre esse assunto).

O outro ponto é que eu achei bem radical a regra de aplicar a todo entretenimento em Filipenses 4.8. Eu acredito que deve existir limites, claro, mas vai sobrar pouca coisa no mundo se aplicarmos as regras que a autora sugere:

- Não tem nenhuma inverdade, como ensinar sobre evolução ou dizer que Deus não é real.

- Não tem cenas, letra ou situações que fazem coisas coisas ruins, como beber ou usar drogas, parecer atraentes

- Seus pais diriam que não tem problema você assistir ou ouvir (A única regra que deve valer, na minha opinião)

- As pessoas se vestem e falam com recato.

- Não deixa em sua mente pensamentos ou imagens feias ou violentas.

- Você mostraria para seus pais, seu pastor, seus professores e outros.

- Foi criado com cuidado e a ajudou a usar a imaginação.

- Você recomendaria para outros.

Claro que, provavelmente, a ideia seja levar a não assistir por nografia, mas vai pelo ralo quase tudo.

Assim, eu estou considerando ler com minhas filhas, acho que tem muitas lições valiosas, mas tem realmente esses dois poréns.

Todo o resto é muito cedo

 

Editora Bazar do Tempo

Eu resisto pouco a títulos diferentes, e esse do livro da Luiza Mussnich é muito bonito: Todo o resto é muito cedo. 

Além disso, vale a pena, de vez em quando, ler poesia - e ainda algo contemporâneo, mostrando que poesia de amor ainda cabe nesse mundo.

Eu gostei, mas não amei. 


10 de setembro de 2025

Despertar

 

Editora Recriar

O livro "Despertar" de Karen Colares é uma introdução sobre teologias feministas, e ela explica as principais vertentes, diferenciando os pressupostos de cada linha.

Os primeiros capítulos parecem ter uma linguagem mais técnica, de quem estuda Humanas, e para mim, ficou menos fluido, mas os capítulos de interpretação prática são mais claros.

A autora questiona o Cânone das Escrituras e a autoria de alguns livros, mas contribui para nossa reflexão sobre o texto bíblico, o contexto cultural e a identidade e o papel da mulher hoje, mostrando claramente como Jesus, além de Salvador, foi totalmente disruptivo em relação a sociedade da época, respeitando e valorizando as mulheres com as quais interagia, e os conhecimentos que passava.

Eu recomendo para quem se interessa sobre feminismo e fé cristã.


5 de setembro de 2025

Esboço

 

Editora Todavia

O livro de Rachel Cusk faz jus ao nome: Esboço. Parece um diário de viagem de uma professora de escrita criativa, relatando seus encontros numa viagem para a Grécia, principalmente o que ela ouve da história de vida das pessoas - a começar de um homem no avião.

A leitura flui sem esforço, mas parece não chegar em lugar nenhum - apesar de termos alguns vislumbres sobre a vida e características da narradora através da interação com outras pessoas. Consigo ver que a autora escreve bem, mas a histórica ficou um pouco sem sentido - ou sem direção - ou então abriram-se tantas possibilidades que não se chega a lugar algum. 

Nota 3.5, e recomendo apenas para quem já ouviu falar do livro e ficou curioso (Tem no app Biblion).

2 de setembro de 2025

Viagem de Petersburgo a Moscou

 

Editora Boitempo

No clube do livro, começamos nosso ciclo de literatura russa com essa obra que eu não conhecia: Viagem de Ptersburgo a Moscou, de Aleksandr Radischev. Ele foi um dos enviados pela imperatriz Catarina para estudar na Alemanha - aprender com a nata da Academia na época - e voltou com um olhar crítico para a sociedade russa muito aguçado.

É um livro curto (cerca de 250 páginas), mas ele trata de temas significativos: justiça, moral, censura, colonização... Não é um livro fácil, mas é denso e muito pertinente para a época (ele foi considerado o revolucionário Zero do que viria a ser a Revolução Russa em 1917) e também para hoje em dia. A discussão sobre censura e liberdade de imprensa, por exemplo, ecoa na nossa época de redes sociais.

Recomendo para quem se interessa por uma ficção que parece quase uma não ficção, quem gosta de história russa, e quem se interessa por temas filosóficos - e se ler num clube do livro, a discussão pode ser bem boa!