29 de abril de 2018

Como ser mulher

Editora Paralela - Capa Alessandra Kalko

"Como ser mulher" tem o seguinte subtítulo: "Um divertido manifesto feminista" e é exatamente disso que se trata: uma discussão feminista sobre temas práticos e diretos - trabalho, estética, maternidade - sem papas na língua e uma ótima dose de humor.

Eu me diverti muito com  a Caitlin Morán, ela parece ser uma mulher muito engraçada e culta também. O mais interessante é que ela é a mais velha de 7 ou 8 irmãos, e foi criada por pais "hippie" no interior da Inglaterra, e não teve nada parecido com uma educação formal - pelo visto, em sua adolescência, ela era "ensinada" em casa pelos pais, o que significava na prática: ler todos os livros que ela quisesse da biblioteca. Minha teoria é então que livros podem complementar e até substituir a escola, desde que, é claro, seja bons livros - e não qualquer livro para adolescentes que estão abundando por aí. 

Eu realmente gostei muito de tudo o que ela escreveu, e achei que faz todo o sentido mundo, e eu concordo bastante com quase tudo - menos com o capítulo sobre o aborto - aí divergimos completamente.

Eu grifei alguns trechos e passei para alguns amigos e um dos que eu mais gostei foi esse:

"Por que não fizemos nada? Com base em minhas próprias experiências pessoais, 100 mil anos de superioridade masculina têm sua origem no simples fato de que os homens não pegam cistite. Por que não foi uma mulher que descobriu a América em 1492? Porque, na época anterior aos antibióticos, que mulher ia se arriscar a chegar no meio do Atlântico e passar o resto da viagem agarrada à latrina chorando e ocasionalmente berrando pela escotilha: “Alguém aí já está vendo Nova York? Preciso de um cachorro-quente”. Do ponto de vista físico, somos o sexo frágil. Não somos tão boas erguendo pedras, matando mamutes ou remando. Além do mais, o sexo com frequência acarreta na complicação adicional de nos deixar grávidas e faz com que nos sintamos “gordas demais”para liderar um exército que vai invadir a Índia. Não é coincidência que as iniciativas em prol da emancipação feminina só tenham começado a surgir depois das exegeses gêmeas da industrialização e da contracepção —quando as máquinas fizeram com que ficássemos iguais aos homens no local de trabalho e a pílula fez com que ficássemos iguais aos homens na expressão do desejo. Em épocas mais primitivas —que eu pessoalmente considero qualquer época antes do lançamento de Uma secretária de futuro, em 1988 —, o vencedor sempre seria qualquer um que tivesse força física suficiente para derrubar um antílope e uma libido que não terminasse com gravidez e morte no parto. Por isso, aos poderosos era dada educação, discussão e concepção da “normalidade”. Ser um homem e viver como um homem era o normal: todo o resto era “o outro”. E, como “o outro”—sem cidades, filósofos, impérios, exércitos, políticos, exploradores, cientistas e engenheiros —, as mulheres saíam perdendo. Não acho que o fato de as mulheres serem vistas como inferiores seja um preconceito com base no ódio que os homens têm de nós. Quando se olha para a história, é um preconceito baseado em fatos."

Piada, com fundo de verdade. A melhor forma de piada e de verdade.

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