21 de julho de 2010

Caim


Caim é o último livro publicado pelo José Saramago antes de sua morte, e vai na mesma linha de "O Evangelho segundo Jesus Cristo", um ataque a fé cristã. De maneira irônica, nos dois livros, ele reconta a história bíblica modificando um detalhe aqui e outro ali, mas principalmente alterando as intenções dos personagens, o que eles pensam. Então, o que se vê em "O Evangelho" é um Jesus perdido, nada divino, questionador de sua própria condição.
Em "Caim", ele parte da criação de Adão e Eva, passa pelo pecado original, a expulsão do paraíso e continua até o assassinato de Abel por seu irmão Caim. A partir daí, Caim se torna um viajante do tempo, visitando e interferindo em vários outros momentos importantes da narrativa bíblica do antigo testamento.
Um dos pontos mais fortes do livro é quando Deus decide destruir Sodoma e Gomorra, cidades que estavam cheias de imoralidade. Abraão pede que Deus poupe as cidades se houver pelo menos dez justos na cidade, e Deus concorda. Mas o único justo é Ló, e um anjo o tira de lá, com sua mulher e duas filhas, antes da destruição total. O questionamento do narrador, e de Caim, é simplesmente: E as crianças?

Assim, a partir da oferta de Caim que não é aceita por Deus (o que o motiva a assassinar seu irmão por ciúmes ou inveja), Saramago vai pontualmente questionando o que é a justiça desse Deus, que faz escolhas, se agrada e se entristece, protege e salva, destrói e recomeça.
A verdade é que a justiça de Deus certamente não é a justiça dos homens, ou o que a gente entende por justiça. É fácil criar um Deus totalmente incoerente, quando o desconectamos do perfil que nos é apresentado pela bíblia, e começamos a projetar nele o que queremos que Deus seja, o nosso Deus pessoal. Deus quer sim um relacionamento pessoal conosco, mas Ele é o que É, nós somos as criaturas. Ele é bom, Ele é justo, por sua própria definição, de quem criou esses conceitos.
Se Saramago não entendeu isso, é porque não é fácil e simples mesmo. Mas livros como Caim e Evangelho segundo Jesus Cristo, só evidenciam que ele nunca esteve satisfeito com a imagem de Deus que lhe foi apresentada, eos ataques de ateu são perguntas a nós cristãos - e o próprio Saramago fala sobre escrever para compreender aqui. Então, eu lembro do que Pedro falou:
"Estejam sempre prontos para responder a qualquer pessoa que pedir que expliquem a esperança que vocês tem. Porém façam isso com educação e respeito." (1a Carta de Pedro, cap.3, vers. 15)
Então não adianta ficar ofendido, bater o pé, fugir do livro, ter medo ou raiva. É possível sim dar a razão, o motivo, da nossa esperança e fé, de maneira amorosa e clara. Usar livros como esse para pensar do outro lado, sair da caixinha, e fortelecer-se nas suas convicções. Porque não basta amar a Deus de todo o seu coração, sua alma, sua força - tem que ser de todo o seu entendimento também!

Um comentário:

  1. ótimo post e interessante para refletir sobre nossa posição frente aos opositores da nossa fé.

    bjs mil <><<

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