27 de abril de 2025

A menina da montanha

 

Editora Rocco

Foi muito interessante ler as memórias de Tara Westover - "A Menina da Montanha", na mesma semana que eu li "O que é uma família?". Há paralelos óbvios: viver numa área rural, ter muitos filhos, a fé cristã (na verdade, a igreja mórmon no caso da família de Tara Westover - o que eu considero heresia), os limites claros entre quem é "família" e os de fora, e o que deve ser feito para se preservar, mas também o que pode ser feito para "evangelizar" os de fora.

Mas enquanto um livro é o tradicional comercial de margarina, o outro é praticamente um livro de terror - violência, abuso psicológico, trabalho infantil, doenças mentais não diagnosticadas e não tratadas.

Em certos momentos, fiquei chocada pelos paralelos com eventos mundiais muito recentes como a virada do ano 2000 e o ataque às torres gêmeas, pois às vezes realmente parecia algo descolado da realidade. Há também a fé irracional em óleos medicinais, um fenômeno que chegou ao Brasil e tomou a comunidade evangélica também (mas não na escala da família Westover).

Eu acredito que a pergunta O que é uma família? é extremamente pertinente para a atualidade, e sei que há respostas cada vez mais diferentes, mas é impossível não concluir que isso também da vivência que cada um teve.

Afinal, todas as famílias felizes se parece, mas as famílias infelizes são infelizes cada uma a seu modo (citação que eu não verifiquei a acurácia - Anna Karenina, Leon Tolstói).

26 de abril de 2025

Latim em pó

 

Editora Companhia das Letras

Latim em pó é um livro delicioso de ler do Caetano W. Galindo - um passeio (mesmo) pela formação do nosso português. Nosso português mesmo, porque atravessamos o Atlântico e chegamos aqui nessa mistura - e, vou falar, acabei a leitura com muito mais orgulho do que falamos e escrevemos por aqui.

É muito interessante ver um livro assim de divulgação científica desse campo, e já vi que saiu um livro dele sobre etimologia que já entrou na minha lista a adquirir e a ler.



22 de abril de 2025

Leme

 

Editora Todavia

Madalena Sá Fernandes, em capítulos curtos, nos conta suas lembranças de infância, principalmente da relação abusiva de um homem com sua mãe e com ela mesma - era abuso físico e emocional, sofrido, longo, contemporâneo.

Passei metade do livro pensando: "por que elas não vão embora?????" ao mesmo tempo entendendo o que prendia a mãe, a dependência emocional, a insegurança - mesmo que a autora não tente explicar a mãe, mas sim mostrar o seu amadurecimento ao longo dos anos em que morou com esse canalha.

É um livro muito bonito - e essa edição disponível no Biblion é a de Portugal, com suas pequenas diferenças que deixam o texto levemente não familiar, causando também esse desconforto e um tanto de encantamento. 

20 de abril de 2025

O que é uma família?

 

Editora Monergismo

Ao ler o começo do livro "O que é uma família?" da Edith Schaeffer, comecei a me sentir num manual para esposas se tornarem dignas da trend #tradwife. É algo bem incômodo para mim, principalmente ao considerar que o livro foi escrito 50 anos atrás por alguém que vivia no bucólico interior da Suiça - o que é essa idealização do passado, gente? Cadê o equilíbrio?

 Aí começou um exercício de separar o que é bom e o que não serve para mim - há muito da experiência de uma mãe de 4 crianças, avó de muitas outras, fundadora do L'Abri que é um ministério de hospitalidade e estudo de teologia que eu admiro demais (já fui aqui no Brasil!).

É um livro inspirador que ajuda a refletir sobre o que é importante numa família, mesmo que eu não concorde com todos os métodos dela (assim como não acho que participar do L'Abri é para todo perfil de pessoas). 

O livro está baseado em princípios cristãos, e há citações de versículos - mas em certo momento coloca o "morar numa fazenda e ser quase autossustentável" como ideal - sendo que estamos caminhando para viver com Deus numa cidade (ver Apocalipse) e não voltar para o Jardim do Éden... Cadê o equilíbrio?

Edith Schaeffer trouxe o melhor da experiência e sabedoria dela para esse livro, e é bom nos aproximarmos dele também com a nossa experiência e sabedoria.

19 de abril de 2025

10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho

 

Editora Harper Collins

Neste livro de Elif Shafak, acompanhamos os últimos 10 minutos e 38 segundos da vida de Leila Tequila, uma mulher em Istambul - lembrando de vários eventos de sua vida, e apresentando seus 5 amigos. Na metade seguinte do livro, os amigos lideram a narrativa nos desdobramentos após a descoberta da morte dela.

Rico em detalhes - cores, aromas, sensações - este mundo estranho nos é apresentado, um retrato contemporâneo da Turquia, e também sobre as amizades que são feitas pelo caminho. Tem umas partes bem pesadas - tive até que ler outro livro mais leve no meio - mas é muito bom.


13 de abril de 2025

Teto para dois

 

Editora Intrínseca

Nada como um livro de chick lit para uma leitura leve - embora esse "Teto para dois" tenha um relacionamento abusivo (da personagem principal com o ex-namorado) - eu li praticamente em 24h, o típico livro com capítulos curtos e leitura fluida super difícil de parar de ler.

Eu fiquei com vontade de ler outros livros da Beth O'Leary, bobo, mas bem construído e você não fica com vontade de matar o autor enrolando a história, mas também não fica insatisfeito de ser um livro muito curto. Entrega o que promete!




11 de abril de 2025

A Construção da Feminilidade Bíblica

 

Editora Thomas Nelson 

O livro de Beth Allison Barr fala a que veio no subtítulo: "como a submissão das mulheres se tornou a verdade do Evangelho", e é um dos livros mais esclarecedores que eu li nos últimos anos sobre o tema. 

A autora é historiadora (com mestrado e doutorado) em história medieval, mas também é cristã, e foi construindo sua caminhada alimentando esses "dois lados", o que sabemos por todos os momentos em que ela é vulnerável e se coloca nesse livro. 

Assim, vamos vendo como o papel da mulher em relação a igreja cristã mudou ao longo dos séculos, considerando tanto  os fatores internos como externos a religião, e como o que conhecemos no contexto reformado de igreja ocidental hoje é muito mais recente e não algo normal aos fiéis desde a época de Cristo.

Numa mistura de experiência pessoal, pesquisa histórica e teologia, o livro poderia ser um pouco mais claro nos pontos que faz, mas chegamos ao final sabendo que há algo estranho sim nessa construção da feminilidade bíblica e que precisamos de respostas melhores sobre alguns textos bíblicos... Meu estudo sobre esse assunto vai continuar.