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| Editora L&PM Pocket |
A Abadia de Northanger é um livro leve de Jane Austen - repleto de reviravoltas e mal entendidos, levado pela inocência da personagem principal, que fica vendo coisas que não existem. É um ótimo livro.
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| Editora Todavia |
Se o tema já é inesperado (quem pensa em pequena plantação de tabaco quando imagina a agricultura brasileira??), a autora surpreende mais ao trazer os narradores do texto: a árvore, a caminhonete, a roupa de proteção contra agrotóxico, o espelho - todos observadores únicos do que se passa com aquela família.
Eu discuti esse livro com o clube do livro que eu participo, e foi ótima, completar a história com as experiências e perspectivas diferentes de cada participante.
O livro é envolvente e de uma sensibilidade singular.
Recomendo para clubes de leitura de adultos, pessoas que já gostam de literatura contemporânea brasileira, e para aqueles que querem descobrir um Brasil diferente.
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| Editora Ática |
Carolina Maria de Jesus queria ser escritora - e foi - escrevendo romances, poesia, teatro, contos... Mas quando conheceu um jornalista e mostrou seus escritos, ele a incentivou a fazer um diário para que ele pudesse publicar. Ao ler o apêndice dessa edição, há inclusive a menção do fato do gênero de literatura "Diário" ser tão difundido fora do Brasil, mas aqui ser considerado algo menor (eu mesma sempre associo a crianças.)
Após alguns anos, Carolina Maria de Jesus entrega os manuscritos ao jornalista Audálio Dantas, que faz uma boa edição tirando trechos, e corrigindo apenas palavras que não eram compreensíveis, mantendo erros gramaticais e ortográficos e a cadência de escrita da autora, e consegue publica-lo.
São esses escritos que ficaram famosos e chegaram até nós - seu diário, relato do seu dia a dia - não aquilo que ela planejou e quis escrever como literatura, e realmente escreveu. Parece-me que ela ainda é restrita ao que queremos saber dela: o insólito sobre viver numa favela, a dificuldade de trabalho e de dinheiro, mas não mais que isso.
Não me levem a mal: isso já é bastante para desconstruir nossa visão de escritor, alguém com muitos anos de estudo e técnica, com o português padrão, seguindo uma fórmula de narrativa conhecida (por exemplo, a jornada do herói). Ler um livro publicado da Carolina Maria de Jesus mostra que toda linguagem é válida, toda circunstância é válida, toda história vale ser contada. Humanos são serem narrativos, com certeza.
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| Editora Hogarth |
O livro causa um estranhamento, mas a autora vai nos levando pela mão, através das conversas diferentes, dos relacionamentos diferentes, da forma de lidar com problemas de dinheiro, saúde, família, identidade e autoestima. Faltou só terapia para os personagens, mas até religião aparece em certo momento.
Eu já vou me colocar na fila para os outros livros dela, boa literatura sempre vale.
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| Editora Todavia |
Para mim, me trouxe uma acolhida, um conforto de perceber o que eu senti relatado preto no branco porque outras pessoas também passaram por algo parecido. Somos mais parecidos do que diferentes.
Na terceira parte do livro, a narradora Natália faz uma viagem pela região da qual seus avós judeus vieram, próximo a Turquia e a Ucrânia, na Moldávia, região de fronteiras móveis por situação política. Aprendi mais um pouco sobre história judaica, mas aí não aconteceu a conexão que eu tive com o relato da morte e luto.
É um livro muito bonito e dolorido.
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| Editora Todavia |
A prosa poética do livro me lembrou a Carla Madeira, com frases postáveis, bonitas em si mesmas. Mas achei a trama mais ousada, com um poliamor bem estabelecido. Muito moderno, muito atual.
No entanto, a protagonista Dora é uma chata - e acredito que isso é um problema da construção do enredo, ou então o fato de eu ser velha considerando o público alvo do livro (ou seja, não sei se foi de propósito ou não, ela ser chata). Ela foi abandonada pela mãe muito pequena, e o pai ficou muito deprimido para cria-la direito (ou seja, por essa trauma, merece nossa empatia). Mas outras pessoas na comunidade assumiram o papel de ser família - a vizinha Inês e a amiga Esmê, e a Dora cresceu para ter inveja e preconceito da filha da Inês (uma pessoa trans), e se posiciona como criança mimada ao ver que a casa "surpreendentemente" parou de ficar limpa e ter comida quando o pai - que ela parece desprezar - fica doente e não levanta mais da cama.
Assim, é um livro e uma história interessante, mas os personagens nem tanto.
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| Editora Intrínseca |
Mas ficou chato - todo mundo deprê, muitos subentendidos, muitos desvios sem propósito nenhum além de exercitar a escrita do autor. Poderia tirar as historietas e transformar num livro de contos, e reduzir bastante os ocorridos. Não ajuda que praticamente não tem mulher na história também. Algumas personagens importantes, mas é claramente uma minoria.
Entendo o furor que deve ter causado, mas não recomendo.