31 de agosto de 2025

Sobre os ossos dos mortos

 

Editora Todavia

Olga Tokarczuk é um autora polonesa ganhou o Nobel de 2018, e o livro que popularizou aqui no Brasil foi esse, Sobre os Ossos dos Mortos.

A personagem principal é uma senhorinha, com a qual eu já simpatizei nos primeiros capítulos. Ela tem umas tiradas muito boas, e vai vivendo a vida dela do jeito que quer, o que eu sempre admiro. 

A história é boa - mas, veja bem, não deu para entender porque ela ganhou o Nobel. Eu admiro muito mais o trabalho da Han Kang em termos de originalidade e forma. Aqui é mais o simples bem feito (o que eu também recomendo).


24 de agosto de 2025

O Diabo Mesquinho

 

Editora Kalinka

Quando comecei a ler esse livro, achei interessante, um humor quixotesco, com um personagem absurdo: um professor de um vilarejo russo que resolve que precisa casar para ser promovido a inspetor em sua carreira pública.

Ao longo da história, ele vai enlouquecendo, tendo alucinações, achando que está sendo perseguido - pela polícia, pelo gato, por pessoas escondidas atrás do papel de parede... é muito bizarro. As pessoas ao redor não se alarmam - ou melhor, consideram tudo um motivo para dar risada e provoca-lo mais. Lá pelo meio do livro, surge uma história paralela entre uma mulher adulta e um garoto que deve ter uns 13 anos, muito estranha e desconfortável também. Tudo parece ter um tom de humor, mas aí eu já não estava achando nada divertido.

Pode ser uma crítica a vida russa do começo do século XX, ou a estrutura de cargos do governo, ou às expectativas de carreira de um funcionário público, mas fiquei perdida, e só restou um ódio de todos os personagens - com exceção do Sacha, de quem tive dó.



21 de agosto de 2025

The Housemaid

 

Editora Bookouture

Cedi a hype e li A Empregada - livrinho fácil de mistério, e com um plot twist previsível, e um subplot um pouco mais surpreendente. Assim como todos os personagens homens são lindos maravilhosos, temos circunstâncias que ajudam bastante a mocinha da história, de forma muito forçada, sim senhora.

O que eu fiquei mais impressionada é com o subtítulo: atrás de portas fechadas, ela vê tudo. Só que não. Ela não vê mesmo.

Entendo o sucesso, mas tem coisa melhor por aí.

17 de agosto de 2025

Teologia Pastoral

 

Editora Thomas Nelson

Martin Bucer publicou esse livro em 1538 - quase 500 anos atrás - e praticamente tudo o que ele diz aqui é bastante pertinente para os tempos atuais - com exceção, talvez, da discussão com a igreja católica romana que é bem característica do período da Reforma.

O autor realmente foca no que o subtítulo diz: sobre o verdadeiro cuidado das almas, e baseado em Ezequiel 34, define o serviço do pastor, como selecionar e formar pessoas para exercer esse serviço, e também classifica os tipos de ovelhas, e como podem ser cuidadas em cada caso. É lindo de se ver. 

Ele também fala do argumento dos pastores casarem: para alguém cuidar da vida deles enquanto eles se dedicam ao trabalho ministerial - e enquanto é um serviço por deveras nobre e respeitável, não menciona nada sobre mulheres também trabalharem para o serviço de Deus (parece que as freiras e outras mulheres de vocação ao serviço ministerial foram esquecidas nesse momento).

Recomendo fortemente. Está no kindle unlimited e no aplicativo Pilgrim.

16 de agosto de 2025

The Exception to the rule

 

Editora Amazon Original Stories

Ah, às vezes, só precisamos de uma história para descansar a cabeça, não é? Esse livro - quase um conto - da dupla Christina Lauren faz isso com maestria: quase toda em troca de e-mails, sem complicar muito (com direito a uns: ah, vá! no meio), e com o final feliz que queremos. 

Menção honrosa a um título que funciona bem desde o começo: "the exception to the rule" começa com o mocinha falando que garotas só escrevem com muitos pontos de exclamação - e ela é a exceção a regra. 

Recomendo. 


12 de agosto de 2025

James

 

Editora Todavia

James foi um estrondoso sucesso nos Estados Unidos, e muito merecido. Percival Everett pegou um personagem secundário do clássico Huckelberry Finn de Mark Twain e deu a ele uma "aventura" própria. Além de recontar a história, ele traz pontos muito originais sobre o uso da linguagem e é impressionante como ele faz isso, causando um desconforto e assombramento ao leitor ao mesmo tempo.

Também há uma discussão sobre colorimetria - sempre pertinente, e sempre relevante culturalmente.

Recomendo muito.


7 de agosto de 2025

A Geração Ansiosa

 

Editora Companhia das Letras

Logo no início do livro A Geração Ansiosa, dá para perceber que é um ótimo livro, de uma tema importantíssimo para as pessoas que estão criando filhos hoje (e diria para toda a sociedade, porque sim, se algo afeta toda uma geração, com certeza vai afetar como o mundo funciona).

Jonathan Haidt é um psicólogo social e fez uma pesquisa muito bem fundamentada para escrever esse livro (nota-se pelas dezenas de páginas de notas e bibliografia). Além de analisar a situação, ele propõe soluções práticas para lidar com a questão da infância hiperconectada. Há muitas dicas para quem é dos Estados Unidos, mas é possível aplica-las aqui também. Proibir celulares nas escolas é uma proposta desse livro, e espero que outras possam ser implementadas aqui.

Há recomendações simples para as famílias também, independente de governos ou instituições escolares, então sugiro não deixar para depois (mesmo se o seu filho tiver 3 anos e você ainda nem sonhar em dar um celular para ele ainda).


6 de agosto de 2025

O Milagre

 

Editora Venus

Emma Donoghue ficou muito famosa com seu livro "Quarto", que virou filme, e "O Milagre" não é tão impactante no mesmo nível, mas interessa ao trazer uma história ficcional sobre pessoas reais: garotas que jejuavam por motivos religiosos. É todo um fenômeno que eu não conhecia e traz pontos importantes sobre religião, parentalidade e cuidado médico. Vale a leitura.

4 de agosto de 2025

A Consciência de Zeno

 

Editora Nova Fronteira

"A Consciência de Zeno" começa com um psicanalista dizendo que resolveu publicar sim os textos que um de seus pacientes escreveu quando convidado a refletir sobre sua vida - lembrar do que aconteceu para "se curar". Curar-se do quê? Do hábito de fumar, o qual ele passou a vida toda sempre a ponto de parar, mas nunca parando.

Italo Svevo cria um personagem chato - o Zeno - mas muito interessante, porque ele mesmo sendo o narrador da sua vida, dá para perceber o quanto ele se engana (aparentemente) ao contar o que acontece, e o tanto que dá para presumir da realidade ou das pessoas ao seu redor.

A ideia é ser engraçado, eu suponho, mas dá raiva também de como pode ser tão besta um homem sem necessidade de trabalhar e sem muita inteligência (o próprio pai deixa um testamento dizendo que ele não pode administrar os próprios bens recebidos em herança).

É uma boa leitura e rendeu ótimas discussões no clube do livro desse mês.

Sem Despedidas

Editora Todavia

Este é o terceiro livro da Han Kang que eu leio e definitivamente o que eu mais gostei.

Já tinha gostado do título em inglês: "we do not part", algo como "nós não nos separamos" (eu adoro essas declarações impossíveis com verbos no presente, como "never let me go"). Na entrevista logo depois de ganhar o Nobel, ela diz que é um ótimo ponto de partida para sua obra, e fala de outras possíveis traduções para ele em inglês como "Eu não me despeço" ou "Despedidas impossíveis". Assim, é bom saber que o título em português, Sem Despedidas", significa que não há separação e não que não houve o "tchau", mas as pessoas se afastaram.

É muito sensível a descrição da conexão entre duas mulheres, a amizade, e como pode ser delicado e complexo esse relacionamento. Belíssimo.

A trajetória da personagem através do país, as descrições de paisagens, céu, mar, árvores, e neve - muita neve - são muito bonitas, é como se estivéssemos lá (de uma forma não óbvia).

Por fim, a descrição de um outro massacre na história da Coreia do Sul (além daquele de Atos Humanos) é algo que realmente me impressionou e me doeu.

Han Kang merece com toda certeza seu Nobel de Literatura, e agora é certo: vou ler tudo o que ela publicar.