25 de novembro de 2014

Outros 500 - Uma conversa sobre a alma brasileira

Editora Senac - Capa Moema Cavalcanti

A proposta do livro "Outros 500" está explicada em seu subtítulo: uma conversa sobre a alma brasileira. Mais que isso, é uma psicanálise da tal alma do Brasil, feita por uma analista junguiano. Em um formato de conversa, a jornalista Lucy Dias dialoga com Roberto Gambini sobre temas diversos - a origem, trauma da infância, complexos, do povo e do país. Só nessa sinopse, eu acho que muita gente já ia decidir não ler esse livro. Eu dou uma chance.

Lendo esses livros de psicologia analítica é que eu me descubro mais engenheira e exata. Cada capítulo é sobre um assunto específica e, em vários momentos eu não consegui ver muito nexo entre uma resposta e a pergunta seguinte (e, às vezes, confesso, entre a pergunta e a resposta). Esse negócio de generalizar o país e o povo como uma entidade minimamente homogênea, que pode ser considerada "algo específico" e tirar conclusões psicológicas é realmente muito estranho - e muito difícil de eu aceitar também.

Algumas coisas fazem sentido (como o jeitinho brasileiro), mas outras são muito estranhas - como dizer que o professor é uma mulher frustrada que precisa ser desconstruída e se reconhecer como um ser ignorante e aprendente. E eu: hein??

Além disso, o Roberto Gambini estudou bastante os indígenas brasileiros, então ele propõe como saída um "retorno às origens" e uma maior identificação e até adesão a cultura indígena. Tipo argumentar que bebê índio não chora, porque fica amarrado no corpo da mãe o tempo todo, de cara para o peito, mamando a vontade, enquanto ela carrega ele para cima e para baixo - então a brasileira deve repensar a sua maternidade... E eu: oi??

Tem alguns pontos que eu achei interessante, e que o país deu sinais de mudança nesses últimos anos (o livro foi escrito na virada do século), como uma certa conscientização política (estou falando de sinais!), mas realmente acredito que esse livro faça sentido para o pessoal de Psicologia mesmo, ou que goste bastante desse assunto.

2 de novembro de 2014

Os três incríveis

Editora Moderna

No colégio que eu frequentava no primário (como chamava o ensino fundamental I no meu tempo), os livros para essa idade eram separados por série - 1a, 2a, 3a e 4a - a disposição das crianças. Um ano, não lembro qual, eu li o livro "Os 3 incríveis", da Stella Carr, e adorei: a história dos trigêmeos Leo, Lia e Lino, que eram pequenos e ruivos, e executaram vários planos para desacreditar o valentão da classe (que tinha repetido um ano e era maior que todo mundo). 

Eu gostei tanto da história que ficava com vontade de reler de tempos em tempos e quem me ajudava a achar o livro entre a "bagunça" que eram as prateleiras por série (sem indexação por autor ou título) era a bibliotecária - geralmente de um dia para o outro, porque não era fácil  achar um livro fininho naquela variedade de literatura infantil. Numa dessas fases de vontade de reler, a minha mãe comprou o livro e me deu de presente, assim sem motivo especial, e eu fiquei super feliz! 

Um dos pontos que eu mais gosto é da Lia cortar o cabelo curtinho para ficar igual aos irmãos e facilitar as brincadeiras de confundir que os 3 gostavam de fazer com as outras pessoas. Para mim, é um dos exemplos de que meninas e meninos são iguais para fazer o que quiserem. 

Assim, fico feliz de chamar minha segunda filha de Lia (sugerido pelo pai primeiramente), sem saber se ela vai ser levada ou meiga, gostar de boneca ou carrinho, se vai dançar ballet ou tocar violão, ou se ela vai ser levada E meiga, gostar de boneca E carrinho, dançar ballet E tocar violão. Ela vai ser o que quiser ser, e vai ser incrível, e é a vida dela que eu sempre vou ter vontade ler e reler. 

20 de setembro de 2014

The Luminaries

Editora Granta

Eu encontrei esse livro na mão de uma pessoa em Manaus e era um pequeno tijolo - então eu anotei o nome e comprei depois no kindle. No meio tempo, descobri que a autora Eleanor Catton foi a mais jovem ganhadora do prêmio Man Book exatamente com esse livro, seu segundo, The Luminaries. 

A princípio, ele parece interessante - uma história no século XIX na Nova Zelândia, num pequeno vilarejo que gira em torno da corrida pelo ouro. Há apenas três mulheres: uma prostituta, a esposa do chefe da prisão, e a dona de uma casa de entretenimento, que chega depois. Cada um dos personagens masculinos estabelece uma relação diferente com essas mulheres, principalmente a primeira, Anna Wetherell. Engraçado que, em pensamento, muitos gostam dela, e querem protege-la ou cuidar dela, mas suas atitudes não condizem com isso.

O fluxo da narrativa é um pouco confuso - são vários personagens com histórias paralelas, que vão se entrelaçando, ou já estavam entrelaçadas, porque muito é contado em flashback, de até um ano antes do início da história, quando doze homens se encontram para discutir os eventos das duas semanas, desde a noite quando um ermitão morre, Anna foi encontrada na rua entorpecida por ópio, um político chega para fazer campanha, e o jovem de grande sucesso nas minas some.

A trama toda é muito bem feita, mas eu pensava: porque ela não escreveu um pouco menos?  Para que tanto flashback? Realmente não consegui apreciar o estilo, o que seria esperado num livro ganhador de prêmio literário. 

Para terminar, logo no começo, ela fala que no livro são usados os signos como deveriam estar no céu no século XIX, e não agora, algo assim e cada capítulo tem um título do tipo "Mercúrio em Sagitário", "Saturno em Libra" que deve fazer sentido só para os iniciados no assunto...      

16 de setembro de 2014

Crianças francesas não fazem manha

Editora Objetiva
Pamela Druckerman é uma norte-americana que casou com um inglês e foi morar na França. Quando eles resolvem ter filhos, é nesse país que eles serão criados, então ela começa a estudar a diferença da paternidade / maternidade em um local e no outro, mais especificamente, os Estados Unidos (o pai é a parte engraçada da história, parece que tudo que ele quer é não esquentar muito a cabeça - que só pensa no futebol holandês - piada interna, irresistível).

As comparações começam a partir da gestação, e principalmente do parto - e aí a questão não é normal x cesárea (o que é o debate aqui no Brasil, e que eu não vou discutir), e sim parto com (França) e sem (EUA) anestesia. Outro mundo realmente.

Depois, há vários comentários sobre a criação de filhos, e não é basicamente um livro de auto-ajuda, com dicas e fórmulas (embora elas existem), mas a autora mergulha nas diferentes concepções da criação de filhos nos dois países, voltando na história dos dois países com relação a criação de filhos (ou vocês pensam que os direitos das crianças começaram há quatro mil anos?) (ok, ela volta só uns 200 anos).

Confesso que me identifiquei muito mais com o jeito francês de pensar sobre a criação de filhos - o jeito norte-americano (e, suspeito, brasileiro) é a criação de pequenos reis e rainhas, que não só podem tudo, como merecem tudo. Entretanto, simplesmente não dá para ser francesa fora da França - lá todas as circunstâncias, da família aos amigos a escola, tudo "conspira" para um posicionamento dos pais e das crianças diferente. Mesmo assim, é ótimo conhecer uma filosofia diferente de criação - baseada na "descoberta", na liberdade com limites, e claro, na valorização da mãe como um ser humano diferente e também merecedor de cuidados e atenção, principalmente de si mesma.

31 de agosto de 2014

To Kill a Mockingbird

Editora Harper Collins

Esse livro de Harper Lee é um clássico da literatura norte-americana, daqueles com filme, referências em todo lugar, e, claro, que realmente valem a pena ler. Publicado em 1960, dá vontade de ser amigo do Atticus, o pai das narradora - Jean Louise, por pura admiração do seu caráter. Dá vontade de ver a pequena garota de 6 anos se tornando mulher, e ver se ela se formou, foi trabalhar, e/ou casou e criou filhos. Porque o livro acaba, mas você quer que eles continuem vivos, para ser testemunha da vida deles.

O título em português é daquelas invenções que não dá para entender: "O sol nasce para todos" porque o original é "To kill a Mockingbird", usando a tradução em Portugal: "Por favor, não matem a cotovia". Em determinado momento do livro, é explicado:

"Cotovias não fazem nada além de música para nosso prazer. Eles não comem o jardim das pessoas, não fazem ninhos nos celeiros, não fazem nada além de cantar seus corações para nós. É por isso que é um pecado matar uma cotovia."

A trama principal do livro é o julgamento de um negro, acusado injustamente de estupro por uma garota branca. Atticus é chamado a ser o defensor do rapaz, e através do livro, temos um panorama da disputa racial nos Estados Unidos no início do século passado, sem escravidão, mas com muito preconceito.

Tudo se torna mais interessante porque é narrado por Scout ("Escoteira"), ainda criança, que é criada, junto com o irmão maior, por um pai viúvo mais velho, numa rua sem outras crianças. É interessante que ela se posiciona como garoto - é um insulto quando o irmão diz: "Nossa, você está se comportando como uma garota" no meio das brincadeiras, então temos uma visão da diferença de gêneros também. (Como a explicação de porque mulheres não podem fazer parte do júri: "Eu duvido que conseguiríamos julgar um único caso completo - as senhoras ficariam interrompendo para fazer perguntas.")

Só para finalizar, para estimular quem gosta de ler a correr atrás desse livro (é o preferido da Cláudia , escritora e leitora), uma bela citação sobre amor a leitura:

"Agora que eu era levada a pensar sobre isso, ler era algo que simplesmente vinha a mim, como aprender a amarrar o cinto da minha roupa sem olhar, ou conseguir dois laços dos cadarços. Eu não podia lembrar quando as linhas acima do dedo que se movia de Atticus se separaram em palavras, mas eu havia as encarado toda noite em minha memória, ouvindo as notícias do dia, propostas a serem promulgadas como lei, os diários de Lorenzo Dow, qualquer coisa que Atticus estivesse lendo quando eu me aninhava em seu colo toda noite. Até que eu temi que iria perde-lo, eu nunca amei ler. Ninguém ama respirar."





27 de agosto de 2014

A Droga da Amizade

Editora Moderna - Capa Jefferson Costa

E quando você menos espera - surge uma continuação da melhor série brasileira da sua juventude: os Karas. Pedro Bandeira lançou "A Droga da Amizade", que é um pouco do futuro da turma do Miguel, e um pouco sobre o início da amizade dos 5: Crânio, Calu, Chumbinho e Magrí - mencionando até Peggy, que surgiu só no quinto livro "Droga de Americana" - que tinha sido o último a ser lançado há mais de 15 anos (o primeiro, A Droga da Obediência, é de 1984).

Embora a fila para conseguir um autógrafo estivesse muito pequena para um autor tão fantástico como ele, foi legal ver uma garota, que talvez nem fosse nascida quando todos os outros livros foram publicados estar tão empolgada quanto eu de ter um novo livro e ainda conseguir falar com o Pedro Bandeira! Seus livros tem o tipo de apelo atemporal, não dá para soltar quando começa a ler, e você simplesmente não quer que acabe.

E sim, sim, sim, que venham mais!!!





27 de julho de 2014

Grace - A Princesa de Mônaco

Editora Leya

Esse livro conta sobre mais de uma transformação - de uma atriz em uma princesa e também de um pequeno principado em uma referência mundial em sofisticação.

A história de Grace Kelly com o Príncipe Rainier Grimaldi é uma história de amor do tipo conto de fadas. Contada por um amigo da família, Jeffrey Robinson, ele contam como duas pessoas naturalmente reservadas lidaram com a fama e a atração da mídia e do público e tornaram toda essa exposição em vantagem para o Principado. Com diversos festivais culturais e investimento em indústrias específicas, além do turismo, eles transformaram os turistas usuais de Monte Carlo, nobres europeus falidos e ocasionais milionários nos casinos, em turistas mais interessantes economicamente: os que vão para serem vistos e os que vão para ver.

O autor também conta sobre os filhos do casal, Caroline, Albert e Stephanie, até a morte do príncipe Rainier, em 2005. 

O filme com Nicole Kidman foi baseado nesse livro "Grace - A Princesa de Mônaco", que já estreeou em boa parte do mundo desde maio desse ano, mas o lançamento aqui no Brasil está previsto para 2015 (segundo o IMDB). Mas, pelas críticas que eu li, aparentemente há outras fontes, porque o livro defende bem o relacionamento dos dois, assim como a posição de Grace Kelly de desistir da carreira, por amor e por Mônaco.