25 de novembro de 2012

A nova Califórnia e outros contos

Editora Unesp
Esse livro saiu de graça, diretamente do projeto da prefeitura de São Paulo, De mão em mão, que distribui livros em pontos de grande circulação da cidade, como terminais de ônibus. Não é preciso cadastro nem nada, é só levar o livro, com o compromisso de não ficar com ele, mas passar para frente ou devolver no mesmo ponto de distribuição. 

Eu não lia Lima Barreto desde a época do vestibular, então ler "A Nova Califórnia e outros contos" foi como uma redescoberta do autor, e seu humor refinado, ironia fina seja através dos personagens ou da narração. São histórias curtas, recortes de relacionamentos de poder em todos os níveis (destaque para a história "Como o 'homem' chegou" de uma expedição de um carro forte para buscarem um preso em Manaus).

É uma oportunidade incrível de acesso a boa literatura, numa edição bem cuidada com um glossário no final para explicar as palavras que já caíram em desuso, e uma lista das bibliotecas da cidade, mas eu ainda quero acreditar que um livro desse gabarito vai incentivar mais a leitura da população em geral do que livros mais populares e de qualidade duvidosa, infelizmente...


13 de novembro de 2012

O deus das pequenas coisas

Editora Companhia das Letras - Capa Jeff Fisher

Um livro belíssimo: "O deus das pequenas coisas", de Arundhati Roy. Essa autora indiana reuniu personagens incríveis, uma história emocionante e uma forma de narrar tão poética para fazer um livro de ir lendo com o lápis na mão, marcando trechos, ou virando pequenos cantos de página, para voltar e ler e se encantar novamente.

A história prende, mas tanto pelo belo uso das palavras, como pela narrativa não linear (ela brinca "pulando"  entre dois momentos principais da história), não é um livro de ler batido, correndo. É um livro de curtir, apreciar, surpreender-se até com a boa tradução feita, que não causa aquele mal estar da "legenda que não consegue traduzir a piada".

Ele foi lançado há cerca de 15 anos, e foi um grande sucesso, mas se você não o leu naquela época, recomendo fortemente ler agora!

6 de novembro de 2012

O romance de Teresa Bernard

Editora Saraiva

Algumas pessoas podem conhecer a autora desse livro, Maria José Dupré, da sua obra Éramos Seis, que foi uma novela bem popular anos atrás. Mas a edição que eu li já mostra a idade dessa obra "O romance de Teresa Bernard", ao identificar a autora apenas por "Sra. Leandro Dupré"...

Quem conta a história é a própria Teresa, e ela é uma órfã rica da sociedade paulista, a família tem muito dinheiro provavelmente vindo das fazendas no interior. Muito bonita e, de certa forma, mimada, ela pode ser bem chatinha ao longo da narração. O engraçado é que, mesmo se passando na década de 30, algumas discussões femininas da época continuam até hoje (atenuadas, é claro): divórcio, o papel da mulher no casamento, e o que se faz se é chato conversar só sobre filhos e coisas de casa entre mulheres, enquanto homens tem "assuntos mais variados".

O que eu achei interessante foi o relato da viagem (de meses! indo de navio...) que a Teresa fez pela Europa: Paris, Nice, Londres e um tour pela Itália: ela conta sobre museus, avenidas, praças, restaurantes, hotéis, e muito do que é citado permanece lá até hoje, da mesma maneira. É bom de ler para quem quiser planejar uma viagem para aquelas bandas, ou para quem lembrar como foi...

2 de novembro de 2012

Pequena Abelha

Editora Intrínseca

Eu escolhi esse livro pela capa e pelo título. Achei bonita a imagem, as cores, e achei o título musical: "Pequena Abelha", mesmo em inglês: Little Bee. Depois vi na contracapa que era a história de duas mulheres que se encontram de uma maneira inusitada, mas que eles não iam contar mais nada porque o interessante é como você vai "descobrindo" o enredo. Ok, vamos lá.

Primeiro, é de se admirar que o autor, Chris Cleave, tenha se colocado como narrador em primeira pessoa na pele de uma mulher. É preciso muito talento para isso, muita percepção do sexo oposto, e pode ser isso (ou as personagens fora do comum mesmo), que me levaram a um certo estranhamento durante a leitura, mas o livro é curto, desses de ler em dois dias, porque realmente envolve quem está lendo.

Eu não vou estragar a surpresa de quem quiser ler o livro - mas dá para adiantar que não é uma história corriqueira, pelo menos uma das personagens é totalmente fora da realidade de pessoas como eu. E a trama também surpreende, do jeito que um soco no estômago pode surpreender (e continuar doendo). Ou seja, não é uma leitura feliz. (Estão avisados.)


28 de outubro de 2012

The perks of being a wallflower

Editora Gallery Books
Quando eu comentei com algumas pessoas que eu estava lendo o livro do filme "As vantagens de ser invisível", o que eu mais ouvi foi: "que filme é esse?", embora ele tenha estreado no cinema esse mês, e conte com pelo menos uma atriz famosa - Emma Watson, a Hermione. Então, se o filme não alcançou um grande público, imagina o livro de Stephen Chbosky, escrito no final da década de 90... Mas pelo que eu pesquisei, ele foi sim um best-seller nos Estados Unidos, e o seu retrato da adolescência estereotipada americana - com sexo, bebidas, drogas e até rock n'roll - chegou a ser proibido em alguns estados.

O livro é uma coletânea de cartas do personagem principal, Charlie, que decide escrever para alguém que ele não conhece sobre sua vida, suas emoções e seus pensamentos. É nítido que o garoto não é normal, tem algum tipo de imaturidade emocional que torna deturpada a sua visão de mundo. E ele chora muito. É um pouco irritante até, o tanto que ele chora, por diversos motivos. (Mas talvez seja eu, um pouco sem coração).

Eu não conheço os outros atores, mas puder ler o livro todo vendo a Emma Watson no papel de Sam, então perdi a vontade de ver o filme no cinema - é como se já tivesse assistido tudo na minha cabeça. Fora que é algo beeeeeeem adolescente, então, se você está próximo dessa época, pode rolar uma identificação e empatia, eu já estou acá pensando "crianças..." :-D Incrível como envelhecer altera mesmo as suas lentes de ver o mundo (e isso não é ruim). 

24 de outubro de 2012

Sócios no Crime

Editora L&PM - Capa designedbydavid.co.uk

Em "Sócios no Crime", Agatha Christie parece decidida a levar seus livros de detetive bem ao limite com a comédia, porque o casal que são os personagens principais dessa série de episódios são amadores e embora levem o trabalho a sério, parecem mais quererem se divertir.

Tommy e Tuppence são casados e são convidados pela Scotland Yard a parecerem os donos de uma empresa de investigação, que parece estar ligada ao crime organizado internacional (sendo que o dono original foi preso), e, para manter a fachada, eles desvendam os casos verdadeiros que aparecem. A brincadeira está justamente que eles procuram imitar o estilo de detetives famosos. Entre eles, Sherlock Holmes e Hercule Poirot, mas outros da literatura europeia e americana ainda em moda na época em que Agatha Christie escreveu esse livro. Eu não conhecia vários deles, mas as notas do texto ajudam a entender as referências, e o entretenimento é garantido.

20 de outubro de 2012

The Grandmothers

Editora Harper Perennial

"As Avós" de Doris Lessing reúne 4 contos bem diferentes da autora, mas todos são de certa forma intrigantes e não nos deixam incólumes. Não dá para não ficar incomodada ou ao menos reflexiva com o que Doris Lessing nos apresenta em suas narrativas curtas, mas, de forma alguma, superficiais.

O conto que dá título ao livro foge totalmente do convencional, embora seja a história de duas mulheres, que se tornam muito amigas, muito próximas, casam, tem filhos e se tornam avós na mesma época. Se isso é tão corriqueiro como pode parecer uma amizade de décadas, por baixo dessa aparência comum há todo um universo...

Eu não sei se posso dizer que eu gostei desse livro, mas sim que eu fiquei instigada por ele - talvez fosse esse mesmo o objetivo da autora, o objetivo da literatura contemporânea de vanguarda... Não colocar panos quentes ou passar a mão na cabeça, mas fazer pensar e questionar a sociedade e seus valores. É sempre bom colocar o cérebro para funcionar.