12 de setembro de 2011

Pegando Fogo!

Editora Record

Você pode ter certeza de que "cresceu" quando lê um livro que é para adolescentes e percebe que não existe mais nenhuma sintonia com ele. Isso acaba de acontecer comigo, com esse livro da Meg Cabot que eu peguei emprestado da minha prima de 15 anos.

Não é que não seja bem escrito e levemente divertido, uma leitura fácil para entretenimento, o que pegou mesmo é a constatação que sim, se eu tivesse 15 anos eu iria gostar muito mais desse livro, (mas talvez nem tanto como alguém que escreveu num blog que chora toda vez que lê, já não é para tanto, né???). Não sou adolescente faz anos, mas incrível como você percebe que o tempo passa não pelos dias do calendário mas por pequenas surpresas do cotidiano que lhe fazem constatar que você mudou, pelo simples processo de amadurecimento - ou envelhecimento mesmo.

Quem está pegando fogo nesse livro é a Katie Ellison, super pop numa pequena cidade litorânea, namora o artilheiro do time de futebol americano do colégio, beija um outro carinha de vez em quando, e desestabiliza quando chega de volta a cidade seu amigo de infância, que sim, também gosta dela. Sim, são todos lindos, sarados e maravilhosos. Sim, ela é linda. E inteligente, trabalha na lanchonete local, tira fotos ótimas, tem uma mania de mentir para fugir de algumas enrascadas (o que obviamente cria outras), mas o principal mesmo é que ela quer beijar. Qualquer linha de pensamento, qualquer diálogo que esteja rolando é interrompido por um "nossa, mas eu queria beijá-lo", "mas esses lábios", "mas quando a gente estava beijando"...

Ou seja, tem até um fundo moral, uma necessidade de passar uma mensagem a medida que se cria uma empatia com os adolescentes (seja pela realidade que eles vivem - nos Estados Unidos - ou o que eles queriam viver - o caso aqui no Brasil, acredito), mas no fim tudo se resume a pegação (e novamente, com certos limites, porque a Katie continua virgem por não estar com a pessoa certa).

Eu sei que existem bons livros para crianças e adolescentes, que valem para qualquer idade, e de vez em quando eu faço propaganda deles aqui, mas não é o caso desse. Vai demorar para eu me aventurar com Meg Cabot novamente. 

8 de setembro de 2011

Macunaíma

Editora Agir
Quem sentiu um frio na espinha e um cheiro de vestibular quando viu o nome desse livro?

O ensino brasileiro tem desse tipo de coisa, conseguir criar repulsa por obras de arte, como essa, de Mário de Andrade.

Quem estudou direitinho, para aprender e não decorar, deve lembrar que Macunaíma foi uma obra do modernismo, numa época de florescimento original da arte brasileira em todos os seus aspectos. Lançado em 1928, causou estranhamento tal como vem causando até hoje. Mário de Andrade pesquisou muitos mitos e folclores de todas as regiões do Brasil e formou essa colcha de retalhos em volta do índio Macunaíma, que representa todo o povo brasileiro.

Sendo sincera, eu sou bem quadradinha, e o livro é "muito louco", então eu e ele não nos tornamos grandes amigos, embora eu o admire muito pela construção do romance, assim como pela retratação da cultura brasileira. Já uma amiga minha morreu de rir durante toda a leitura, e eu tenho certeza que muita gente que se dispusse a abrir o livro, ou a  lê-lo sem preconceitos, também apreciaria muito.

E fica aí a citação do livro que eu gostei tanto, que nunca mais esqueci:

"Pouca saúde, muita saúva,
os males do Brasil são."

5 de setembro de 2011

Nó de ratos

Companhia das Letras - Capa: Ettore Bottini
Mais um livro policial da minha lista esse ano, dessa vez do inglês Michal Dibdin que escreve sobre um tal de Comissário Zen, que é italiano. Esse é o 1o livro sobre esse personagem, que é retirado do ostracismo de um cargo burocrático na instuição policial, para o qual tinha sido destinado após pisar em calos poderosos numa investigação. Ele vai para o interior da Itália investigar o sequestro de um chefão industrial, um caso permeado por tramas familiares e politicagem - o que a gente imagina da Itália mesmo da década de 90.

O que eu gostaria de comentar é sobre a que o título alude, uma expressão que eu só vi em outro livro além desse (Firmin, de Sam Savage). Em alguns momentos, a tradução é realmente "Nós de Ratos" em outros "Rataria", mas a expressão literal seria "Rei de Ratos" (o título em inglês é "Ratking" - esse é um link para a wikipedia com uma foto impressionante), originária do alemão "Rattenkonig", e se refere a um conjunto de ratos que ficam presos pela cauda, e sobrevivem assim mesmo. Todos grudados davam a impressão de serem um animal só, com vários corpos, e daí ser o "Rei dos Ratos".  (Pronto, um pouco de cultura geral para todos nós).

Aqui nesse livro, claro, se trata de uma metáfora para toda a trama que deixa o Comissário Zen confuso - aliás, ele parece a maior parte do tempo estar sendo levado pela maré, sem entender nada, até o gran finale. Mas é bem humano mesmo, com conflitos internos e nadinha de super herói ou Sherlock. Vale pela visão "de dentro" da sociedade italiana.

30 de agosto de 2011

Juliet, naked

Riverhead Books - Capa: Claire Nayon Vaccaro

Nick Hornby é um autor inglês cujos livros se encaixariam num categoria "guys lit" em oposição a chick lit. Um dos seus livros mais famosos é High Fidelity, ou Alta-Fidelidade, que também virou um filme, ainda que a ação tenha sido transferida de Londres para os Estados Unidos.

Assim como os outros livros que exploram o universo cultural masculino, esse gira em torno de um artista de rock da década de 80, que depois de um disco fantástico sumiu da vida artítistica, deixando somente uma pequena legião de fãs obcecados tanto por suas músicas como por ele. Na história, um desses fãs ardorosos mantém um relacionamento com uma mulher há 15 anos (algo que nem ele chama de casamento nem namoro), e, numa viagem pelos Estados Unidos para ver pessoalmente cada lugar que remete a episódios da vida do ídolo, ela começa a questionar o seu papel secundário na vida dele. Já de volta para a cidade minúscula em que eles vivem na Inglaterra, eles recebem uma versão "não trabalhada" do último e mais famoso álbum do carinha, que chamava-se "Juliet" - ou seja "Juliet, naked"(Juliet, nua) e as opiniões divergentes tornam-se o gatilho da ruptura - mas quem ia imaginar que o antigo astro em si entraria pessoalmente na vida desses dois?

O livro é bem gostoso e rápido de ler, mas talvez o ponto mais interessante é ele ter sido escrito por um homem, e ser um livro atual, de cultura pop, que não é meloso. Ou seja, tanto para garotas como para garotos...

26 de agosto de 2011

The Chamber

Island Books
Muitos de vocês devem conhecer Jonh Grisham, o maior autor de ficção "jurídica" dos Estados Unidos, se não pelo seus livros, pelo menos pelas várias adaptações para o cinema como A Firma, O Cliente, Dossiê Pelicano e inclusive deste que eu comento agora - "A Câmara" ou "The Chamber".

Não que eu seja especialista na área, e para isso eu tenho as rodantes para me corrigirem, mas todo o sistema judiciário nos EUA parecem muito mais emocionantes que aqui. Julgamento concorridos, escolha de júris, proteção de testemunhas, brigas homéricas, conspirações e a pena de morte. É como se tivesse um caso Nardoni por mês. Se não for essa a diferença, o Jonh Grisham realmente sabe escrever bem sobre o assunto para atrair a atenção de alguém em qualquer lugar do mundo.

Esse livro especificamente é sobre um homem que está no corredor da morte, nas últimas 4 semanas antes da execução da sentença: morte na câmara de gás. O seu crime foi a explosão de uma bomba que matou os gêmeos de cincos anos de um advogado judeu no Mississipi que defendia negros, no auge da disputa racial. Ele é identificado como participante do Ku Klux Klan, um grupo que defendia a total segregação dos negros, muitas vezes atuando violentamente contra seus opositores (ou aquela galerinha que se vestia de branco e tinha aqueles chapéus cônicos esquisitos).

O neto do réu, que descobre quem é o avô, já preso, na adolescência (seu pai tinha mudado de estado e identidade pouco após o crime), resolve fazer direito e tentar salvá-lo, assim aos 15 min da prorrogação - para descobrir mais sobre suas origens, por uma questão de sangue, por uma razão que nem ele mesmo sabe definir.

O livro prende o leitor, seja pelo ritmo ou pelo conteúdo mesmo da narrativa. Passa por temas polêmicos como a questão racial no sul dos Estados Unidos, alcoolismo, a ética da pena de morte, justiça de homens e justiça de Deus, podendo ser um bom ponto de partida para debates sobre esse assuntos - numa mesa de bar com os amigos, nada muito profundo, afinal, se trata de um livro de entretenimento. Não propriamente leve, todavia ainda sim, de entretenimento.

20 de agosto de 2011

Um ônibus do tamanho do mundo

Editora Nova Fronteira - Capa: Ulrik Schramm

Esse livro eu encontrei na casa de um amigo e não resisti pegar para um momento nostálgico da minha infância. Tudo bem, ele não vai sentir falta... Além de estar em Altamira, ele tem bem mais de 20 anos.

Na capa do livro diz "Mais uma comovente história de jovens para os jovens, do mesmo autor de É proibido chorar." Por partes: os jovens aqui são bem jovens - 9 anos, no máximo. A história sobre um ônibus com 20 crianças indo para uma temporada de férias que tem o seu caminho interrompido por uma avalanche e não podem nem ir para frente ou para trás, embora queira trazer conceitos de convivência social típica do mundo dos adultos, não impressionaria os adolescentes de hoje. O autor em questão, o austríaco J.M. Simmel, pode não ser mais conhecido hoje, mas foi muito famoso nas décadas de 50 e 60, escrevendo para adultos também. Tenho certeza que também li o citado É proibido chorar, mas realmente não me lembro de detalhes.

O que eu mais gostei nesse livro foi a simplicidade com que foi escrito, com direitos a comentários do autor: "É um estranho começo para uma história, não acham? Mas a história em si também é estranha e por isso talvez deva ter um começo estranho." Eu acho muito simpático quando o autor se manifesta dessa maneira, numa história em 3a pessoa, parece realmente que ele procura um interlocutor pessoalmente.

Também é interessante por se tratar de outra época, e isso é notado por pequenos detalhes: uma mãe que pede para que leve o carneiro de estimação no ônibus porque alguém da família estará esperando na cidade de chegada, então ir com as crianças seria o mais prático, ou o fato do lanche ser composto por sanduíches, chocolates e ovos cozidos, ou ainda por uma delas ter difteria - uma doença tão rara hoje em dia, com tanta vacinação, que eu mal sabia que os sintomas iniciais parecem de uma gripe muito forte (e só no final do livro que todo mundo que entrou em contato com o garotinho também é vacinado).

Gostei de entrar no túnel do tempo e ter um momento nostalgia com esse livro... E vocês? Quais livros lhe transportam para a sua infância?

17 de agosto de 2011

O último teorema de Fermat

Google

Don't we all love Google's doodles?

Nós simplesmente amamos os doodles!

O Google desenvolveu uma marca tão forte nos últimos anos, que ele se permite eventualmente mudar o logo, para remeter a datas comemorativas e eventos ao redor do mundo, que são chamados de doodles. Pura criatividade online!

O doodle de hoje, 17 de agosto, não foi diferente: celebração do 410o ano do matemático Fermat, com direito a piada interna ao passar o mouse sobre o desenho, quando aparece a frase: "Tenho uma demonstração realmente maravilhosa para esta proposição, mas este doodle é muito pequeno para contê-la". Para entender, vamos ao livro que irei comentar hoje...

Editora Record
Fermat foi um grande matemático do século XVII que desenvolveu muita teoria matemática ensinada em escolas do mundo inteiro até hoje. Depois que ele morreu, no rodapé de um dos seus livros, foi encontrada uma nota sua dizendo que não existe um conjunto de números inteiros x, y e z que satisfaça a equação que está no doodle para n>2 e completou com a frase espertinha: "Encontrei uma demonstração verdadeiramente maravilhosa disto, mas esta margem é estreita demais para contê-la."

Por mais de 350 anos, matemáticos profissionais e amadores procuraram então a demonstração para este que é chamado de último teorema de Fermat, e o livro de Simon Singh é sobre essa busca e quem se envolveu nela. Um romance matemático, por assim dizer. O final é feliz, já que Andrew Wiles demonstrou que isso é verdade em 1994, com uma matemática que nem se sonhava em existir na época de Fermat. Resta a dúvida se ele realmente sabia a tal demonstração maravilhosa ou simplesmente fez uma das maiores pegadinhas do mundo matemático...